É possível que o cenário apresentado em The Last of Us aconteça?  

A professora da Escola de Saúde e Coordenadora do curso de Biomedicina, Mellanie Fontes-Dutra fala sobre a possibilidade

Crédito: Shutterstock

No próximo domingo (13), estreia na Max, a segunda temporada de The Last of Us, série baseada nos jogos de mesmo nome que mostra o que aconteceria se um fungo tomasse os seres humanos como hospedeiros. O que talvez muitos não saibam, é que o fungo Ophiocordyceps unilateralis realmente existe. Será que é possível que o cenário apresentado na obra ocorra na realidade? É o que explica a professora da Escola de Saúde e coordenadora do curso de Biomedicina, Mellanie Fontes-Dutra.  

Segundo a professora, os fungos são capazes de parasitarem principalmente insetos, levando a alterações sobre o sistema nervoso e mudanças comportamentais que permitam uma probabilidade maior de espalhamento de seus esporos, pequenas estruturas fúngicas que podem viabilizar a infecção de novos hospedeiros. “Na série, observamos que há alterações sobre o sistema nervoso e o comportamento dentro desse contexto de ficção, buscando manter um pouco da lógica com o mecanismo patogênico que o fungo exerce sobre os insetos, mas a infecção em humanos é ficção científica, isso não acontece na nossa realidade”, comenta.  

O parasitismo em insetos é propiciado pelas características de seus organismos, bem como as adaptações fúngicas a ele. “Em humanos, por exemplo, um sistema imunológico complexo, somado a nossa temperatura corporal elevada, em torno de 36,5-37ºC, impedem a ação desse fungo com as características que ele tem atualmente. A probabilidade de um parasitismo efetivo desse fungo ocorrer em humanos, gerando um fenômeno nos moldes do que a série retrata, é baixa”, afirma Mellanie.   

No entanto, em seu primeiro episódio, a série traz uma reflexão para questões importantes da atualidade: a crise climática e as temperaturas extremas, que podem propiciar com que fungos se adaptem, cada vez mais, a altas temperaturas, e as infecções fúngicas resistentes ao calor e às medicações que temos hoje.   

“Um exemplo é o que vemos com a Candida auris, que faz parte do seleto grupo de fungos capazes de infectar humanos, causando infecções sérias especialmente naqueles indivíduos com o sistema imunológico debilitado. Esse é um exemplo de fungo que pode trazer riscos à medida que as temperaturas globais aumentam. Outro fungo que é de importância para a saúde pública são os Cryptococcus, os quais podem provocar infecções que acometem o sistema nervoso, especialmente em pessoas com o sistema imunológico debilitado.”, explica a coordenadora.  

Mellanie encerra sua explicação dizendo que, permeando entre ficção científica e realidade, a série chama a atenção para esse reino de organismos complexos, diversos e que fazem parte dos ecossistemas e são relevantes para seus equilíbrios. “Alguns podem ser de importância para nós, e nossa ação sobre o clima e o ambiente pode causar pressões seletivas sobre esses organismos, mudando essas relações com os ecossistemas e, em última análise, conosco. Não precisamos chegar a um cenário como o visto em The Last of Us para ter problemas de saúde pública reais com esses organismos. Pesquisas com fungos, buscando entender sua fisiologia, bem como a pesquisas com novos medicamentos e abordagens para lidar com aqueles fungos capazes de infectar humanos é de suma importância”, tranquiliza. 

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