Dos sabões às velas

Tecnosociais garante avanços à comunidade a partir da criação de produtos ecológicos de higiene

Crédito: Cesar Lopes

Há cerca de dez anos, um grupo de mulheres da Ocupação do Justo, em São Leopoldo, começou a fazer sopas aos sábados para, pelo menos uma vez por semana, as crianças e as pessoas mais vulneráveis da região terem uma alimentação adequada. Da união, surgiu a ideia do grupo ter uma fonte de renda, mas elas ainda não sabiam exatamente como.

Enquanto buscavam se articular, fizeram um curso para aprender a fazer sabão a partir do resíduo de óleo de cozinha. Elas começaram a fabricar e a partir de então muitas vidas foram transformadas. Empoderamento, superação, educação e ciência são alguns dos ingredientes da parceria entre os cursos de graduação da Unisinos e a cooperativa Mundo Mais Limpo.

Célia Severo é assistente social e coordenadora do projeto Tecnosociais, que funciona como uma incubadora de empreendimentos de economia solidária. “Nós vamos acompanhando as iniciativas até que elas tenham vida própria e sigam como um empreendimento econômico solidário ou cooperativa.

Uma equipe multidisciplinar reúne estudantes de vários cursos para dar esse suporte”, explica. As mulheres do projeto Mundo Mais Limpo procuraram ajuda por vários fatores, um deles era equilibrar o pH da composição dos sabões. Há cerca de quatro anos, os estudantes de Farmácia entraram no projeto e fizeram muito mais do que ajustar uma fórmula.

Ensinaram a extrair essências das cascas de frutas, a fazer sabonetes e aprimoraram a confecção do sabão. Ainda, conseguiram algo muito difícil: confeccionar velas a partir dos resíduos de óleo de cozinha.

Crédito: Cesar Lopes

Nesse ponto, a história da estudante Ana Scienza se cruza com a das cooperadas. Aos 36 anos, a aluna passou por três diagnósticos de câncer e ainda hoje é paciente oncológica. “Em 2016, fui diagnosticada com tumor. Eu já tinha passado por um câncer de mama em 2014. Como eu estava em um momento difícil, extremamente sofrido, eu peguei toda aquela dor e transformei em uma coisa boa. Era como se essa fosse a saída para eu conseguir superar o que eu estava passando”, conta.

Para a aluna, a participação em projetos sociais é um aprendizado completo, pois propicia um olhar mais próximo das diferentes realidades. “Boas ideias podem surgir de poucos recursos, basta ter vontade e acreditar no próprio potencial. Depois que a gente começou a elaborar esses produtos, vários litros de óleo de cozinha deixaram de ser jogados no meio ambiente e isso é muito importante”, pontua.

Entre velas e compostos químicos, a futura farmacêutica passou por tratamentos para o câncer e se redescobriu. “Uma das coisas que eu percebi é que eu adoro sentir o vento no cabelo. Eu fiquei totalmente careca por duas vezes. Quando eu sinto o vento no cabelo eu penso: eu consegui, estou viva. Esse trabalho simbolizou isso para mim, fez com que eu descobrisse a minha luz interior”, relembra.

A parceria

O curso de Farmácia teve uma importância muito grande para o projeto. Ele ajudou a fabricar um produto dentro das normas, sem riscos e com poucos recursos. A partir dessa produção, as mulheres se destacaram e passaram a frequentar vários espaços, como feiras e empresas, inclusive, dando palestras. Em certos momentos, as cooperadas vão até o laboratório da Unisinos para ter aulas e começar a elaborar os produtos para a venda. Socialmente esse projeto fez com que essas mulheres assumissem protagonismo.

“Através do Mundo Mais Limpo a gente levou escolaridade para a comunidade. Inicialmente era apenas para as mulheres, mas conseguimos uma parceria com o projeto Educas e ampliamos isso com aulas de reforço escolar para as crianças”, finaliza Célia.

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