Um dicionário futebolístico que não ofereça apenas uma lista de palavras, mas que também as organize conforme os seus contextos de uso, agrupando-as de acordo com as situações nas quais elas aparecem: este foi o principal objetivo do nosso projeto, que se apropriou de uma teoria da linguística para construir um dicionário da linguagem do futebol, denominado Field, a ser disponibilizado online ao público em português, inglês e espanhol.
O dicionário é resultado de um projeto de pesquisa que parte de uma teoria chamada Semântica de Frames, a qual estabelece o conceito de frame como uma determinada estrutura, envolvendo participantes e objetos, que se expressa por meio de um conjunto específico de palavras. No âmbito do dicionário Field, o frame é chamado de cenário e constitui locais, eventos, e instrumentos do jogo – Campo, Chute, Equipamentos –, cada um agrupando as palavras que os referenciam. Dessa forma, se um usuário busca a palavra bicicleta, não terá apenas a sua tradução para inglês ou espanhol, mas também informações sobre o evento correspondente: assim como a palavra bomba ou a expressão chute de letra, ela fará parte do cenário Chute.
Construído com exemplos reais de uso, obtidos através de um vasto conjunto de textos jornalísticos (um milhão de palavras para cada língua), o dicionário Field oferece duas listagens diferentes: uma de cenários e outra de palavras e expressões. Ao consultar um termo, o usuário tem acesso à sua tradução e ao cenário correspondente, além de exemplos, informações adicionais e referências cruzadas. Ao consultar um cenário, é exibida a respectiva descrição e uma ilustração, além de hiperlinks para os termos e expressões correspondentes.
O projeto é desenvolvido pelo grupo de pesquisa SemanTec, da Unisinos, e coordenado pela professora Rove Chishman. O Field foi lançado para a Copa 2014. Para a Copa 2018, em sua recém lançada segunda edição, o dicionário apresenta uma nova organização de cenários, novas definições e revisão da lista de palavras. A equipe é formada por doutores, doutorandos, mestrandos e graduandos; também conta com parceiros e colaboradores das áreas de informática, tradução, design e teoria do futebol. Vale destacar que o projeto já viabilizou a realização de teses e dissertações, assim como de trabalhos de conclusão de curso, todos voltados à construção do dicionário.
Buscando adaptar uma teoria linguística para oferecer uma ferramenta acessível ao público geral, o projeto do dicionário Field enfrentou os desafios de se trabalhar com as múltiplas facetas da linguagem do futebol. Segundo a pesquisadora, trata-se de um domínio peculiar, repleto de expressões coloquiais e figuras de linguagem – como zona do agrião, dar um chapéu ou cama de gato – devido à sua forte relação com a cultura popular. Assim, o domínio do futebol, que representa uma das grandes paixões do Brasil, traz muito da cultura do país e torna-se um campo muito rico para estudos linguísticos.
Além do Field, o grupo também desenvolveu o Dicionário Olímpico, lançado em 2016, e, para 2019, pretende publicar o Dicionário Paraolímpico.