A cultura digital, entendida como a produção cultural de uma sociedade digitalmente conectada, ou organizada em rede e em torno de um mundo virtual, e articulada a partir dessa sociedade, já estava constituída e integrada à rotina da vida contemporânea, se estabelecendo gradualmente como parte de primeira necessidade às próprias práticas culturais, a partir da popularização da Internet na segunda metade da última década do século passado. O caráter de naturalidade com o qual essa posição se reforça e é aceita minimiza, por um lado, os efeitos decorrentes da urgência de transformação despertada pela pandemia da Covid-19 e o necessário isolamento imposto aos agentes dessa sociedade, mas, por outro lado, acentua o desequilíbrio no acesso e inclusão de parte dessa sociedade à essa cultura já tão presente, muito além dos desafios de infraestrutura tecnológica, mas no próprio entendimento das possibilidades advindas dessa realidade, antes latente e agora necessária e, em muitos termos, imposta.
Essa posição dicotômica da cultura digital, necessária e plenamente integrada à sociedade atual, ainda que não universal e, então, fator de exclusão, se torna o maior desafio num momento de intensificação da massificação das tecnologias digitais, principalmente em processos educativos onde a mediação tecnológica se torna a principal ferramenta pedagógica, com o uso intensificado dos recursos digitais existentes, em detrimento à educação presencial. Essa preocupação justifica a presença da cultura digital entre as dez competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação básica e o objetivo da universalização do acesso e o domínio de conceitos digitais, a partir da incorporação do ensino-aprendizagem da tecnologia e dos recursos digitais ao currículo escolar.
Devido à urgência provocada por ocasião da pandemia, a Unisinos, embasada na experiência de cultura digital desenvolvida previamente, adequou todo o seu projeto didático-pedagógico em apenas três dias, partindo de um modelo predominantemente presencial para outro, quase totalmente virtual. Se, antes, os recursos digitais representavam acessórios à aula basicamente analógica, agora se tornavam permanentes e efetivos, sendo incorporados de forma ética e qualificada (foco e cuidado primordial da proposta), visando produção de conhecimento e aprendizado colaborativo.
Do mesmo modo, ações desenvolvidas ou mantidas pela Universidade junto à comunidade necessitaram alterações, como os projetos Vida com Arte e PróMaior, que se reinventaram com utilização de recursos digitais, como vídeos, tutoriais, aplicativos de mensagens e redes sociais, para manter e otimizar o impacto de cada proposta. Outros, tiveram sua continuidade garantida a partir da divulgação digital por mídias sociais ou desenvolvimento de soluções de acesso, como o Tecnosociais que assessora o Mundo Mais Limpo, cooperativa que desenvolve produtos de limpeza ecológicos, e o Comitê Solidariedade da Unisinos, que visa arrecadação de valores para compra e distribuição de alimentos às famílias em situação de vulnerabilidade. Em outro sentido, ainda, o Projeto de Apoio às Famílias em Situação de Superendividamento, em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, prestou atendimentos virtuais, como resposta ao crescimento do número de famílias em situação de vulnerabilidade econômica e social.
A partir das premissas que norteiam a missão da Universidade, a Unisinos assume papel de protagonismo no enfrentamento dos desafios provocados pela pandemia, tanto no seu campo primário de atuação, a educação por toda vida, quanto na promoção da dignidade humana na sociedade onde se insere, entendendo as demandas e os impactos sofridos, e adequando sua forma de atuação a fim de explorar todo seu potencial de agente formador e transformador.
Este artigo foi escrito em meados de 2021, referente ao Balanço Social 2020.