Para Alessio Battistella, a arquitetura é muito mais do que sua profissão. É uma missão social. E seu trabalho é desenvolver projetos que façam a diferença para comunidades que sofrem com os mais variados tipos de problemas. Por meio de pesquisas, a cooperativa ARCò, da qual é presidente e membro fundador, identifica os problemas das comunidades nas quais vão atuar e qual é a melhor solução para elas, sempre respeitando o meio ambiente.
Para ele, mais do que projetar, é preciso entender que a arquitetura sustentável se faz através da convergência entre técnica, interação e entendimento social dos locais onde serão desenvolvidos os projetos, gestão de recursos naturais e fontes renováveis de energia para uma manutenção cuidadosa do ciclo de vida da construção. Confira a entrevista com o arquiteto que é um dos palestrantes do TEDxUnisinos 2014:
Quais são os tipos de problemas mais recorrentes encontrados pela Arcò e quais são os mais desafiadores?
Alessio: Os problemas que nós encontramos são naturalmente variados e diferente de um local para outro. Dependendo das comunidades nas quais intervimos, poderia haver problemas sociais devido às dificuldades de comunicação com as comunidades locais e os sistemas de hierarquia que são diferentes do que as que conhecemos.
Podem ser problemas práticos relacionados a questões especificamente técnicas que precisam ser resolvidas sem meios materiais e fora do orçamento. Todos os problemas que nós encontramos são desafiadores.
Que tipos de impactos seus projetos causam nas regiões onde são desenvolvidos?
Alessio: Até agora eles sempre tiveram impactos positivos, em termos construtivos e, também, em termos de identidade das comunidades que constroem por si mesmos os nossos projetos. Essas comunidades ainda desfrutam de uma melhor qualidade de vida por meio do conforto ambiental oferecido pelas novas edificações.
Como a estética se alinha à funcionalidade dos projetos?
Alessio: Essa é uma questão muito importante para mim, o design precisa conter sua funcionalidade e, ainda assim, detém um papel muito maior como uma força simbólica nas comunidades onde atua. Nós construímos em áreas desoladas, fazendo isso com a atenção certa para o design, é essencial dar à arquitetura a função social que, de minha parte, é uma obrigação.
Estética, entretanto, é outro assunto. Estética não é sinônimo de beleza, como muitos sugeririam intuitivamente, mas um processo que leva a uma consciência por meio da experiência, ao contrário de um pensamento científico que as teorias mostram. Para mim, experimentar um lugar, viver um lugar, todo o processo que leva a realização de uma arquitetura é fundamental.
Em que momento da sua vida você percebeu que era isso que você queria fazer?
Alessio: Na verdade, imediatamente, desde que eu era estudante, imaginava a arquitetura como uma disciplina que tem um forte conteúdo social. Com o tempo eu desenvolvi a consciência de ter que respeitar o seu ambiente e, aqui estou eu, fazendo o que faço.
Qual foi a tua inspiração para buscar esse tipo de trabalho?
Alessio: Há várias inspirações, mas eu citaria um arquiteto italiano, Giuseppe Pagano: “Para sentir a arquitetura como uma missão social é necessário ultrapassar o estilo decorativo e penetrar a substância das tradições, usar a violência contra a vaidade, e considerar o problema de estilo contemporâneo como uma questão de conteúdo”. Cito também um livro de sociologia americana, “The Craftsman”, de Richard Sennett.