Construir a identidade negra

Formação Docente contou com oficina ministrada pelo Coletivo Oluchi Turbantes

Foto: Roberto Caloni

Sob o tema Resistência, resiliência e reconciliação através dos turbantes, o Coletivo Oluchi Turbantes ministrou a oficina Representação da cultura negra na Unisinos, na tarde de quarta-feira, 20 de janeiro. O evento integrou a programação da Formação Docente 2016/1, que, este ano, aprofunda a discussão sobre as relações etnicorraciais e assume o compromisso proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) em relação à Década Internacional dos Afrodescendentes: o de reforçar a cooperação para o pleno aproveitamento dos direitos de pessoas afrodescendentes.

Foto: Roberto Caloni

Representando o coletivo em uma universidade pela primeira vez, as integrantes Vanessa Silva e Priscila Pereira falaram sobre o uso do turbante como forma de construir a identidade negra de forma positiva, o que, segundo elas, é um longo processo e passa também pela questão do corpo, da estética.

A dupla deu início à oficina lembrando que o turbante, também conhecido como pano de cabeça, surgiu enquanto indumentária sagrada, usada em homenagem aos orixás. Mais do que identificar as diferentes culturas africanas, o tecido representa, igualmente, um movimento de resistência e aceitação. “Tocar a cabeça de uma pessoa é uma grande responsabilidade”, disse Vanessa.

Foto: Roberto Caloni

Para além do respeito à tradição e à ancestralidade, o turbante é uma forma recuperação da autoestima da mulher que poucas vezes se percebe representada na sociedade. “Se a pessoa negra não se vê bem na mídia, na escola, que ideia vai ter dela mesma?”, questionou Priscila.

De acordo com ela, há dois processos envolvidos na construção da identidade negra. O primeiro é o de autoaceitação, o reconhecer-se negro. O segundo, o de afirmar-se socialmente, combatendo o preconceito que atua de diferentes formas. “Infelizmente, o que nos une é o racismo”, concluiu Priscila a respeito dos grupos de pessoas que militam pelos direitos dos afrodescendentes.

A figura do professor, nesse sentido, é fundamental para promover práticas igualitárias, sejam quais forem as cores da pele ou os fios do cabelo de seus alunos. Para as jovens do coletivo, o docente é responsável por criar referenciais positivos, comprometer-se com o diálogo e desconstruir o universo pejorativo associado à descendência africana. “Na escola, o negro é o escravizado”, disseram elas. “Acabou o período da escravidão, acabou o estudo sobre o negro.”

Foto: Roberto Caloni

Empoderamento

“Eu vejo o racismo como uma escala degradê: quanto mais preta a pessoa, mais ela sofre.” A fala de Vanessa aplica-se não apenas a ela, mas a tantas pessoas que, apesar de viverem em um país de maioria negra, ainda são tratadas como minoria.

O Coletivo Oluchi Turbantes – oluchi quer dizer a arte de Deus – está aí para contornar essa situação. Ao adotar o turbante como meio de reconciliação com a estética, o grupo aposta no empoderamento como estratégia política, que supera a beleza e vai além nas questões que dizem respeito à autoafirmação e ao reconhecimento.

O professor de Enfermagem Geferson Fioravanti Junior aprova o método. Para ele, que acompanhou a oficina, a temática trazida pelas representantes do grupo é de relevância universitária e deve ser discutida em sala de aula. A pedagoga Suzana Pacheco, do Núcleo de Formação Docente, concorda. “Gostei de ver duas jovens com tanto conhecimento para socializar”, comentou. “Elas fazem as pessoas negras sentirem-se bem com suas identidades, em um lugar simétrico, e falam de representação de forma tão positiva que inspiram.”

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