A história de vida de Lino Schaefer está ligada à história da Unisinos. Desde o princípio, o caminho do motorista, de 65 anos, esteve entrelaçado com a construção da universidade. Ex-jesuíta, seu Lino deixou a vida religiosa no início da década de 80 para casar e constituir família, mas antes disso ajudou a erguer o imponente campus da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo.

No ano de 1967, o descendente de alemães veio do noroeste de Santa Catarina para estudar e fazer o noviciado, já que tinha a intenção de integrar a Companhia de Jesus como Irmão. Alguns anos depois, participou da construção das obras que deram início ao que a Unisinos é hoje. Uma olaria foi construída para a produção dos tijolos, que formariam os prédios da universidade. “Os primeiros prédios construídos foram os cinco da entrada, chamados de básico na época. A parte administrativa, naquele tempo, funcionava no centro da cidade”, lembrou Lino.

Hoje, ao andar pelos corredores da Unisinos, seu Lino pode dizer que faz parte dessa história, que ajudou a edificar esse espaço de conhecimento. Para ele, as coisas foram mudando ao longo dos anos, mas sempre para progredir. “Eu nunca vejo o campus como finalizado, sempre tem coisas para fazer, vejo ele andando, se aperfeiçoando, sempre para melhor”, afirmou.

”Quando eu cheguei aqui não tinha nada. Não tinha nem a estrada para chegar, era tudo eucalipto.”

Lino Schaefer, motorista da Unisinos

Conte um pouco da sua história com a Companhia de Jesus e com a Unisinos

Lino Schaefer: Na Companhia eu cheguei em 1967, no antigo colégio Cristo Rei, hoje CECREI. Aí fiquei dois anos ali e fui para o noviciado em Porto Alegre, onde hoje funciona o campus da Unisinos. Nessa época, fui colega do padre Marcelo (nosso reitor), que também fazia noviciado. Então, ele foi destinado para estudar e eu fui trabalhar, porque tinha optado por ser Irmão e Irmão não estudava naquela época. Ele tinha optado por ser padre, mas o noviciado era igual. Vivi 13 anos como Irmão, escolhi esse caminho porque gostava mais de trabalhar do  que de estudar. Não fiz os votos definitivos, mas fiquei sempre vinculado à Unisinos, e eu tinha um irmão jesuíta também. Eu fui destinado para cá, em 1971, porque já estava decidido que a Unisinos ia ser construída. Fazer tijolos e cortar o mato era a nossa função.

O senhor participou da construção do campus São Leopoldo. Como eram as coisas naquele tempo?

Lino Schaefer: Quando eu cheguei aqui não tinha nada. Não tinha nem a estrada para chegar, era tudo eucalipto. Nós retiramos as árvores que eram necessárias retirar, preservamos o que deu para preservar e replantamos muitas. Foi feita uma fábrica de tijolos para construção do campus, com um forno que cabia 25 mil tijolos a cada remessa, numa barra contínua que cortava quatro tijolos por vez. A chaminé tinha 25 metros de altura. Também foi construída uma serraria, que precisava de quatro homens para realizar o trabalho de serrar. Eu também ajudei a replantar as árvores no campus. Essa árvore ali fui (apontou para o lado) eu que plantei. Trouxe duas figueiras para cá, uma entreguei para o jardineiro e a outra eu mesmo plantei. Fiz uma cerquinha, cuidei, reguei. Essa já está há dez anos ali.

O que significa para o senhor fazer parte da história da Unisinos?

Lino Schaefer: Para mim é uma honra e eu sinto muito quando penso que um dia vou ter que deixar de trabalhar aqui. Não sei como é que vai ser, porque a minha vida foi toda aqui. Já estou aposentado, mas continuo trabalhando. O padre Marcelo disse que, enquanto ele for o reitor, nesse mandato, posso continuar colaborando, pela parceria antiga ele quer que eu continue. E eu gosto de trabalhar aqui, até nas férias a gente fica meio assim… e nos últimos dias quer voltar para cá. Eu não sei como vai ser, mas um dia eu tenho que parar.

Como a Unisinos está ligada a sua vida e a vida dos seus filhos? Como é essa relação?

Lino Schaefer: Eu consegui formar meus dois filhos porque eu trabalhava aqui. Meu filho mais velho é formado em Educação Física, licenciatura e bacharelado. Foi o primeiro aluno da Unisinos a se formar nas duas graduações. Minha filha mais nova se formou em Enfermagem, fez mestrado em Saúde Coletiva, ganhou bolsa e está fazendo doutorado na cidade do Porto, em Portugal.

”E eu gosto de trabalhar aqui, até nas férias a gente fica meio assim… e nos últimos dias quer voltar para cá.”

Lino Schaefer, motorista da Unisinos

Durante os 25 anos que o senhor foi motorista aqui na Unisinos, algum passageiro marcou especialmente essas idas e vindas?

Lino Schaefer: Sim. Ao longo desses anos, eu trouxe o Ministro do Supremo Tribunal Federal, a irmã do Airton Senna, Viviane Senna, entre outras pessoas de destaque. Um fato que me marcou foi uma vez que eu estava levando três casais alemães para Porto Alegre, e tinha uma intérprete junto. Era uma van grande. Eu precisava levar eles em dois endereços: no Margs e no hotel. Quando chegamos na entrada de Porto Alegre o trânsito estava parado, chovia muito, e eu perguntei em alemão onde eles queriam ir primeiro. Aí um professor levantou bateu nas minhas costas e disse: – Agora nós vamos ter que conversar. A minha pronúncia de alemão era igual a dele, do norte da Alemanha. Tiramos fotos e tudo. Ele dizia “no Brasil, achei um que fala igual a nós”. Eu achei muito bonito aquilo, muito bacana, dentro do trânsito, foi uma das coisas mais interessantes que me aconteceu. Ele disse que na Alemanha não tem mais esse dialeto, está desparecendo e eles estão querendo vir para o Brasil para procurar resgatar as “conversas originais” deles. Aí ele queria saber tudo da minha família e não acreditava que eu já era a quarta geração no Brasil. Esse ano vou com a minha filha conhecer a Alemanha, voltar às origens. Está tudo programado para setembro.

Por toda essa história de trabalho e dedicação à Unisinos, seu Lino foi convidado a gravar um vídeo de boas-vindas aos estudantes. Confira as dicas sobre o campus e a universidade: