Conferência Neabi 2019

Feminismo Negro, Interseccionalidade e Racismo Institucional foram os temas debatidos pelos palestrantes durante o evento

Crédito: Rodrigo W. Blum

A noite dessa terça-feira, 22/10, foi dedicada à reflexão e ao debate, a partir da conferência organizada pelo Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas – Neabi Unisinos. O evento aconteceu no Auditório Sérgio Concli Gomes e teve como palestrantes o professor Pe. José Ivo Follmann, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – PPGCS, a professora Adevanir Pinheiro, coordenadora do Neabi e as acadêmicas Camila Botelho, doutoranda do PPGCS e Susane Souza, mestranda do PPGCS.

A abertura do evento ficou por conta do grupo Nossas Raízes Afro, da cidade Portão, que fez uma apresentação cultural de dança. Em seguida, o reitor, Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, fez a saudação inicial. “O que o Neabi está fazendo é uma ação bem concreta para tentar superar a desigualdade no Brasil. A escravidão trouxe um recalque das identidades e o Neabi é uma possibilidade na construção da igualdade e do desrecalque cultural”, afirmou.

Crédito: Rodrigo W. Blum

O reitor falou ainda que o conhecimento transita por vários caminhos e vai consolidando nossas convicções. “Nós temos uma dívida com quem viveu a desagregação que o fardo da escravidão traz. Na nossa universidade nós temos que combater o racismo e o machismo. Há muitas maneiras de amar, posicionar-se contra o racismo e o machismo é uma forma de amar”, enfatizou.

Crédito: Rodrigo W. Blum

A mesa do evento foi coordenada pelo professor e integrante do Neabi, Jorge Teixeira. “Essa conferência já é tradicional no segundo semestre, para lembrar a memória de Zumbi dos Palmares, mas o dia da consciência negra para o Neabi e para Unisinos é o ano inteiro”, destacou.

Racismo Institucional no Brasil

“No Brasil, o conceito de racismo institucional é diferente de outros países como os Estados Unisinos. O Brasil foi treinado nesse modelo de desigualdade”, ressaltou o professor Pe. José Ivo Follmann, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais.

O pesquisador falou também da política de branqueamento das instituições e lembrou da construção histórica do continente e do país. “A América Latina poderia ser diferente se os colonizadores que aqui chegaram tivessem reconhecido a população que aqui vivia como seres humanos. O Brasil seria outro se em 1888 os ex-escravos tivessem sido incorporados ao mercado de trabalho com políticas afirmativas”, reforçou.

Crédito: Rodrigo W. Blum

O palestrante explicou que o racismo institucional é uma reprodução do racismo estrutural da sociedade. “As instituições não se dão conta que a sua função seria justamente desmontar o racismo da sociedade e acabam acobertando racismos individuais e de grupos que se escondem dentro dessa cultura”, afirmou.

Feminismo negro

Três pesquisadoras defenderam o tema: a professora Adevanir Pinheiro, coordenadora do Neabi e as acadêmicas Camila Botelho, doutoranda do PPGCS e Susane Souza, mestranda do PPGCS.

A professora Adevanir iniciou sua exposição sobre feminismo negro apresentando as autoras que trabalham o tema e falando da desigualdade dentro da academia. “A cegueira da brancura não enxerga essa exclusão. Hoje, nas universidades, não sabemos quem está falando por nós”, afirmou.

A pesquisadora lembrou da importância da luta das mulheres quilombolas e escravizadas, como Dandara e Anastácia. “Ainda hoje somos silenciadas por máscaras como Anastácia. A mulher negra está no último lugar da pirâmide social”, afirmou.

Crédito: Rodrigo W. Blum

Adevanir lembrou das feministas negras brasileiras como Lélia Gonzales, que lutou para colocar as mulheres negras em “pé de igualdade” com a população não negra. “A mulher negra não é só ativista, é também intelectual. É preciso que o branco saia da sua zona de conforto e reconheça seus privilégios”, apontou a palestrante.

A doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Camila Botelho trabalha com mulheres negras se descolonializando e com a invisibilidade da mulher negra. A estudante falou da perspectiva de descolonizar o feminismo a partir do feminismo indiano e de autoras da Índia, que estão discutindo como é mulher é vista pelo ocidente. “O ponto central é a gente se descolonizar. Somos mulheres que fomos colonizada, como fazer para pensarmos fora dessa visão?”, questionou.

Crédito: Rodrigo W. Blum

A mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Susane Souza estuda as mulheres negras imigrantes haitianas, sua inserção nas políticas públicas e no mercado de trabalho e falou sobre interseccionalidades. “As interseccionalidades determinam o acesso das mulheres negras às políticas públicas e nos impulsionam a olhar para as diferenças de classe e raça e como as necessidades são diferentes dentro de cada raça. A mulher negra não consegue acessar os mesmos lugares que a mulher branca. A cor da pele direciona o território em que estão inseridas”, finalizou.

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