A noite dessa terça-feira, 22/10, foi dedicada à reflexão e ao debate, a partir da conferência organizada pelo Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas – Neabi Unisinos. O evento aconteceu no Auditório Sérgio Concli Gomes e teve como palestrantes o professor Pe. José Ivo Follmann, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – PPGCS, a professora Adevanir Pinheiro, coordenadora do Neabi e as acadêmicas Camila Botelho, doutoranda do PPGCS e Susane Souza, mestranda do PPGCS.
A abertura do evento ficou por conta do grupo Nossas Raízes Afro, da cidade Portão, que fez uma apresentação cultural de dança. Em seguida, o reitor, Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, fez a saudação inicial. “O que o Neabi está fazendo é uma ação bem concreta para tentar superar a desigualdade no Brasil. A escravidão trouxe um recalque das identidades e o Neabi é uma possibilidade na construção da igualdade e do desrecalque cultural”, afirmou.
O reitor falou ainda que o conhecimento transita por vários caminhos e vai consolidando nossas convicções. “Nós temos uma dívida com quem viveu a desagregação que o fardo da escravidão traz. Na nossa universidade nós temos que combater o racismo e o machismo. Há muitas maneiras de amar, posicionar-se contra o racismo e o machismo é uma forma de amar”, enfatizou.
A mesa do evento foi coordenada pelo professor e integrante do Neabi, Jorge Teixeira. “Essa conferência já é tradicional no segundo semestre, para lembrar a memória de Zumbi dos Palmares, mas o dia da consciência negra para o Neabi e para Unisinos é o ano inteiro”, destacou.
Racismo Institucional no Brasil
“No Brasil, o conceito de racismo institucional é diferente de outros países como os Estados Unisinos. O Brasil foi treinado nesse modelo de desigualdade”, ressaltou o professor Pe. José Ivo Follmann, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais.
O pesquisador falou também da política de branqueamento das instituições e lembrou da construção histórica do continente e do país. “A América Latina poderia ser diferente se os colonizadores que aqui chegaram tivessem reconhecido a população que aqui vivia como seres humanos. O Brasil seria outro se em 1888 os ex-escravos tivessem sido incorporados ao mercado de trabalho com políticas afirmativas”, reforçou.
O palestrante explicou que o racismo institucional é uma reprodução do racismo estrutural da sociedade. “As instituições não se dão conta que a sua função seria justamente desmontar o racismo da sociedade e acabam acobertando racismos individuais e de grupos que se escondem dentro dessa cultura”, afirmou.
Feminismo negro
Três pesquisadoras defenderam o tema: a professora Adevanir Pinheiro, coordenadora do Neabi e as acadêmicas Camila Botelho, doutoranda do PPGCS e Susane Souza, mestranda do PPGCS.
A professora Adevanir iniciou sua exposição sobre feminismo negro apresentando as autoras que trabalham o tema e falando da desigualdade dentro da academia. “A cegueira da brancura não enxerga essa exclusão. Hoje, nas universidades, não sabemos quem está falando por nós”, afirmou.
A pesquisadora lembrou da importância da luta das mulheres quilombolas e escravizadas, como Dandara e Anastácia. “Ainda hoje somos silenciadas por máscaras como Anastácia. A mulher negra está no último lugar da pirâmide social”, afirmou.
Adevanir lembrou das feministas negras brasileiras como Lélia Gonzales, que lutou para colocar as mulheres negras em “pé de igualdade” com a população não negra. “A mulher negra não é só ativista, é também intelectual. É preciso que o branco saia da sua zona de conforto e reconheça seus privilégios”, apontou a palestrante.
A doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Camila Botelho trabalha com mulheres negras se descolonializando e com a invisibilidade da mulher negra. A estudante falou da perspectiva de descolonizar o feminismo a partir do feminismo indiano e de autoras da Índia, que estão discutindo como é mulher é vista pelo ocidente. “O ponto central é a gente se descolonizar. Somos mulheres que fomos colonizada, como fazer para pensarmos fora dessa visão?”, questionou.
A mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Susane Souza estuda as mulheres negras imigrantes haitianas, sua inserção nas políticas públicas e no mercado de trabalho e falou sobre interseccionalidades. “As interseccionalidades determinam o acesso das mulheres negras às políticas públicas e nos impulsionam a olhar para as diferenças de classe e raça e como as necessidades são diferentes dentro de cada raça. A mulher negra não consegue acessar os mesmos lugares que a mulher branca. A cor da pele direciona o território em que estão inseridas”, finalizou.