Aprendizagens que conectam. É com esse lema que, por mais um ano, o colegiado da Unisinos se reúne para discutir a educação superior na instituição de ensino. Recheado com workshops e oficinas, o encontro propicia aos professores um momento de união e compartilhamento de vivências em sala de aula. É o momento, também, de os professores trocarem de lugar com os alunos e vivenciarem as diferenças, interagindo com profissionais de diversas áreas.
O encontro, que no primeiro semestre de 2019 acontece na Torre Educacional da Unisinos Porto Alegre é dividido em três momentos. Na noite de abertura, no dia 15, práticas já desenvolvidas em salas de aula por diferentes cursos serviram de inspiração para os professores. No dia 16, o momento é de oficinas, de pensar os processos criativos. No dia 17, para finalizar, o dia será reservado para debates e planejamento de práticas interdisciplinares para o semestre que se inicia.
“Que formato de interação em sala de aula é necessário, que tipos de trabalhos os alunos vão desenvolver para que possam interagir mais entre eles? Não só interagir para realizar uma tarefa, mas para se conhecerem mesmo”, lança o desafio a professora Cristiane Schnack, que integra o Núcleo de Formação Docente, responsável pelo desenvolvimento das capacitações.
Práticas que inspiram
Na noite que abriu os trabalhos da capacitação docente, três projetos da Unisinos foram apresentados para os professores de forma que fossem aproveitados para inspirar outras práticas em sala de aula. A universidade se propõe, há algum tempo, a trabalhar com formas de incentivar os alunos a assumirem o protagonismo social. Desta vez, a comunidade docente tomou conhecimento de alguns projetos desenvolvidos em sala de aula e foi desafiada a levar esta motivação para futuros processos de ensino e aprendizagem.
Dentre os projetos apresentados, algumas coisas em comum: o protagonismo social, a aproximação com o mercado de trabalho e a vivência profissional. Quatro cursos de três escolas distintas, mostrando que é possível inovar desde a engenharia até a moda. Parcerias com empresas de confecção, instituições voluntárias e músicos imigrantes, geraram ideias que podem e devem ser aproveitadas para que as práticas docentes deste ano que se inicia possam ser renovadas.
Trazer os projetos para o conhecimento dos professores presentes na capacitação docente é desafiá-los a pensar em propostas que sejam capazes de conectar alunos com professores, alunos com alunos e alunos com a comunidade e o mercado de trabalho. “A ideia é que eles saiam de lá refletindo em como fazer aquilo dentro de suas salas de aula”, explica Cristiane Schnack. Por isso a proposta foi a de mostrar para os presentes o resultado prático das interações entre professores, alunos, universidade e comunidade.
Conexão direta com o mercado
Direto do curso de Moda, a inspiração veio de uma prática que conecta, literalmente, os estudantes ao mercado de trabalho. Através de um workshop desenvolvido em parceria com a Loja TOK, os estudantes se mobilizaram durante uma semana para dar vida a um briefing: produzir uma coleção de dez peças com o tema Pampa Gaúcho.
Com a projeto, as equipes de alunos puderam colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante as disciplinas. As coordenadoras Juliana Bortholuzzi e Luciana Borges Soares contaram com a ajuda de uma estudante e da diretora de Criação da TOK, Ana Paula Aragones, para apresentar o projeto que demonstrou que é possível, a partir de parcerias externas, proporcionar aos estudantes uma vivência profissional – e também prêmios convidativos aos participantes, que segundo Juliana, geraram um clima de engajamento maior e proporcionaram um ambiente descontraído de criação.
Nesta última edição do workshop, a equipe vencedora teve cinco de suas dez peças escolhidas pela TOK para serem produzidas e estarão na próxima coleção da loja. Além disso, os integrantes que conquistaram o primeiro lugar participaram de um processo seletivo para uma vaga de estágio na empresa. “É a conexão entre os alunos e o mercado de trabalho de forma prática e não simulada”, comemora Juliana.
Trabalho social engajado
Do lado oposto da moda, uma prática desenvolvida no curso de Engenharia Elétrica é a prova de que a capacitação docente gera frutos. Na edição anterior, em 2018, os professores foram desafiados a pensar em possibilidades de conectar a comunidade em torno da universidade aos alunos. Mas como fazer isso em um curso de engenharia?
A resposta veio através da demanda trazida por um estudante e realizada em parceria com a CAPES – Centro de Atenção Psicossocial, a partir do relato da dificuldade de inclusão no mercado de trabalho dos pacientes que recebiam tratamento para dependência em álcool e drogas.
Dando seguimento ao projeto, o professor Rodrigo Marques de Figueiredo decidiu aceitar o desafio e, com os alunos e outros professores do curso de engenharia elétrica, tornaram-se instrutores de práticas de instalação elétrica. Ao fim do semestre, em uma singela formatura, foram entregues 20 diplomas à pacientes do CAPES que agora são capacitados a fazer pequenos reparos. Para Figueiredo, o trabalho realizado em seis encontros agregou grande aprendizado aos estudantes do curso, que perceberam a possibilidade de fazer a diferença com pouco, oferecendo o conhecimento que adquiriram durante a graduação para mudar vidas.
Foi necessário para a realização das aulas a busca de parcerias que doaram ferramentas específicas para o projeto. Além do trabalho social realizado, o professor explica que o ganho para os futuros engenheiros foi o de aprender a trabalhar com a diferença. “Eles estão acostumados com termos técnicos e nas obras eles irão trabalhar com diversos profissionais, com linguagens diferentes”, explica Figueiredo. Agora a ideia é aperfeiçoar o molde da oficina e continuar com a formação de novos profissionais.
Multiplicadores de ações
Mostrando que a inovação pode acontecer mesmo em cursos à distância, a coordenadora do curso de Ciências Contábeis, Charline Pires, apresentou o projeto desenvolvido com os estudantes EAD no segundo semestre de 2018. Pensando em desmistificar a ideia de que o profissional formado em Ciências Contábeis fica preso a burocracias, tributos e normas, o objetivo era conectar os estudantes com a possibilidade de atuar no 3º setor, ou seja, em instituições sociais e voluntariado.
Desenvolvida com alunos do 3º e 4º semestre, a atividade envolveu instituições de cunho social, visando demonstrar aos envolvidos as possibilidades fora do mundo corporativo. Para isso, um desafio foi lançado: como utilizar a contabilidade no 3º setor? O primeiro passo foi a imersão em uma instituição. O primeiro parceiro foi o Instituto Renato Borghetti de Cultura e Música. Recepcionados pelo próprio músico, os estudantes puderam ouvir a importância do trabalho do contador para a busca de recursos.
Depois foi a vez de colocar a mão na massa. A turma, dividida em dois grupos, buscou instituições sociais para trabalhar. A Associação Beneficente Santa Zita de Lucca e a APAE de Barra do Ribeiro foram estudadas pelos estudantes, que procuraram conhecer a realidade das instituições, suas informações contábeis e a busca de possíveis soluções para os problemas relatados.
Foi então que o trabalho árduo começou, as análises apresentaram resultados que deveriam ser retornados as duas instituições. Por meio do trabalho constatou-se que as duas instituições poderiam receber valores provenientes do Funcriança - abastecido com doações através da declaração do Imposto de Renda. Também, viu-se que cerca de 420 milhões de reais poderiam ter sido destinados para instituições cadastradas no Fundo da Criança e Adolescente, mas somente 5% deste valor era, de fato, repassado.
“É importante que o aluno, enquanto profissional, entenda seu papel e seja multiplicador destas informações”, declara Charline. Ela fala ainda sobre o processo de devolução à comunidade, dada através de uma campanha pensada por uma das equipes, visando a conscientização da população e dos profissionais contábeis para destinar seu Imposto de Renda para o Funcriança. No caso da APAE de Barra do Ribeiro, a ação foi a criação de um documento que instruía a prefeitura municipal a entrar no programa de repasses.
Música para os ouvidos
Para finalizar a noite com chave de ouro no quesito inspiração, Alix Georges, músico haitiano, subiu ao palco do Teatro Unisinos para mostrar que visibilidade faz diferença na vida de quem está reconstruindo sua trajetória em outro território. O projeto Imigrantes trouxe à tona grandes talentos e foi uma parceria de sucesso entre os músicos haitianos e nigerianos, professores mentores e estudantes do curso de Produção Fonográfica.
“Além de talentosos artistas, eles se tornaram embaixadores de seus países mostrando sua cultura através da linguagem universal da música”, falou o professor Charles di Pinto. Imigrantes resultou em um CD lançado em 14 de dezembro no Teatro Unisinos. Alix Georges foi um dos músicos que participaram do projeto, que acabou servindo como plataforma para impulsionar talentos.
O projeto proporcionou aos alunos de Produção Fonográfica a possibilidade de vivenciar o mercado de trabalho de forma ativa, colocando em prática os aprendizados adquiridos ao longo da formação. Além do lado profissional, foi possível criar um olhar mais humano e empático em relação à população que chega ao Brasil como imigrante ou refugiada, materializando também a diversidade de entregas que a Universidade pode oferecer a toda comunidade.