Comunicação para crianças

Jornalismo infantil ganha espaço no mercado e nos debates acadêmicos

Crédito: Rodrigo W. Blum

Quem disse que as crianças não são consumidoras de produtos de comunicação? Thais Furtado, jornalista, professora, coordenadora do curso de Jornalismo da Unisinos Porto Alegre e da Agexcom (Agência Experimental de Comunicação da Unisinos), afirma que sim. Mais do que isso, ela estuda o jornalismo para o público infantil produzido no Brasil e o seu consumo. Os desdobramentos deste estudo serão partilhados por ela no TEDxUnisinos deste ano. Adiantamos, aqui, um pouco do que será apresentado no talk. Confira!

Como os veículos de comunicação tradicionais têm olhado o público infantil?

Thais: As crianças são um público estratégico para os veículos de comunicação. Hoje, as crianças são consideradas um público consumidor, ao contrário do que acontecia antigamente. Elas ajudam na decisão de compra de suas famílias, têm opinião própria sobre o que querem consumir e são os consumidores do futuro. Portanto, para a publicidade, elas já são alvo há muito tempo. Os principais jornais do País têm cadernos, ou seções, direcionadas para as crianças. Fazer Jornalismo Infantil, no entanto, não é nada fácil. É preciso decidir que pautas devem ser exploradas, que linguagem utilizar e que fontes consultar. O que se tem feito, atualmente, é uma mistura de discursos. Ao mesmo tempo em que os jornais trazem algumas notícias, oferecem também um discurso didático, um discurso científico, um discurso de entretenimento – com as brincadeiras – e até um discurso publicitário, estimulando o consumo.

“Deve-se cuidar muito para não tratar as crianças como mini-adultos, o que gera problemas de toda ordem, principalmente psicológicos.”

Thais Furtado, palestrante do TEDxUnisinos 2014

Qual a abertura do mercado para esse público, cada vez mais precoce? 

Thais: Como já disse, é enorme. Obviamente não é mais só o mercado de brinquedos que está aberto às crianças. Há, por exemplo, todo um mercado de roupas e de alimentos direcionado fortemente às crianças. Deve-se cuidar muito para não tratar as crianças como mini-adultos, o que gera problemas de toda ordem, principalmente psicológicos.

Os acadêmicos de Jornalismo são preparados para atender esse público?

Thais: Teoricamente, os acadêmicos do jornalismo devem se preparar para se direcionar para qualquer público. Entretanto, raramente se pratica o Jornalismo Infantil nas universidades. Até porque é preciso haver muita discussão ainda sobre como fazer essa produção. Mas percebo, especificamente no curso de Jornalismo da Unisinos, um aumento forte de alunos que estão querendo desenvolver seus TCCs sobre esse tema. Isso não era nem cogitado no passado e hoje já tenho muitos orientandos que discutem o tema.

Quais eram tuas aspirações quando ingressou no Jornalismo e o que fez surgir o interesse pelo jornalismo infantil?

Thais: Ingressei no Jornalismo em 1983. Naquela época o Jornalismo Infantil era bastante lúdico e não era tema de debate. O que eu desejava era fazer grandes reportagens sobre temas variados. Acho que o meu interesse pelo tema do Jornalismo Infantil surgiu por questões bem pessoais. Como tenho dois filhos, pude acompanhar a relação dos dois com a mídia e com o Jornalismo, especificamente durante seu crescimento. A televisão e a Internet fazem parte da rotina de qualquer criança e sempre valorizei muito a leitura. Tanto que posso dizer que meus dois filhos são leitores. Mas eu comecei a perceber que o estímulo ao consumo não estava sendo provocado somente pela publicidade. Comecei a achar que o Jornalismo também estava estimulando as crianças a comprar – brinquedos, jogos, roupas, enfim, os mais variados produtos. E resolvi investigar como isso estava acontecendo.

Qual a importância do consumo infantil de notícias para a sua formação enquanto cidadão?

Thais: Acredito que a informação é fundamental para que se saiba o que acontece no mundo. Entretanto, ainda acho que falta muita discussão sobre como informar as crianças, sobre o que elas devem saber e como. Além disso, precisamos saber o que deve ser informado pelos jornalistas, pela mídia em geral, pelos pais ou pela escola. Essas são as relações básicas de uma criança hoje e não se discute quem deve informar o que e de que modo.

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