Realizada em um formato interativo, na última segunda-feira, 4, a audiência pública da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados discutiu os impactos da crise global de semicondutores no Brasil. Segundo o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), que propôs a realização da audiência, a crise dos chips semicondutores atingiu diferentes setores da indústria em todo o mundo. “Desde eletrodomésticos, até automóveis, passando pelos consoles, diversas empresas precisaram alterar os esquemas ou até paralisar suas linhas de produção por conta da escassez do componente”, afirma.
Uma das convidadas para palestrar na audiência, a diretora de Inovação da Unisinos e Ceo do Tecnosinos, Susana Kakuta, ressaltou que a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) mostrou que a indústria de semicondutores precisa ter gente qualificada e um mercado competitivo. “Essa é uma indústria que está crescendo no mundo inteiro, impulsionada pelo efeito da pandemia. Há uma necessidade no desenvolvimento do Brasil, que precisa modernizar os setores tradicionais da nossa economia. Mesmo quando se fala no agronegócio, não falamos mais de como era antigamente”.
O Brasil, que possui um mercado estimado em US$ 4,5 bi, patina na consolidação de uma indústria com impacto global. Susana entende que a modernização da saúde no Brasil, por exemplo, passa pelo embarque de tecnologias da área de semicondutores, além do fomento ao empreendedorismo e startups, fundamentais para a economia do futuro. “Temos competência estratégica para desenhar, encapsular e testar chips no país”, avalia.
No Tecnosinos, através de uma parceria brasileira coreana, emergiu a maior fábrica de encapsulamento e testes de semicondutores da América Latina. Na HT Micron, foi desenvolvido o primeiro SIP para a Internet da Coisas, nacional, que está presente em 25 países. Susana destaca que o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis) tem sido o grande instrumento para fazer essa indústria acontecer. “Para nós, no RS, termos uma empresa como a HT gerou coisas importantes. Temos uma startup que trabalha com sensores para uso eficiente para água no setor agrícola. Outra que faz biosensores com uso de grafeno para teste rápido de coagulação de sangue. É tecnologia que só é possível com uma indústria nacional forte. Isso não é uma escolha, é imprescindível para o posicionamento geopolítico do Brasil no futuro”.
Moreira considera fundamental ter uma política nacional de apoio à indústria de semicondutores. “Essa é uma indústria estratégica no mundo e não podemos desistir de participar como produtores, porém, estamos prestes a ter o vencimento da política pública que incentiva o surgimento e expansão da indústria nacional de semicondutores”, lamenta. O fim do Padis, segundo o deputado, afetará sobremaneira esse setor no Brasil. “A prorrogação depende de nova legislação, que precisa ser sancionada ainda neste ano”, alerta.