Uma atividade para falar de educação e pensar os rumos do ensino, assim é o Café Conecta, que reúne, anualmente, educadores de escolas públicas e privadas do Vale do Sinos e da capital. O evento já tem tradição, e fortalece a parceria entre a Unisinos e os colégios da região.
Nessa edição, o Café Conecta de Porto Alegre trouxe como temática central, “Conversas da gestão educacional com o Ensino Médio: construindo formas de melhorar o cotidiano escolar”. O encontro foi conduzido pela professora Ana Cristina Ghisleni, coordenadora do Mestrado Profissional em Gestão Educacional. O objetivo foi abordar o currículo multirreferencial e as tecnologias digitais na escola.
Já no Café Conecta de São Leopoldo, o assunto em foco foi “O acolhimento como agenda pedagógica pós-pandemia”. A atividade foi liderada pelo professor Rodrigo Manoel Dias da Silva, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação. A oficina serviu como espaço de sensibilização e diálogo sobre as experiências escolares de acolhimento pós-pandemia.
Tecnologias digitais no mundo da educação
A primeira palestrante da manhã, do dia 13/7, do Café Conecta de Porto Alegre, foi a professora Eliane Soares Silva. Egressa do Mestrado Profissional em Gestão Educacional da Unisinos, ela é coordenadora da 22ª CRE, que contempla 75 escolas de ensino Fundamental, Médio e Profissional. Eliane contou, em sua apresentação, como foi sua pesquisa de mestrado e trouxe dados da sua vivência nas escolas. “Entrei, em 2004, no Núcleo de Tecnologia, quando os computadores estavam chegando nas escolas, mas ainda não tínhamos internet. Hoje, a cada dia, vemos um avanço a mais nesse “boom” de tecnologia”, afirmou.
A pesquisadora falou do cenário das tecnologias digitais no mundo da educação e lembrou das frustrações de professores, que ela identificou em sua dissertação. “Os professores se capacitavam, mas quando retornavam às escolas não podiam fazer uso das tecnologias. A partir desses relatos, surgiu o curso para gestores, para que eles pudessem se engajar no projeto e liberar o acesso das tecnologias para os professores”, lembrou. Segundo Eliane, com esse trabalho, foi possível perceber uma mudança muito grande nas escolas e, com a pandemia, professores e gestores capacitados pelo Núcleo de Tecnologia puderam enfrentar esse momento com menos dificuldades.
Pesquisa em educação: teorizando a prática
A segunda conferência do Café Conecta de Porto Alegre foi conduzida pela professora Ana Paula Marques Pereira, egressa do Mestrado Profissional em Gestão Educacional da Unisinos e diretora de uma escola jesuíta de Salvador. A pesquisadora trouxe dados sobre os currículos multirreferenciais. “Quando fiz meu mestrado profissional, em 2018, comecei a me perguntar o que compõe um currículo multirreferencial? Aí eu fiz uma bricolagem, uma composição do que os autores diziam, compondo um produto autoral sobre o tema, onde encontrei seis categorias de análise”, contou.
Entre as categorias encontradas pela professora estavam a historicidade dos currículos e o multi e intraculturalismo. “Todo esse meu estudo passou a ser um referencial para o colégio. É um documento de identidade que se atualiza a todo momento”, explicou. Segundo Ana Paula, a partir desse referencial, os professores se sentiram mais respaldados e com ele, poderão olhar para esse novo ensino médio de forma mais crítica. “Temos que pensar até que ponto ele quer contribuir para a democratização, para podermos pensar rotas de fuga, para fazer cumprir a lei, mas ressignificar para que faça sentido para os nossos estudantes”, finalizou.
Acolhimento como agenda pedagógica pós-pandemia
A conferência do Café Conecta de São Leopoldo, no dia 20/7, ficou por conta do professor Rodrigo Manoel Dias da Silva. O pesquisador trouxe em sua fala o acolhimento de estudantes estrangeiros, a partir de um projeto que participa, e destacou o papel da escola como espaço de acolhimento para comunidade em geral. “Se a escola não tivesse todas as tarefas que tem e apenas acolhesse, já teria uma importância fundamental na sociedade, porque só conseguimos desenvolver outras tarefas se primeiro acolhemos”, afirmou.
Rodrigo trouxe o livro da autora portuguesa Djalmira Pereira de Almeida, A visão das plantas, para falar do acolhimento e da importância de focar só o momento presente na hora de acolher. Após um breve resumo da obra, o professor enfatizou: “Só há acolhimento se não houver julgamento prévio”.
Ainda durante sua conferência, ele falou de imagens da educação em um mundo em metamorfose, em constante transformação. “Acolher e educar nunca foi fácil, imagina num mundo, como o que vivemos hoje, que nos deixa sem palavras”, apontou. Segundo Rodrigo, hoje vivemos a confusão do presente, por isso temos mais dificuldade de lidar com algumas situações. “A pandemia nos traz o ensinamento que todos nós estamos suscetíveis às questões do mundo. A pandemia foi para todos, as questões climáticas são para todos, a crise democrática abala a todos. As questões globais nos afetam globalmente”, reforçou.
O professor ainda apresentou conceitos como a digitalização da vida e a emergência das redes sociais, falou de intolerância e de controle, e lembrou que esses conceitos convivem juntos. Por fim, encerrou sua apresentação questionando: “Que mundo é esse? É possível acolher? A educação de hoje é a mesma de quando éramos alunos?”. Na sequência, convidou os educadores para participarem de uma atividade prática para pensar a educação.
Diferentes percepções sobre o acolhimento
Após ouvirem a palestra, os educadores que participaram do Café Conecta de São Leopoldo, foram convidados a se reunir em pequenos grupos para debater a temática do acolhimento. A questão norteadora da atividade foi: “Quais fatores favorecem e desfavorecem para a construção de escolas acolhedoras?”
Os grupos, em suas apresentações, trouxeram pontos importantes para reforçar o acolhimento, como empatia, escuta, respeito às diferenças, cuidado com o outro, trabalho em equipe e o uso de tecnologias. Também mapearam os fatores que desfavorecem o acolhimento, como a falta de tempo, o preconceito, a falta de diálogo, a sobrecarga de ansiedade entre alunos e professores, e o fato de muitos terem a “escola do passado” como referência nostálgica, dificultando novas práticas pedagógicas. A partir das falas dos grupos, Rodrigo finalizou: “Ainda dá para mudar. Nossas práticas não estão tão erradas para abandonarmos tudo o que temos, nem tão certas que não precisaremos melhorar”.
Depoimentos dos educadores
“Gratidão por esse momento de partilha de práticas educacionais nesse cenário pós-pandemia, quando a gente reflete sobre essa retomada e percebe que todos estamos tendo os mesmos problemas, estamos todos no mesmo barco”. Magaly Soria Buss, Orientadora Educacional do Colégio de Ensino Médio Rainha do Brasil – Café Conecta de Porto Alegre.
“A gente estava esse tempo todo longe, agora, estamos retomando. É bom ouvir o relato de outras educadoras para a gente ver que existem dificuldades que são comuns. Aqui, a gente busca luzes e novos horizontes”. Norma Conci, Orientadora Educacional do Colégio de Ensino Médio Rainha do Brasil – Café Conecta de Porto Alegre.
“A troca de experiências é muito importante. Por isso, poder dividir essa questão socioemocional do aluno com outros educadores e falar sobre como a gente vai continuar esse processo de educação com foco no acolhimento, nesse mundo em rápida evolução, é essencial”. Fernanda Hartmann, Orientadora Educacional do Instituto São José de Montenegro – Café Conecta de São Leopoldo.
“Falar desse tema do acolhimento foi muito importante nesse período pós-pandemia, que exige das escolas, sobretudo das escolas públicas, um cuidado especial para o atendimento desse tipo de demanda. Isso acontece em função das consequências desse período de afastamento social, que nos devolve um aluno diferente do que o que recebíamos antes da pandemia”. Eloyr Raul Schneider, Diretor da Escola Estadual de Ensino Médio Polisinos – Café Conecta de São Leopoldo.