A entrega dos projetos realizados durante o semestre foi feita no último sábado de novembro, e ocorreu na própria comunidade Renascer, localizada no bairro Vicentina, em São Leopoldo. O projeto extensionista está ligado à Rede Solidária São Léo, e foi composto pelos alunos das Engenharias, Arquitetura e Urbanismo, Gestão para Inovação e Liderança (GIL) e da Escola de Saúde. Dentre os professores, estavam Adriane Brill Thum, do curso de Arquitetura e Urbanismo; Marcelo Arioli Heck, professor do GIL e da Arquitetura e Urbanismo; e o professor de Medicina de Família e Comunidade Tiago Sigal Linhares.
Exercitando a escuta
Essa atividade de extensão é uma continuidade do trabalho que vinha sendo articulado pela professora Isamara Alegrete, e que se iniciou durante a pandemia de covid-19 em 2020, em parceria com Rede Solidária São Leo, organização que atua em territórios existencialistas de várias comunidades do município.
A partir dos dados levantados através do projeto de mapeamento cartográfico liderado pela professora Adriane Thum, e a escuta das demandas apontadas pelos moradores nas primeiras visitas realizadas ao local, os estudantes foram divididos por área de conhecimento para desenvolver os projetos.
“Durante a pandemia, quando a gente desenvolveu a cartografia social que foi um projeto de vários cursos da Universidade nos territórios de comunidades vulneráveis, a gente identificou algumas demandas. As principais questões que apareceram foram as de saneamento básico, espaço de lazer, a questão da alimentação e os banheiros”, aponta Adriane.
Neste semestre, os alunos de Engenharia Agronômica, Ambiental e Civil, junto aos de Arquitetura e Urbanismo, ficaram responsáveis pela parte do levantamento, construção e o plantio da horta comunitária no pátio da comunidade. Buscando a sustentabilidade e prezando pela alimentação alimentar, o projeto da horta foi pensado muito na questão ambiental, por isso o grupo utilizou materiais recicláveis, como por exemplo, embalagens de plástico.
Adriane conta que uma das melhores partes do processo foi ter trabalhado com as crianças. “Foi muito legal porque eu tive a ideia de plantar umas florzinhas, aí quando eu vi que eles tinham topado, eu comprei as mudas de flor e levei umas mudinhas de casa também, e a gente plantou junto com as crianças.”
Já os alunos do segundo semestre do GIL, orientados pelo professor Marcelo Arioli Heck, ficaram com as tarefas de pavimentar a calçada em frente ao galpão comunitário, arrumar o espaço da brinquedoteca e pintar as paredes internas do galpão e dos banheiros.
“Foi pintado uma parede toda de preto em que as crianças podem riscar com giz. Também adquirimos um tapete com o alfabeto, além de alguns brinquedos e jogos, para tornar o local mais divertido e acolhedor”, destaca Marcelo.
A pavimentação da calçada em frente ao galpão foi feita com bloquinhos de concreto para evitar alagamentos e possibilitar que as crianças brinquem e façam as suas atividades de maneira mais confortável, estimulando a convivência e promovendo a cidadania.
A Escola de Saúde foi representada por quatro alunas voluntárias de Medicina, uma residente da disciplina de Medicina de Família e Comunidade, e uma técnica de enfermagem. Orientadas pelo professor Tiago Linhares, elas ficaram responsáveis por fazer a coleta de exames e a conversa com a comunidade para gerar uma escuta mais ativa. Com isso, o grupo atendeu mais de 30 residentes da comunidade no sábado, 25 de novembro.
O professor Tiago conta que a ideia era facilitar o acesso à saúde, que, por muitas vezes, é barrado a essas pessoas por não conseguir atendimento ou por falta de profissionais ou por distância até o posto de saúde. O grupo também recebeu o apoio da coordenação da Secretaria da Saúde de São Leopoldo, com medicamentos e um posto de farmácia. “Conseguimos colocar a farmácia municipal lá, então as pessoas eram atendidas, recebiam as medicações na hora, já poderiam renovar as receitas e pegar as medicações na farmácia. Também fizemos alguns pequenos procedimentos no local e, por fim, fizemos atividades de educação em saúde, medidas de vigilância e prevenção de agrados e doenças”, relata o professor.
Um trabalho colaborativo
Segundo o professor Marcelo, o evento do dia 25 foi voltado para a entrega e a apresentação dos projetos pelos estudantes, tanto deste semestre quanto do primeiro, pois não haviam feito um dia de apresentações no semestre anterior. O evento ocorreu em frente ao espaço comunitário e contou com a presença de membros da prefeitura de São Leopoldo, de representantes da Secretaria da Saúde, do empresário Marcos Uber, que contribuiu com doações de materiais, além da presença dos moradores da comunidade.
A aluna de Arquitetura e Urbanismo Eduarda Michelon apresentou o projeto que fez em dupla com a colega Cibele Kunzler em semestres anteriores na disciplina de Projeto Arquitetônico VI – Habitação de Interesse Social e Sustentável, acompanhadas das professoras Débora Becker e Patrícia Nerbas. Ela relata que o projeto foi pensado a partir da compreensão de que a arquitetura, além de proporcionar moradias dignas, também pode contribuir e incentivar o sentimento de comunidade, ao mesmo tempo que contribui com soluções de sustentabilidade ambiental e social.
“A proposta foi transformar a Renascer em uma comunidade produtiva, que pudesse completar o ciclo do alimento, desde o cultivo até o consumo e compostagem, de maneira local, transformando isso em uma fonte de geração de renda”, destaca Eduarda.
O líder da comunidade, Adroildo Gonçalves, enfatizou que esse trabalho solidário, feito pelos professores e alunos, é muito importante para os moradores, mas também para os estudantes, para verem a realidade das pessoas da periferia. Ele também ressaltou o quanto a atividade extensionista vem contribuindo para a comunidade.
“A gente tem conseguido com a Unisinos (alunos e professores) melhorar muito, mas muito mesmo a nossa comunidade, e graças a Deus os moradores têm aceitado bem e estão muito felizes com essas ações”, disse. “Só temos a agradecer, principalmente a profe Adriana, que tá sempre buscando outros professores de outras áreas para participarem”, disse Adroildo.
A experiência de ser voluntário
O professor Marcelo destaca que a extensão universitária pressupõe essa troca entre a instituição externa e os estudantes, e que os professores fazem justamente essa mediação e aproximação. “Nós somos os agentes centrais que constrói o elo. O nosso foco tá nas instituições e comunidades externas e no protagonismo dos estudantes.”
Com isso, o estudante Leandro Henke Pereira, do curso de Engenharia Agronômica, diz que a experiência da atividade extensionista proporciona um momento que permite não só o desenvolvimento profissional, mas também a interação entre quem está disposto a fazer a diferença e quem precisa de auxílio.
Para Leandro, a principal marca que ficou foi a relação deles com as crianças. “Tudo aquilo foi projetado para elas, digo isso principalmente olhando para a minha área de estudo, pois o contato delas com a horta cria caminhos de construção. Ao manusear a terra, a criança aprende sobre como se obtém os alimentos e a importância de cuidar, mas também aprende sobre responsabilidades, paciência, cuidado e amor”, relata.
Já Lucas Henrique Dellagustin, de Arquitetura e Urbanismo, fala que foi muito gratificante participar da atividade. “Foi emocionante conhecer a realidade do pessoal que mora lá e poder ter ajudado a melhorar um pouco o espaço em que eles moram, e, assim, espero continuar ajudando sempre que possível”.