Na última semana de novembro, o curso de Jornalismo teve a oportunidade de comemorar e reconhecer os seus alunos por suas excelentes contribuições no campo do jornalismo investigativo. Dois grupos de estudantes se destacaram ao receberem prêmios na categoria universitária por reportagens produzidas nas aulas de Jornalismo Investigativo, com supervisão da professora Luciana Kraemer.
Os trabalhos premiados destacaram-se não apenas pela qualidade das produções e investigações, mas também pela profundidade com que abordaram questões de relevância social, política e, principalmente, de gênero. A cadeira de Jornalismo Investigativo está presente no currículo do curso há 12 anos e a Unisinos é uma das poucas universidades do país, a ter esta disciplina no currículo.
Violência obstétrica no RS
Anna Gabryela Magueta, Fernanda Romão, Paulo Albano e Sofia Gulart, foram premiados na terceira edição do Prêmio Themis de Jornalismo, promovido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS). A série de reportagens sobre violência obstétrica dividida em duas matérias, “Pelotas tem a primeira condenação por violência obstétrica do RS” e “Violência obstétrica com dano irreversível em Passo Fundo”, desenvolvidas no segundo semestre de 2023, na cadeira de Jornalismo Investigativo, ganharam o primeiro lugar na categoria “Universitária”.
Anna Gabryela, uma das premiadas, explica que a ideia da matéria surgiu a partir de um tema proposto pela colega Sofia Gulart. “Estávamos pensando em algo relacionado a procedimentos médicos, e a ideia do tema caiu quase como uma luva. Sabíamos que poderia ser um bom tema de reportagem”, relembra.
Por se tratar de uma temática delicada, o processo não foi fácil, tiveram muitas negativas e algumas alegrias. Os alunos tiveram alguns desafios, entre eles a dúvida de saber se estavam fazendo boas escolhas, além de trazer fontes com conhecimento e as falas das vítimas.
Elas entraram em contato com Conselhos (de Enfermagem), universidades e sites de pesquisa de dados. “Acredito que o processo para um assunto assim, demanda muito de nós, mas sempre vale à pena. E valeu.”
Para Paulo, um dos maiores desafios enfrentados foi, além de encontrar as vítimas, saber como tratar do assunto com elas, “por ser um homem entrevistando e querer fazê-las falarem, mas ao mesmo tempo sem ser indelicado e insensível. Ou seja, precisei ter um cuidado maior na hora de formular as perguntas”.
Ele também ressalta a importância do apoio da professora Luciana e a relevância dela para o trabalho jornalístico. “Fiz questão de agradecê-la no meu discurso durante a premiação, pois o trabalho não sairia sem o direcionamento dela”, comenta ele.
O trabalho minucioso se transformou em uma reportagem com histórias impactantes, trazendo à tona questões cruciais sobre os direitos das mulheres e as falhas do sistema de saúde.
“Nosso pensamento, creio que em muitos momentos foi ‘será que vai dar certo?’ e ao passar do tempo, do avanço do nosso trabalho era visível a importância dessa matéria ser proposta, estudada, escrita e publicada. É um tema fundamental para conhecimento de todos”, finaliza Anna.
A dupla condenação de mulheres encarceradas
As alunas Amanda Bormida, Eduarda Ferreira, Giulia Godoy, Paola De Bettio e Yasmim Borges, de Jornalismo Investigativo, também tiveram seu trabalho premiado. Elas ganharam o primeiro lugar da 10ª edição do Prêmio Adpergs de Jornalismo e o terceiro lugar do 5º Prêmio Mosca, ambos na categoria “Universitária”, com a reportagem “A mulher encarcerada é condenada duas vezes, pela justiça e ao abandono”.
Eduarda Ferreira e Paola De Bettio compartilharam suas experiências, ressaltando os desafios enfrentados na busca por informações, a complexidade de temas delicados e a importância de contar histórias que humanizem as questões investigadas.
Paola De Bettio, uma das integrantes do grupo composto inteiramente por mulheres, ressaltou a busca por pautas alinhadas às suas convicções, mencionando a orientação da professora Luciana Kraemer para investigar o número de visitas íntimas em um presídio feminino. “Ela sugeriu uma matéria que investigasse o número de visitas íntimas em um presídio feminino, nós adoramos o tema e foi aí que nossa pauta começou a surgir”, relata Paola.
Iniciaram a pesquisa reunindo dados e contatos de instituições que poderiam auxiliar, mas logo enfrentaram obstáculos: descobriram a inexistência de dados oficiais sobre o tema, a dificuldade em obter informações precisas e a lentidão de algumas fontes em responder.
Segundo Eduarda lidar com informações antigas e incompletas as levou a buscar informações atualizadas por meio de pedidos de Lei de Acesso à Informação à SUSEPE, destacando a necessidade de dados precisos para embasar reportagens investigativas.
“Encontramos muitos dados antigos e incompletos, então tivemos que entrar com um pedido de lei de acesso à informação da SUSEPE, pois queríamos estes dados referentes ao presidio de Guaíba.”
Paola também destacou a complexidade logística também enfrentada pela equipe ao organizar uma visita à Penitenciária de Guaíba, destacando a dificuldade de locomoção até o local. “Achávamos que só dados e interesse não bastariam; precisávamos de histórias que humanizassem o que queríamos contar e mostrar”, pontua Paola, enfatizando a importância das visitas ao presídio no desenvolvimento do conteúdo da reportagem.
Para o grupo, o fato de serem premiadas provou que elas conseguiram atingir o seu principal objetivo: escrever uma boa reportagem com informações e dados relevantes, e principalmente, chamar a atenção para este assunto.
“Nós nos inscrevemos nos prêmios para fazer com que a nossa reportagem fosse lida pelo maior número de pessoas possíveis, para que assim mais gente conheça essa realidade”, ressaltou Eduarda, destacando a importância dos prêmios como meio de difundir as realidades investigadas para um público mais amplo.
A Importância do Jornalismo Investigativo
O reconhecimento dessas reportagens por premiações relevantes reforça a importância do jornalismo investigativo e amplia a visibilidade de questões muitas vezes marginalizadas. Os prêmios não apenas destacam o talento desses alunos, mas também incentivam a produção de reportagens que humanizam e trazem à tona realidades complexas.
A professora Luciana Kraemer ressaltou a importância do jornalismo investigativo para amplificar vozes e abordar questões que frequentemente são negligenciadas pela mídia tradicional. Ela enfatizou o compromisso da disciplina em não apenas ensinar técnicas de apuração, mas também em encorajar os alunos a irem a campo, confrontar questões invisibilizadas e trazer à luz problemas sociais relevantes. “A gente trabalha com essa perspectiva de apuração que envolve dados e ética, mas também envolve muito trabalho de campo.”
A coordenadora do curso, Débora Lapa Gadret, compartilhou sua alegria com o reconhecimento das reportagens, destacando a qualidade do trabalho dos graduandos e a orientação precisa da professora Luciana Kraemer. Ela ainda cita a parceria com o Jornal ExtraClasse, que qualifica o processo e amplia o impacto das reportagens.
Debora também comenta sobre as duas reportagens tratarem de questões de gênero e das violências sofridas pelas mulheres na sociedade brasileira. “Isso mostra o olhar humanizado dos alunos de jornalismo da Unisinos sobre as questões contemporâneas, que são estruturais”, finaliza.
Esses prêmios não apenas reconhecem o esforço e a dedicação dos alunos, mas também fortalecem a posição do jornalismo como um pilar essencial na sociedade. As reportagens premiadas não só demonstram a habilidade acadêmica dos estudantes, mas também ilustram o impacto significativo que o jornalismo bem fundamentado pode ter na conscientização de mudanças sociais.