Pode até parecer estranho, mas, para os brasileiros que se interessam em fazer uma carreira no mercado cinematográfico internacional, a porta de entrada são, ao invés do cinema, as produções independentes para a televisão nacional. Afinal, não são só os longa metragens que são alvo dos olhares da maior indústria de cinema do mundo. “Hollywood está sempre atenta aos mercados mais periféricos das produções audiovisuais, em busca de novas ideias”, afirma Milton do Prado, coordenador do curso de Realização Audiovisual da Unisinos.
Em tempos de um cinema baseado em franquias de longa duração, adaptações de obras literárias e histórias em quadrinhos, e spin-offs (quando personagens coadjuvantes ganham um filme exclusivo para contar sua história), o mercado busca novos talentos que tragam novidades para as telonas. De acordo com Milton, esse movimento não é novidade em Hollywood. “O cinema americano foi quem transformou a produção de filmes em uma indústria, ao lançar franquias onde nem sempre o produto principal é o longa. A primeira trilogia de Guerra nas Estrelas (Star Wars) é um bom exemplo disso”.
“ Hollywood precisa de novidades e está em busca de novos Fernandos Meirelles e Josés Padilha.”
Milton do Prado, coordenador do curso de Realização Audiovisual
O professor explica que com esse tipo de produções nasceu o gênero Block Buster, filmes voltados para um público mais adolescente e que devem ter uma bilheteria gigantesca já na primeira semana de exibição. Com o passar dos anos, esse gênero ganhou um tratamento diferenciado das produtoras, que estão investindo cada vez mais em um marketing de lançamento para os filmes. Antes mesmo da estreia da película, já são veiculados cartazes, teasers (vídeos enigmáticos utilizados para aguçar a curiosidade e aumentar a atenção do público) e até mesmo brinquedos e acessórios do filme, para aí, então, entrarem em cena os trailers.
Para Milton, é com esse tipo de investimento em mídia que o cinema nacional não consegue competir. O cinema brasileiro, apesar das produções de grande qualidade, ainda está preso às salas de exibição, não pensando tanto nas campanhas de divulgação das obras. “Isso ocorre por um problema econômico das produtoras brasileiras, que não têm orçamento grande para as produções, quem dirá para a divulgação”.
Mas quando o cenário é a televisão, o mercado muda completamente no Brasil. De acordo com o professor, o investimento em produções televisivas alcança grandes quantias no mercado nacional. “E esse mercado, que antes era dominado pelas grandes emissoras, está em transformação. Hoje, os grandes grupos televisivos estão interessados também nas produções independentes, que estão crescendo em número e qualidade. E é nessas produções para a TV que a grande indústria cinematográfica está prestando atenção”, afirma Milton. A transformação segue os moldes do mercado americanos, há tempo repleto de produtoras independentes.
Para o professor, quem está começando no ramo da produção audiovisual, a dica é buscar estágios, e até mesmo empregos, nas produtoras independentes, seja qual for sua área de interesse: direção, montagem, roteiro. “Para chamar a atenção de Hollywood, além de ter talento, o produtor audiovisual precisa estar atento para uma característica do mercado internacional: lá os filmes são vistos como produtos. Por isso, é preciso se desprender do conceito de cinema arte e pensar mais no grande mercado consumidor”. O grande filão da indústria brasileira, nesses moldes, são as séries para a televisão, que contam com grandes produções e grande divulgação. Milton diz que Hollywood precisa de novidades e está em busca de novos Fernandos Meirelles e Josés Padilha.