Inglês como a base de tudo

Professora do Unilínguas, Sandra Borchardt acredita que aprender inglês é o primeiro passo para ganhar o mundo

Crédito: Divulgação

Sandra Borchardt tem amigos de diversas partes do mundo. As amizades são resultado de suas viagens. Espanha, França, Alemanha, Israel e Egito são alguns dos países pelos quais a professora de inglês do Unilínguas já passou. Para ela, conhecer culturas diferentes é o que há de mais interessante em morar fora do Brasil: “Você passa a ver as coisas de uma forma muito mais abrangente”.

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De tantas localidades, um país é como uma segunda casa para a brasileira: a Irlanda. Lá, Sandra viveu cinco anos quase sem falar português. “Não é bom ficar fechado na comunidade brasileira, isso impede uma relação mais aberta com o mundo”, destaca. Relação que veio, segundo ela, graças ao inglês. “Foi ele que me deu o mundo”, conta. “Dar aula não é só ensinar a língua, é também tentar levar o aluno para este novo universo.” Para Sandra, o melhor em morar na Europa é a facilidade de visitar outros países do continente

“Não é bom ficar fechado na comunidade brasileira, isso impede uma relação mais aberta com o mundo”

Sandra Borchardt, professora do Unilínguas

O que mais representa a Irlanda em sua opinião?

Sandra – O que representa a Irlanda, mais do que qualquer outra coisa, é a Guinness. A cerveja faz parte da cultura dos irlandeses. Além disso, é a maior empresa local. O orgulho da terra é a Guinness bem servida. Para quem gosta de cerveja forte, ela é boa, mas não é um tipo de cerveja com a qual eu estou acostumada.

O país também é muito representado pelo verde, pela natureza – é conhecido como “Ilha Esmeralda”. A Irlanda é muito parecida com o interior do Rio Grande do Sul: tem muito campo, muito verde. Também é muito deserta; andam-se duas, três horas de carro e não se vê nada além de uma ovelhinha ou uma vaquinha.

Qual é a melhor coisa em morar na Europa?

Sandra – Sou uma apaixonada pela Europa. Morar lá abre muitos caminhos em termos culturais. A Irlanda é um país muito pequenininho, não chega a quatro milhões de habitantes, sendo que 50% da população está em Dublin; então o resto do país é quase vazio. A Irlanda tem uma cultura muito rica e bonita, mas o melhor mesmo é a facilidade de ir para outros lugares. Voando 40 minutos, você está em Londres, uma hora e pouquinho está na Espanha e duas horas, na Itália. Então, é tudo muito perto. Aqui no Brasil voa-se muito e se está sempre no Brasil, porque o país é grande.

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Além disso, em cada lugar que você vai, a cultura é outra. Se nas regiões do Brasil a cultura já é diferente, imagina entre países, que têm língua e história distintas. Isso é o que tem de mais gratificante em morar na Europa. Eu gosto muito de história, e acho legal visitar lugares sobre os quais já estudei. Fui à Jerusalém e ao Egito, por exemplo. Também li muito sobre a Segunda Guerra Mundial, então fui à Auschwitz, na Polônia. Se você está no continente europeu, faz tudo de trem. Acho melhor viajar de trem, porque é mais tranquilo, dá para ver paisagens maravilhosas e você não vai se estressar dirigindo ou se perdendo, porque não sabe ler uma placa em alemão, por exemplo.

Por que você decidiu morar na Europa?

Sandra – Eu fiz Comércio Exterior na Unisinos, tinha vinte e poucos anos na época. Terminei a faculdade com o inglês “mal na parada”. Eu tinha um emprego no qual ganhava muito bem, mas que detestava. Então pensei “vou ter que dar uma virada na minha vida”. Aí larguei tudo e fui para a Europa. Fui para ficar três meses, mas acabei ficando dois anos, porque adoro a Inglaterra também. Foi quando descobri que gosto da Europa.

Depois, eu voltei para o Brasil, mas nas férias eu ficava três meses na Europa passeando. Em 2000, fui aceita para fazer mestrado na University of Westminster na Inglaterra. Para saber o resultado da bolsa, ia demorar mais um ano. Na época, tinham mudado a situação de vistos para a Inglaterra, estava bem complicado. Então eu decidi ir para a Irlanda, que é um país que eu já conhecia e achava uma gracinha. Se eu ganhasse a bolsa para o mestrado, iria para Londres. Senão, descobriria o que queria fazer. Em suma, fiquei lá, mas recebi uma cartinha dizendo que não havia sido selecionada para a bolsa. Eu não tinha como ir para a Inglaterra, pagar o mestrado e me sustentar sem trabalhar por um ano. Então, fiquei na Irlanda.

Foi só depois de cinco anos que eu fui fazer o mestrado (risos). Fiz um MSC em Cyberpsychology na IADT em dois anos, enquanto trabalhava como gerente administrativa de uma imobiliária. O curso é como uma psicologia do mundo virtual, uma coisa bem diferente.

Teve algo com o qual você demorou para se acostumar?

Sandra – Com a Inglaterra eu já estava acostumada. A Irlanda, no entanto, tem uma cultura muito diferente da nossa, que no início me chocou muito. Eu vi coisas absurdas acontecendo. Pensei “estou vindo do Brasil, que todo mundo chama de “tupiniquim”, e vejo isso aqui”. As pessoas bebiam demais! Um absurdo! Eu não conseguia conviver com aquilo, me deixava depressiva. No início, pensei que tivesse tomado a decisão mais errada da minha vida. Mas chegou um momento em que eu pensei “quero voltar para o Brasil? Não, não quero. Então vou aprender a gostar”.

Foi quando eu me abri para a cultura. Está na chuva é para se molhar. Então eu comecei a filtrar, a ver só o que eu gostava. Funcionou. Eu adoro a Irlanda! (risos). Tenho grandes amigos lá, acho o país fácil de viver, tranquilo. Aqui no Brasil a gente tem uma realidade que também aflige, não só à gente como qualquer pessoa. Se você mantiver isso nos seus olhos, você não fica aqui. É a mesma coisa em qualquer país. Você tem que tentar não ver aquilo que aflige demais, para poder conviver bem.

No aprendizado de uma língua, quais aspectos culturais são primordiais?

Sandra – Língua e cultura estão diretamente ligadas, porque a língua é o reflexo da cultura do país. No caso do inglês, há várias línguas diferentes numa mesma língua: o inglês da Irlanda, que é diferente do da Inglaterra, que é diferente do da Austrália, que é diferente do dos Estados Unidos ou Canadá. A língua também é reflexo do desenvolvimento histórico e cultural do país, das influências que ele teve. A Irlanda tem uma língua um pouquinho diferente, por causa da influência da língua Celta. Por isso, os sons são mais chiados, e eles usam muitas palavras da língua deles no inglês. Por exemplo, um policial na Irlanda não vai ser policeman, vai ser garda. A palavra garda é policial na língua irlandesa. Isso está absorvido no inglês deles e as pessoas lá estão familiarizadas com isso.

Você já foi para os Estados Unidos ou Austrália?

Sandra – Eu não fui aos Estados Unidos. Minha grande paixão é a Europa. Eu penso muito nesta parte do mundo. Tenho grandes amigos americanos e uma sobrinha que mora na Austrália, em Sydney. Eu disse para ela “aguarde uns três anos que eu vou lhe visitar. Agora acabei de voltar para o Brasil”. Quem sabe eu fico um tempo lá. Não sei. Who knows? (risos). Eu gosto desta coisa de mudança, de novas culturas. Isso não é uma coisa que me assusta, é uma coisa que me atrai. Morando em outro país, você aprende uma nova cultura, aprende a ver o mundo de uma forma diferente. Isso tira os limites da pessoa. É preciso aprender a ver as coisas com a mente mais aberta.

Você sempre viajou sozinha?

Sandra – Eu gosto de viajar sozinha. Quando namorei, viajávamos juntos, claro; viajei com amigos também. Mas quando eu tomo a decisão de fazer uma mudança de país, é porque vou sozinha. Acho mais complicado quando tem família. Escolho o momento certo da minha vida para fazer as coisas. Quando estou sozinha, é o meu momento. Isso eu acho superbom. Eu não tenho medo. Acho supertranquilo. Já me acostumei com isso, faz parte da minha vida.

O que você leva dos países que visitou para a sala de aula?

Sandra – Acho que toda a experiência que se vive fora atrai o aluno. Se eu deixo, eles passam a aula inteira fazendo perguntas. Eu trabalhei um ano na Google da Irlanda, então o pessoal fica maravilhado. Para o aluno, isso aguça a curiosidade. Eu digo “gente, sem inglês, vocês não vão conseguir nada disso. Tem o Ciência sem Fronteiras. Vocês estão com tudo!” Não adianta ser um gênio e não dominar a língua. Tenho alunos da IT (sigla para Tecnologia da Informação, em inglês), e eu digo “foquem no inglês, porque vocês têm o mundo aos seus pés”. O brasileiro qualificado, que tem condições legais de trabalhar no país, tem a sua chance. A Irlanda é, hoje, dos países da Europa o que tem os headquarter de quase todas as empresas de IT do mundo, empresas que absorvem mão de obra de outros países. Todas elas são multilingual. Na Google onde eu trabalhava havia 25 línguas.

Qual foi o seu primeiro contato com o inglês?

Sandra – Sempre tive muita curiosidade sobre o mundo. Aos 18 anos eu não sabia o que ia fazer. Fiz vestibular na Unisinos para Comércio Exterior. Passei, comecei a me interessar e adorei. Nunca vou me esquecer de quando a gente estudou economia internacional. Eu adorava aquilo! Eu tinha amigos que já tinham morado no exterior, mas todo mundo naquela época ia para os Estados Unidos, ninguém ia para a Europa. Quando terminei a faculdade, disse “quero o mundo, quero conhecer outros países, outras pessoas, outras culturas”. Na verdade, eu trabalhei muito pouco com comércio exterior, foram três, quatro anos da minha vida só; mas serviu para me despontar esta vontade de querer me abrir. E o inglês é obrigatório se você quiser expandir seus horizontes; é a base, não adianta. Outras línguas são importantes? Claro, todas as línguas são importantes, mas o inglês todo mundo fala ou tenta falar. Se você fala inglês, você se vira em qualquer país do mundo: na China, na Indonésia. Eu tenho alunos que dizem “nossa, teacher, como você gosta do inglês”, e eu digo “foi o inglês que me deu o mundo”.

Quando surgiu a ideia de ser professora?

Sandra – Foi quando eu voltei da Inglaterra. Eu fui trabalhar com exportação, e tinha contato com os Estados Unidos diariamente. Foi bem na época em que a exportação do Vale dos Sinos deu uma queda considerável. Aí surgiu uma vaga de professora e eu fui tentar. Na época, eu tinha um sotaque bem britânico, porque tinha recém chegado da Inglaterra. Comecei a dar aula e a gostar. Depois eu fiz uma pós-graduação em Ensino de Língua Estrangeira na Unisinos. As opções vêm, às vezes não é a gente que busca. Muitas vezes, cabe a você decidir se quer ou não.

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Eu sempre trabalhei em duas áreas: ensino de línguas e negócios. Acho que as duas coisas se casam. O mestrado eu fiz porque é multidisciplinar, abrange todas as áreas no que está ligado à internet. No curso, tinha eu de background em administração e ensino, tinha arquitetos, designers, psicólogos, gente de business e pessoal interessado em jogos. O curso ensina a educação a distância; estuda o comportamento de hackers, essas pessoas inteligentes; o marketing online; a robótica; e a realidade virtual, que hoje está “bombando” pelo mundo e chegando ao Brasil aos pouquinhos. Então, eu conciliei as duas coisas que gosto de fazer: business e educação.

Eu uso muito isso com os meus alunos hoje, porque pesquiso muitas coisas da internet. Dar aula não é só ensinar a língua, é também tentar levar o aluno para este novo universo. O inglês te abre estas portas; não de uma cultura específica, mas de todas. Você vai buscar a porta que quiser abrir depois. Eu busco mostrar para os alunos por que eu sou apaixonada por inglês, mostrar por que é importante, mostrar o que eu ganhei com isso.

O que você gosta de fazer no seu tempo livre?

Sandra – Eu leio; amo ler! Leio mais em Inglês. Claro que a literatura brasileira eu leio em português. Se eu falasse outras línguas no nível que eu falo inglês e português, eu leria os livros na língua da edição original, porque a riqueza de detalhes está na edição original. Eu também sou muito amiga da internet, faço uns trabalhos online. E encontro meus amigos, essa coisa normal de todo mundo. Mas quando eu estou em casa, estou sempre lendo alguma coisa; qualquer coisa: Caras, livros, National Geographic. Se tiver letras eu estou lendo. Quando eu fui para a escola, eu já estava alfabetizada. Eu amo viajar, mas levo um livro quando viajo. Eu conheço a Irlanda, a Irlanda do Norte, a Inglaterra, a Escócia, o País de Gales, Portugal, Espanha, França, Luxemburgo, Holanda, Alemanha, Áustria, Polônia, Croácia, Montenegro, República Checa, Israel, Egito, Jordânia, Eslováquia; mas eu sempre levo um livro.

Você prefere ler em português ou em inglês?

Sandra – Neste momento – sendo bem sincera, mas nunca denegrindo a nossa língua, que acho bonita e charmosa – eu prefiro ler em inglês, até porque eu tenho que pensar muito para ler em português. Eu passei quase cinco anos sem falar português; só falava quando ligava para o Brasil. Não é que você esqueça a língua, mas o vocabulário deixa de ser tão familiar.

Você desfez mitos que tinha sobre os países que visitou?

Sandra – Sim, e criei outros. A gente desmancha uns, mas cria outros em compensação. Acho que isso é normal; existe e ocorre com quase todo mundo, inclusive em relação a nós brasileiros. A gente cria visões diferentes quando está fora do Brasil e vê as comunidades brasileiras. É positivo e negativo ao mesmo tempo.

Do que você sentia falta do Brasil quando estava no exterior, e vice versa?

Sandra – Quando eu estava lá, sentia falta da família. Fora isso, nada. Você organiza a vida lá e é tudo igual, a sua vida passa a ser normal depois de um tempo; se adapta ao país, tem emprego, tem casa, tem amigos. Então, eu não sentia falta de nada, só da minha família, porque família não se transfere; amigos se fazem novos. Estando aqui, eu sinto falta das minhas viagens. Eu morro de saudade! Nem olho meu Facebook!

Que semelhanças e diferenças há entre os países que você visitou e o Brasil?

Sandra – Acho que a Inglaterra e o Brasil são países muito distintos. Na Irlanda, eles são extremamente bairristas. Eles têm um marketing lá “produzido na Irlanda”, “o melhor é da Irlanda”, “a carne da Irlanda é a melhor”. Acho que é muito semelhante ao gaúcho. Eles têm brigas fenomenais com o Brasil por causa do mercado de carne. A cultura, essa coisa da tradição gauchesca aqui, eles também têm a tradição irlandesa que eles mantêm lá, bem forte, que é superbonita por sinal.

Uma grande diferença, eu acho, é que o pessoal do interior é muito simples, confiável, friendly, de ajudar. Eles não vão colocar você para dentro da casa deles, mas se você precisar de alguma coisa na rua, você pode pedir; você não vai ser assaltado. Eu acho magnífica essa coisa da tranquilidade e de ter baixa criminalidade. Você sai de um bar às duas horas da manhã e vai a pé para casa, batendo papo com os amigos.

* As fotos foram feitas no Dublin Irish Pub em Porto Alegre.

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