O artigo discute as questões éticas imbricadas na pesquisa em Educação e, de modo mais amplo, no campo das Ciências Humanas, a partir do conceito de alteridade. O texto apoia-se nas teorizações desenvolvidas por alguns autores da Filosofia da Educação e de outros referenciais que contribuem para pensar a ética na pesquisa. A partir do relato das implicações éticas e político-epistemológicas de uma investigação realizada com narrativas autobiográficas de mulheres negras, no campo da Educação das Relações Étnico-Raciais, o texto mostra como mudanças significativas na área das Ciências Humanas vem exigindo do pesquisador outras formas de posicionar-se, especialmente quando a investigação aborda questões implicadas com a identidade/diferença. Relacionar-se com o outro, que por ser um outro indivíduo vivencia experiências distintas do pesquisador, exige a reflexão em todas as etapas da pesquisa. Essa relação implica problematizar as próprias posições de sujeito, em um processo ascético de reflexão sobre si que está na constituição de um pesquisador comprometido com os participantes e com os temas que investiga. Além disso, evidencia-se a permanente articulação das dimensões ética, política e epistemológica no processo investigativo. Na luta contra a cegueira epistemológica, mas também ética, as autoras argumentam em prol da permanente problematização das relações éticas na pesquisa, que se daria através de uma ética do desconforto, tal qual sugerido por Cláudia Fonseca. O desconforto permite que a alteridade esteja presente e que a ética não se encerre ao finalizar a investigação, mas faça parte dos processos educativos e das relações humanas.
Autor(a): Viviane Inês Weschenfelder
Co-autor(a): Elí Terezinha Henn Fabris