Marcelo Paixão: Pretos e pardos são maioria em 56,8% dos municípios, mostra estudo
Número teve um aumento de quase oito pontos percentuais entre 2000 e 2010
O número de municípios onde os domicílios tinham maioria de pretos e pardos aumentou 7,6 pontos percentuais, entre 2000 e 2010, ao passar de 49,2% para 56,8%. A constatação faz parte do Mapa da População Preta & Parda no Brasil segundo os Indicadores do Censo de 2010, divulgado nesta segunda-feira (14).
Em 1.021 cidades (18,3% do total), pretos e pardos eram mais de 75% da população. O estudo foi elaborado pelo Laeser (Laboratório de Análises Econômicas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O percentual de pessoas que se declararam pretas passou de 6,2% para 7,6% em uma década. O aumento foi maior entre as que se declararam pardas, de 38,5% para 43,1% no mesmo período. Em 2010, aproximadamente 91 milhões de pessoas se classificaram como brancas, 15 milhões como pretas, 82 milhões como pardas, 2 milhões como amarelas e 817 mil como indígenas.
O coordenador da pesquisa, Marcelo Paixão, acredita que os indicadores com base no Censo 2010 foram influenciados pelo processo de valorização da presença afrodescendente na sociedade brasileira e pela adoção das políticas afirmativas.
– Esses dados demonstram não só uma mudança demográfica, mas também política, social e cultural, porque expressa uma nova forma de visibilidade da população negra brasileira ao estimular que as pessoas assumam sua cor de pele de uma maneira mais aberta.
O censo, elaborado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a cada dez anos, introduziu, em 2010, a pergunta sobre cor ou raça para todos os domicílios e não mais por amostra, como era feito anteriormente.
Segundo Marcelo Paixão, a comparação dessa informação com dados futuros do IBGE, como a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do ano que vem e o Censo de 2020, será muito útil para traçar um perfil mais fiel da população.
– O interessante para 2020 é verificar se esse percentual da população preta e parda no Brasil vai continuar aumentando. Porque é claro que tem também uma população que não é negra. O ideal é que as bases de dados expressem melhor o perfil da população brasileira, que corresponda à realidade.
De acordo com o levantamento de 2010, São Paulo é a cidade com maior número de pretos e pardos em todo o país, com cerca de 4,2 milhões, seguido do Rio de Janeiro (cerca de 3 milhões) e Salvador (cerca de 2,7 milhões).
Se forem considerados apenas negros, Salvador lidera o ranking com 743,7 mil, seguida de São Paulo (736 mil) e do Rio (724 mil).
No Norte e no Nordeste, respectivamente, 97,1% e 96,1% dos municípios eram formados por maioria preta e parda. No Centro-Oeste, esse percentual chegava a 75,5%, no Sudeste, a 37,1% e, no Sul, a apenas 2,3%.
Cunhataí, em Santa Catarina, é a única cidade brasileira sem a presença de pessoas que se declararam pretas.
Fonte: R7
A violência é negra – A cada hora, duas negras ou pardas são submetidas a violência sexual
A violência é negra
Pesquisa do professor Marcelo Paixão, da UFRJ, sobre violência sexual contra mulheres mostra que as negras e pardas são maiores vítimas.
De 2009 a 2010, foram 15.994, considerados apenas os casos denunciados. Ou seja, a cada hora, duas negras ou pardas são submetidas a violência sexual.
Segue…
Entre as denunciantes, 45% eram negras ou pardas; 40%, brancas; e 13% não tiveram a cor declarada na notificação.
Entre 2009 e 2010, foram 10.378 vítimas de estupro (49% negras ou pardas, 38% brancas e 12% sem cor declarada).
E mais…
No período, 3.045 denunciaram assédio sexual (43% negras ou pardas, 40% brancas e 16% sem cor declarada).
As negras e pardas também formaram a maioria das vítimas de pornografia infantil (50,3%) e exploração sexual (51,9%).
Fonte: