Por Paulo Víctor Silva Schroeder [1]
Geralmente relacionamos os fatores responsáveis pela localização dos indivíduos entre o privilégio e a miséria com aspectos da personalidade humana (inteligência e talentos especiais, por exemplo). Entretanto, observe o seguinte gráfico referente à porcentagem da população brasileira, dividida por raça/cor, que possui rendimentos acima de 30 salários mínimos mensais – hoje R$ 20.340:
A população branca corresponde a 48% da população brasileira total, entretanto possui acesso majoritário a posições elevadas na escala nacional de distribuição de recursos. Por quê?
Propõe-se a seguinte percepção: com o descobrimento da América, a construção da idéia de raça foi a principal maneira de legitimar as relações de dominação impostas pela conquista. Dessa forma, desenvolveu-se um novo sistema de divisão de trabalho, onde o europeu branco (raça dominante) recebia salário através da produção independente de produtos; enquanto os negros foram reduzidos à escravidão. Trata-se de um projeto racista, que possibilitou a acumulação de capital no continente europeu através da exploração de mão de obra gratuita.
No entanto, os reflexos da dominação européia não se restringem ao período colonial. Através da posição privilegiada atingida pelo continente europeu – resultado da exploração da América -, surgiram as condições que viabilizaram a atuação da manipulação ocidental sobre o passado, presente e futuro dos povos colonizados. Ou seja, foram criados os mecanismos que permitiram/permitem a perpetuação do domínio da raça branco-européia sobre as demais raças do globo no tempo e no espaço. Como? Através da articulação de toda a produção de conhecimento em torno dos interesses (acumulação de capital) de uma comunidade minoritária, mas detentora da maior parcela do poder.
Os efeitos dessa “colonização” do conhecimento, formulada sob a perspectiva das ambições de uma pequena parte da população mundial, tornam-se perceptíveis através dos conflitos sociais (violência urbana, por exemplo). A visualização das soluções é um processo delicado ao passo que a modernidade é um caminho que só possui uma direção, ocultando o seu lado mais perverso: a colonialidade. Perceber a vinculação entre modernidade e colonialidade é fundamental para a desconstrução da ideia de que a distribuição de renda nacional está associada apenas a capacidades específicas, de modo a possibilitar a assimilação da profundidade de um dado que é explicito em qualquer indicador nacional de distribuição de riqueza: a relação entre cor da pele e o privilégio.
[1] Graduando em Direito pela Unisinos e bolsista de Iniciação Científica na modalidade PRATIC no Núcleo de Direitos Humanos da Unisinos.
REFERÊNCIAS:
QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y America Latina. Buenos Aires: 2000.
MIGNOLO, Walter. Desobediencia epistêmica: retórica de La modernidad, lógica de La colonialidade y gramática de La descolonialidad. Buenos Aires: Del Signo, 2010