Por Ana Carolina Voges de Campos [1]
“Hijab” tem origem na palavra árabe “hajaba” cujo significado é esconder, se ocultar dos olhares. É a indumentária utilizada pela grande maioria das mulheres muçulmanas e que, frequentemente, gera polêmicas quanto ao seu uso.
Na última sexta-feira, 26 de setembro, o time de basquete feminino do Catar foi proibido de usar o hijab durante o jogo contra a Mongólia, nos Jogos Asiáticos que ocorrem na Coréia do Sul. Ao entrar em quadra, os juízes exigiram que as atletas retirassem o hijab uma vez que o regulamento da Federação Internacional de Basquete é claro ao afirmar que “o uso de chapéus, acessórios de cabelo e jóias são expressamente proibidos durante os jogos”. As atletas recusaram-se a jogar e saíram de quadra argumentando que só participaram da competição pois acreditavam que poderiam jogar usando hijab. Em uma manifestação pública sobre o acontecimento, a Federação Internacional de Basquete (FIBA) garantiu o lançamento – em um primeiro momento experimental – de um regulamento que permite o uso de acessórios na cabeça durante as partidas, mas somente em competições nacionais.
Com o ocorrido retomamos uma série de questionamentos. Um deles tange a incansável crítica ocidental quanto ao uso do hijab (e outros tipos de véus muçulmanos) e a proibição do uso dos mesmos em alguns países. Nós, membros de uma sociedade onde não há igualdade de gênero, ironicamente, julgamos como opressor o uso dos véus muçulmanos, rotulamos a sociedade islâmica (como um todo) machista e opressora sem nem ao menos cogitar que o uso trata-se também de uma manifestação de vontade e o bel-prazer de seguir a cultura islâmica. Caetano Veloso já cantava “Narciso acha feio tudo que não é espelho” e este é o nosso comportamento frente a outras culturas, principalmente as dos países orientais.
Segundo os muçulmanos, algumas das razões para o uso do hijab são: a identificação da mulher islâmica, o enfoque para a real beleza da mulher e não somente em sua beleza física e a proteção contra os desejos dos homens. Acrescentam também que o Islã almeja a dignidade e respeito de todas as mulheres muçulmanas e não apenas aquelas que decidiram servir a sua fé. Esta é a visão majoritária, todavia vale ressaltar que existem extremistas que diferem desse posicionamento.
Este texto tem por objetivo instigar o autoquestionamento em relação aos paradigmas adotados para julgar o uso do hijab pela mulher muçulmana. Fica o convite para comentar e assim compartilhar suas impressões sobre o assunto.
Trecho da música “Free” de Sami Yusuf:
So don’t you see? Então você não vê?
That I’m truly free Que eu sou realmente livre
This piece of scarf on me Este pedaço de lenço em mim
I wear so proudly Eu visto com orgulho
To preserve my dignity… Para preserver minha dignidade
So don’t judge me Então não me julgue
Open your eyes and see… Abra seus olhos e veja
Referências:
*Fontes das Imagens:
http://3.bp.blogspot.com/_sAZrW8zQcec/S9t64dwISVI/AAAAAAAAAmY/PSvnX_8JSFQ/s320/HijabRight.jpg
[1] graduanda em Direito pela Unisinos, bolsista de Iniciação Científica e integrante do Núcleo de Direitos Humanos da Unisinos.