Na última quinta-feira, 27/09, o Núcleo de Direitos Humanos da Unisinos promoveu mais uma reunião periódica do Grupo de Pesquisa “A Fundamentação Ética dos Direitos Humanos”. Os pesquisadores e interessados reuniram-se para ouvir e debater a apresentação das investigações realizadas pelo pesquisador Axel Detammaeker, do Mestrado de Direitos Humanos da Universidade de Paris X, sobre “Ethnocídio e violência na filosofia de Pierre Clastres”.
A reunião ocorreu na sala 4A401 do Programa de Pós-Graduação em Direito da Unisinos e contou com um número considerável de pessoas interessadas em conhecer um pouco das pesquisas realizadas no mestrado de Axel Detammaeker, as quais se concentraram no pensamento de Pierre Clastres, antropólogo e etnógrafo francês que enfatizou suas pesquisas na antropologia política, designadamente na questão indígena.
- Participantes da última reunião do NDH,que contou com a apresentação de Axel Detammaeker acerca do pensamento de Pierre Clastres. Axel é o terceiro da direita para a esquerda.
Tendo em vista as obras mais conhecidas de Pierre Clastres, “A sociedade contra o Estado” e “Arqueologia da violência”, Axel direcionou sua explanação no recorte que Clastres faz das características do Estado e da sociedade para criticar a visão de que as sociedades autônomas, como as indígenas, seriam sociedades “primitivas”. Trazendo analogias frequentes ao pensamento de autores que influenciaram Pierre Clastres, como Étienne de La Boétie, passando por Michel Foucault, Hegel, Max Weber e Karl Marx, Axel Detammaeker analisou aspectos como a relação entre o Estado e os direitos humanos, a modernidade enquanto era do biopoder, da institucionalização das relações de poder e as consequentes dominações daí decorrentes, bem como enfatizou pontos como a monopolização da identidade por parte do Estado e a recusa da alteridade também por parte dele. Nesse compasso, Detammaeker relacionou este monopólio estatal à identidade e à violência que é empregada na sociedade em vista disso. Axel se referiu à violência à diferença retratada por Pierre Clastres quanto à manifestação prática dessa violência, através do etnocídio, que seria a concretização de uma violência estatal em relação às diferenças culturais; e, diferentemente do genocídio, que é a violência estatal contra as diferenças biológicas, violência que mata o corpo, o etnocídio é a violência que, por ser empregada contra as diferenças culturais, mata o espírito. De acordo com Axel, Pierre Clastres acreditava na descentralização da política, pela sociedade dominada, para, assim, chegar-se a uma autonomia política e ser possível a luta pelos direitos humanos. Detammaeker procurou trazer o pensamento esclarecedor de Pierre Clastres quanto à demonstração que esse buscou fazer ao longo de sua obra acerca da falsidade da ideia de que todas as sociedades necessariamente evoluem de um sistema primitivo para outro hierárquico, de maneira que as sociedades não-hierárquicas possuem mecanismos culturais que impedem a realização de instrumentos de poder e, por conseguinte, de dominação, o que as caracterizam como sociedades contra o Estado. Ao fim de sua apresentação, Axel Detammaeker aduziu que, para Clastres, o Estado é o permanente violador dos direitos humanos por ser ele, o Estado, uma figura que privilegia o estático, para se garantir no poder, em contrapartida aos direitos humanos, que são uma “utopia em permanente construção”, disse Axel.
Ao final da apresentação, a reunião prosseguiu coma abertura de um espaço para debate, ocasião em que os participantes se manifestaram e discutiram os pontos do pensamento de Pierre Clastres que foram abordados por Axel Detammaeker. Vale destacar a presença de duas importantes personalidades: Enrique Del Percio, professor e pesquisador da Universidade de Buenos Aires, e Jair Krischke, figura histórica na luta por direitos humanos no estado do Rio Grande do Sul.