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“Falar da questão ambiental não se resume a tratar apenas da preservação dos animais, dos rios, do ar, das florestas… Trata-se de falar da economia, das grandes corporações que influenciam e decidem as políticas relativas a esse campo”, disse Larissa Packer, na sua fala, no quadro do Ciclo de Palestras Rio+20: desafios e perspectivas.
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E pergunta: “Por que, 40 anos depois de Estocolmo e com os acordos subsequentes nos encontramos numa situação de fracasso em relação a todos eles?”. Porque, responde, “os acordos internacionais limitam-se a sugerir metas, mas não impõem mecanismos de cumprimento”, que implicariam em sanções impostas aos países descumpridores, como acontece, por exemplo, na Organização Mundial do Comércio (OMC).
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Larissa
destaca que o interesse sobre o meio ambiente é o fundamento do atual capitalismo. A economia assenta-se sobre o princípio da escassez dos recursos naturais. Há, portanto, uma corrida pela apropriação de recursos ainda não apropriados pelo mercado.
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Foto: Divulgação

Larissa aponta a existência de três correntes econômicas para lidar com a escassez. Uma primeira corrente propõe que a solução para a contradição entre crescimento e preservação passa pelo desenvolvimento tecnológico. Ou seja, a resolução passa pela tecnologia e não pela política, ou pela mudança de modos de produção e hábitos de consumo. Uma segunda corrente aposta na distribuição de propriedade sobre os bens. Tudo o que é comum é de ninguém. É preciso privatizar para cuidar. E uma terceira corrente defende que o crescimento econômico não é compatível com a preservação. O planeta impõe limites ao crescimento ilimitado. Esta corrente defende o decrescimento.
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As duas primeiras correntes são as dominantes. Elas impõem suas políticas desde o século XVIII, mais especificamente desde Estocolmo para cá nas discussões ambientais. As decisões políticas são tomadas por economistas ou em base aos argumentos econômicos liberais.
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No contexto do pressuposto de que tudo o que é escasso é caro, as grandes corporações (Monsanto, Syngenta…) e empresas (Petrobras…) correm atrás de novos recursos, até mesmo para obter lastro. O lastro não se dá mais primordialmente em base ao dólar, mas dos recursos naturais (florestas, ar…), o que explica a colocação em prática de iniciativas como a compra e sequestro de carbono, compra e venda do ar… A biodiversidade passa a ser incorporada como riqueza.
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“A economia verde não tem, portanto, nada de verde, mas tudo de cinzento”, referência à economia do petróleo, salienta a Larissa. A economia verde, uma das temáticas centrais da Rio+20, não passa, portanto, de um engodo.
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Larissa Ambrosino Packer
é assessora jurídica da Terra de Direitos, sediada em Curitiba, e integra a comissão organizadora da Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro.
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O Ciclo de Palestras Rio+20
: desafios e perspectivas é uma parceria entre o Cepat, o Instituto Humanitas UnisinosIHU e a Pontifícia Universidade do Paraná – PUCPR. Propõe-se a debater a questão através de um ciclo de palestras que possibilite compreender o que está envolvido na Conferência, desde sua formação histórica até os seus possíveis impactos no futuro do Planeta.
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Para maiores informações, consultar a programação completa no sítio do IHU.
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Por André Langer

“Apesar da reconhecida necessidade de mudanças estruturais em nível nacional e global diante das crises que o mundo enfrenta (climática, ambiental, alimentar, energética e mesmo a financeira), a Rio +20 não tinha a real pretensão de apontar caminhos para tais mudanças”, afirma Luiz “Zarref” Henrique Gomes de Moura, militante do MST/Via Campesina.
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Já segundo Darci Frigo, “os países ricos esvaziaram a Conferência por estarem mais comprometidos com a solução das suas crises econômicas. Priorizaram salvar o sistema financeiro à custa do desemprego e da falta de compromisso com as crises socioambientais. Seus principais líderes – EUA, Alemanha, Inglaterra – ausentaram-se da Conferência”.
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Ambos concordam em que o documento final é tímido e não contém compromissos e metas que vinculem os países. Zarref e Frigo estarão participando, ao lado do Ir. Afonso Murad, do painel sobre as perspectivas socioambientais da Rio+20, nesta quinta-feira. O evento integra o Ciclo de Debates Rio+20, promovido pelo Cepat em parceria com a Pastoral da Universidade da PUCPR.
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Para Zarref, “os acordos que saíram da Conferência demonstravam um interesse concreto em estruturar uma nova possibilidade de geração de lucros, através da conexão entre meio ambiente, empresas e capital financeiro. A essa nova engenharia financeira se deu o nome da Economia Verde”. “A sustentabilidade foi capturada pela proposta mágica de grande transformação tecnológica verde, do velho e conhecido capitalismo marrom. Em síntese, propõe-se mais mercado e menos direitos”, concorda Darci Frigo, da organização Terra de Direitos, com sede em Curitiba.
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Simultaneamente ao evento oficial da Rio+20 aconteceu a Cúpula dos Povos, “evento autônomo de corporações e fruto de uma convergência histórica entre dezenas de movimentos e organizações da sociedade brasileira e mundial. Este espaço demonstrou total rejeição ao projeto da Economia Verde”, revela o engenheiro florestal Zarref.
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A Cúpula dos Povos “surpreendeu pela grande participação e mobilização”, avalia Frigo, que participou da organização desse evento da sociedade civil. “Constituiu-se no contraponto da Cúpula Oficial ao combater a economia verde como solução falsa que propõe a mercantilização da natureza, ao denunciar a captura do Sistema ONU pelas empresas, grandes causadoras da crise e, ao afirmar a defesa dos bens comuns e a necessidade de justiça social e ambiental”, completa.
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Num olhar prospectivo, o primeiro desafio a ser enfrentado “é colocar no centro da agenda dos governos as crises ambientais e sociais e isso só vai se dar por meio de grandes mobilizações sociais. Os movimentos e organizações da Cúpula dos Povos procuraram construir uma agenda que deve buscar as convergências de lutas na linha da defesa dos bens comuns, de alternativas que estão sendo construídas tanto nas experiências locais como nas lutas internacionais na defesa dos direitos humanos”, acredita Frigo.
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De acordo com Zarref, a Cúpula dos Povos “apontou claramente as verdadeiras soluções para a crise ambiental planetária: a soberania alimentar e energética, a agroecologia, a economia solidária, a reforma urbana e agrária, os circuitos curtos de consumo, a soberania dos povos sobre seus territórios.
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O painel que debaterá a Rio+20 acontece nesta quinta-feira, dia 09 de agosto, a partir das 19h30 no auditório Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso Lima), da PUCPR. O evento é aberto ao público em geral. Maiores informações: (41) 3349-5343 ou pelo correio eletrônico cepat.cepat@terra.com.br
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Por André Langer.