Com o objetivo de discutir a crise econômica, a truculência do mercado contra os direitos e a soberania dos povos. As contradições de um sistema, dilapidador e predatório, a concentração de renda, privatizações, desemprego, medidas de austeridade, degradação ambiental, entre outros pontos, iniciamos no dia 23 de março, sábado último, uma atividade, que é fruto de uma parceira entre o Cepat, o IHU, Cj-Cias, a Pastoral da Universidade e o Curso de Ciências Econômicas da PUCPR.
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A atividade proposta: A crise do capitalismo, vista pelo cinema. E, iniciou-se com um documentário: A doutrina de choque de Mat Wittecross e Michael Botton, filme inglês, de 2009, com 79 minutos, e com roteiro de Naomi Klein, uma jornalista, escritora e ativista canadense. O documentário foi comentado pelo professor Dr. Jackson Bittencourt, do curso de Ciências Econômicas da PUCPR. A atividade, contou com um excelente e heterogêneo público, composto por: alunos/as, sindicalistas, professores e ativistas sociais.
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A metodologia adotada partiu inicialmente da apresentação do documentário. Na sequência, uma exposição do professor convidado e, posteriormente o debate com o público presente. Logo após a apresentação, o professor Jackson Bittencourt, abordou questões referentes ao documentário, trazendo a reflexão de como os governos e grandes empresas, interferem, exploram e pilham a economia de países, que estão numa situação de instabilidade, seja, por conta de definições políticas internas, guerras, ou por desastres naturais. Essa intervenção se dá, através de uma doutrina de choque.
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O documentário mostra como o propagandeado livre mercado, não foi erguido democraticamente, ao contrário, teve um custo, e um custo demasiado alto, para quem pagou e, ainda paga essa conta, por conta dos atuais choques econômicos. A autora faz uma ponte entre os abomináveis choques psiquiátricos, que foram utilizados como “terapia”, até as práticas condenáveis de choque, utilizadas em processos de torturas, e que produziu milhares de vítimas em vários países, além de muitas mortes. Noemi Klein visitou os locais mencionados, exibindo fartos materiais de arquivos e entrevistas com testemunhas chaves do processo.
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O documentário é uma denúncia, especialmente das teorias neoliberais, de Milton Friedman e de Friedrich Hayeck, economistas do livre mercado, da receita da Escola de Chicago, ou de “Chicago Boys”, como é tratado no documentário. Do papel determinante de Margareth Thatcher e de Ronald Regam para a consolidação e disseminação do modelo neoliberal. Mostrando também, a primeira aplicação do receituário neoliberal na América Latina, que trouxe como consequência a derrubada e assassinato do presidente Salvador Allende, no Chile, e a ascensão de Pinochet, e todo o processo de privatizações, supressão dos direitos dos trabalhadores, entre outras questões, naquele país.
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O professor Jackson, falou que a economia está dividida em duas grandes correntes, ou seja, a macroeconômica, com grande influencia de John M. Keynes, quer fez uma leitura a partir da grande depressão da década de 1930, e defendia a intervenção do Estado na economia, através de uma política de gastos públicos para gerar emprego, renda e consumo público, entre outros pontos, que acabou por construir o Estado do Bem-Estar Social. A outra linha é a monetarista, que defende o controle dos gastos públicos, estabilidade monetária e liberdade econômica como condições essenciais. A liberdade econômica é essencial para a liberdade das sociedades e dos indivíduos.
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Bittencourt posicionou-se claramente pelo livre mercado, portanto, sua análise, partiu de um referencial, diferente, do apresentado no filme. O professor discorda de que a economia de livre mercado só pode ser implementada através de choques. Segundo, ele, o capitalismo funciona via consumo via demanda agregada e que o capitalismo, precisa de um crescimento de pelo menos 3% ao ano, senão ele entra em crise. Se não se mantiver o nível de consumo, haverá queda da renda, do nível de emprego, da qualidade de vida, etc.
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Segundo Bittencourt, o mercado transparece somente a dimensão humana. Nós, seres humanos, é que somos competitivos, e não mercado (o mercado reflete a nossa competição, pois ele propicia a competição). E, queremos sim, o que há de melhor: o melhor computador, o melhor “ipod”, o melhor “iped”, o melhor notebook, a melhor e mais rápida rede de acesso à internet, o banho quente, a melhor moradia, o melhor carro… As pessoas querem consumir o que tem de melhor. E, que o modelo é eficiente, e competente, pois tem nos dado, tudo o que desejamos, diferentemente das economias planificadas, que fracassaram historicamente, ao não atender as demandas humanas.
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O professor Jackson Bittencourt deixou claro que não prega o consumismo, mas sim uma economia de mercado com forte regulação do Estado por meio de suas Agências Reguladoras e demais Instituições.
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O debate
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No debate, as posições diferenciadas apareceram. Os participantes levantaram alguns pontos, tais como:
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- Tem um setor, que está impossibilitado de ter acesso às benesses do capitalismo, essas pessoas seriam incompetentes? São incapazes de competir, numa economia de livre mercado?
- Porque um modelo eficiente, não resolve as questões de disparidade, desigualdade entre as pessoas?
- No ritmo de um consumo incontrolável e irracional, de quantas terras precisaríamos, para atender tanta demanda?
- Todo excesso é prejudicial, como vemos na sociedade capitalista. Há um consumismo predatório e pilhatório.
- Não se trata de discutir se queremos ou não o que há de melhor. Todos querem isso. Cada um tem uma demanda, mas trata-se de discutir o que é prioridade, o que é essencial para todos.
- Não se trata de motivar o consumo, mas ter presente que as pessoas são seres desejantes e que o mercado, quer atender a esses desejos;
- Sobre a e Escola de Chicago os “Chicago boys”, quem mais coloca estudantes, para se formar nas teorias dessa escola é a China;
- A economia é uma área para poucos;
- A mulher vem tendo grande inserção no mercado de trabalho, entre outros postos importantes. Para o sistema, não interessa se é homem ou mulher, o que interessa é que seja eficiente;
- As mulheres vêm inserindo-se no mercado de trabalho, e há muitas empresas que não fazem distinção para salários e cargos;
- Há uma inserção das mulheres, mas ela se dá de forma desigual, no que diz respeito a cargos e salários, dentro da lógica do sistema, que se apropria do trabalho não pago, convenientemente, realizado pela mulher. Trabalho importante, de reprodução humana, mas contabilizado e nem visibilizado;
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Encerramento
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O tempo estipulado para o debate encerrou-se ao meio dia, mas os participantes deixaram clara a vontade de continuar o debate, cercando o professor Jackson Bittencourt, pós-encerramento da atividade, para a continuidade do debate sobre a temática, ou registro de divergências.
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O Cepat notificou aos presentes que a entidade, não partilha das posições do professor, mas tem todo o interesse em fazer o debate, especialmente com posições divergentes. Cremos que é esse, também, o interesse de todos os parceiros. Os próximos filmes e expositores, certamente vão trazer outros elementos, para a análise proposta. A ideia é de ampliar a reflexão e a discussão sobre um tema tão importante, e que interfere diretamente na vida de todos: a economia.
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Por Darli Sampaio