Um interlocutor – cristão ou não – inquieto.
Esse é o desafio que se apresenta à teologia contemporânea, e com o qual o Prof. Dr. Degislando Nóbrega de Lima, da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, buscou dialogar na tarde desta terça-feira, 15, dentro da programação do X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades, realizado na Unisinos.

Em sua conferência “As possibilidades e/ou impossibilidades das narrativas de Deus, hoje. Uma reflexão a partir da teologia contemporânea”, o doutor em Teologia da Missão pela Universidade de Münster, na Alemanha, esteve focada em três grandes pontos: nos deslocamentos da teologia tradicional do equilíbrio medieval à reviravolta moderna, nos deslocamentos provocados pela contemporaneidade e no discurso sobre Deus e nas exigências e horizontes de inserção desse discurso no centro da vida.
Porém, afirmou, “não podemos esquecer que esse processo de mutação no mundo teve reflexos no cristianismo e na teologia e não é uma especificidade da atualidade”.
O primeiro salto em termos teológicos ocorreu, segundo De Lima, com o Concílio Vaticano II. Nele – defendeu – passou-se de uma teologia cujo método primava pela razão lógica, dialética, dedutiva, para uma superação do divórcio entre fé e vida, situando a fé cristã no centro da história e estabelecendo uma íntima relação entre fé e construção do mundo.
Por outro lado, passa a emergir uma maior valorização do fragmento, do fluido, do descontínuo, do líquido, da interrupção. “Processa-se ainda um deslocamento do eixo da subjetivação”, explicou o teólogo. “A subjetividade moderna era a subjetividade da razão universal. A pós-moderna, por sua vez, é a subjetividade do desejo”, afirmou.
Para o professor, a base comum no pensamento contemporâneo é “a desconstrução de todos os sistemas referenciais de sentido”. Aqui, então, surge a pergunta: como narrar Deus em um mundo em contínua transformação?
Nesse sentido, De Lima defendeu aqueles que “creem inquietamente”, pois, no cenário atual, apresenta-se para eles “uma necessidade de reflexão sincera e sem subterfúgios sobre os descaminhos e critérios da relação entre sistemas de referências e transcendência”.
Para se falar de Deus na era contemporânea, depende-se da capacidade de “autêntica comunicação”, como definiu o teólogo. Ou seja, a capacidade de enviar ao interlocutor uma diferença que faz uma diferença. “E se não for possível comunicar diferença, é melhor calar”, resumiu.
E aqui o teólogo encerrou sua fala, propondo cinco deslocamentos para um reposicionamento da teologia na contemporaneidade. Eis aqui um resumo:
– De uma recepção da revelação como ditado para uma perspectiva de processo pedagógico;
– Por um novo e fecundo equilíbrio entre ortodoxia e ortopráxis;
– De uma pedagogia apressada para uma escuta atenta e acolhedora;
– De uma fé sustentada na idéia de monopólio da ação de Deus para uma fé quenótica;
– De um único modelo de cristianismo para um cristianismo como estilo
Por fim, afirmou, a esperança cristã deve se tornar um sentido de existência, e não uma fórmula a ser repetida. “Isso exige do cristão uma ação dinâmica, que integre ao mesmo tempo a escuta, a criatividade e o testemunho”.
O X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades continua até esta quinta-feira. Clique aqui para ver mais detalhes.
(por Moisés Sbardelotto)