Para tratar de diferentes questões envolvendo a produção e a distribuição igualitária dos alimentos, o XV Simpósio Internacional IHU – Alimento e Nutrição no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio incluiu, na tarde da quarta-feira (7), sete mesas simultâneas que abordaram de diferentes ângulos o assunto. Entre os assuntos discutidos, destacamos:
Consumo saudável
Numa mesa simultânea , o debate foi em torno do “Acesso e Consumo alimentar da população numa perspectiva ética, adequada e saudável”, no qual estiveram presentes a Profa. Dra. Sônia Lucia Lucena Sousa de Andrade, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, e Rui Valença, representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (FETRAF – SUL/CUT).
A professora destacou que, embora existam diversos ensaios que falam sobre a importância da educação alimentar, o Brasil ainda investe pouco nesta área.
Em sua apresentação, ela define a alimentação adequada e saudável como a realização de um direito humano básico, com a garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais dos indivíduos.
Para a professora, um bom alimento é aquele mais próximo da natureza, ou seja, que tenha pouca intervenção técnica ou industrial, e próxima das tradições artesanais. Mas, para isso, segundo Sônia, é preciso que a produção de alimentos seja feita no ritmo da natureza.
O relacionamento complicado entre a agricultura e o capitalismo
Outra mesa de destaque da quarta-feira foi a que tratou da “Produção, circulação e comercialização dos alimentos numa perspectiva ética, solidária e sustentável”, que aconteceu na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros e que contou com a participação de MS João José Passini, do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), e de João Pedro Stédile, membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Stédile falou sobre as consequências da relação atual entre a agricultura e o capitalismo. Ao início de sua fala, reforçou o fato de que no decorrer da história sempre existiram outros modelos de produção, ao contrário de hoje, em que o capitalismo é predominante.
O fato de existir essa hegemonia traz graves problemas à agricultura. O que se tem hoje, na visão do economista, é uma agronomia predatória que destrói não só a natureza, mas a própria agricultura. Isto se deve ao fato de a produção e o cultivo focarem no lucro, sendo assim um modelo de agronegócios que produz commodities padronizadas para serem vendidas em qualquer canto do mundo.
Ele cita como exemplo o caso da Argentina. Antigamente considerada o celeiro do mundo, justamente pela grande diversidade de alimentos que cultivava, o país decidiu valorizar e expandir a plantação de soja. Isso fez com que eles tivessem que importar uma grande variedade e quantidade de alimentos para suprir a demanda.
“E no Brasil a situação não está muito diferente”, afirma Stédile.
De acordo com o palestrante, 80% das terras utilizadas para a produção de alimentos se dedica a quatro produtos: gado, soja, cana e eucalipto. A justificava, segundo Stédile, é justamente a produção de mercadologias que garantam lucro.
Nutrição e solidariedade
Durante a tarde outras mesas trouxeram como tema a nutrição e os direitos que a ela estão relacionados. A professora Noemia Perli Goldraich, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, e o professor Valdely Ferreira Kinupp, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – IFAM/Manaus – Zona Leste, por exemplo, abordaram em sua palestra uma pesquisa sobre a construção do conhecimento em relação à alimentação e à nutrição e sua aplicação numa perspectiva ética, solidária e sustentável.
Alan Bojanic (à esquerda), membro da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO, falou sobre as relações internacionais do Brasil pelo direito ao alimento e à nutrição e do trabalho realizado pelo órgão.
O XV Simpósio Internacional IHU – Alimento e Nutrição no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio encerrou na última quinta-feira (8). Informações sobre os assuntos tratados podem ser obtidas neste link.