“Nossa linguagem precisa ser simples, concreta, convincente, anedótica, engajadora e humilde”. Como numa festa. Essa é a opinião da Profª. Drª. Mary Hunt, teóloga feminista católica e cofundadora e codiretora do Women’s Alliance for Theology, Ethics and Ritual (WATER), dos EUA, que esteve presente na Unisinos para o X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades.

Durante sua conferência “Narrar Deus hoje: uma reflexão a partir da teologia feminista”, a doutora em teologia pela União Teológica, de Berkeley, Califórnia, abordou questões relativas à linguagem teológica feminista sobre o divino, fazendo uma ampla revisão sobre teólogas que a antecederam nessa questão.

Por outro lado, defendeu que o fato de nomear é uma prioridade para os nomeadores, e a nomeação feminista possui implicações para a mudança teológica e social-eclesial.

“Nenhuma linguagem é inocente. As feministas aprenderam, geralmente com risco, que a linguagem sobre Deus está entre as coisas mais difíceis e mais perigosas a serem trabalhadas, já que pode se tornar estruturas opressivas ou ser um trampolim para a libertação”, defendeu.

Hunt destacou o papel social da linguagem e seu poder nas estruturas sociais. Segundo ela, “a linguagem sobre o divino tem um impacto direto e poderoso na forma como a sociedade é formada”. “Se concordamos que não conhecemos a totalidade do divino, ou mesmo não concordando que exista um Deus, pelo menos precisamos reconhecemos que a nossa linguagem e a nossa conversa-escuta fazem uma grande diferença”, afirmou.

Exemplificando com algumas questões polêmicas – que no final da conferência geraram debate -, a teóloga abordou a ordenação de mulheres, o direito das mulheres a tomar decisões sobre seu próprio corpo e a relação entre pessoas do mesmo sexo. Segundo Hunt, todos esses pontos envolvem a questão da imagem do divino e mostram como a linguagem sobre Deus é importante para a vida cotidiana.

“Assim como as mulheres são excluídas na Igreja, há uma permissão implícita – e em muitos casos explícita – a excluir as mulheres na sociedade”, explicou.

Por fim, sua conferência terminou com festa: para Hunt, o desafio da teologia contemporânea é falar sobre Deus na “festa pós-moderna”, ou seja, apresentar as ideias teológicas em uma linguagem como a de uma festa, para que todos possam entender.

“Então, depois que a festa terminar, veremos como novas ideias foram dançadas, pintadas, pregadas, cantadas e encenadas. Então, finalmente saberemos mais sobre o que tentamos dizer. Até porque nossos esforços são parciais, ajudados talvez pela atmosfera festiva da festa e das libações”, concluiu.

O X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades encerra nesta quinta-feira, 17. Confira aqui a programação de encerramento.

(por Moisés Sbardelotto)

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