“A narrativa de Deus, hoje. Possibilidades e limites” foi o tema da conferência realizada ontem à noite, logo após a abertura oficial do X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades. O responsável pela brilhante explanação, que encantou os presentes no Anfiteatro Pe. Werner da Unisinos foi o Prof. Dr. Jean-Louis Schlegel, da Revista francesa Esprit.

Schlegel abriu sua fala reconhecendo que a globalização trouxe consigo uma infinita variedade de religiões, ou o que comumente conhecemos como pluralismo religioso. Depois, seguiu sua palestra a partir da pergunta: “que laços existem entre o relato/narração e a sociedade pós-metafísica?”. E, antes de responder, esclareceu que gostaria de dedicar um espaço de seu tempo ao conceito de “pós-metafísica”, relacionando-o a três pontos principais: a questão mito versus logos; a questão de como podemos sair da metafísica; e o pensamento de Jürgen Habermas, que usa muito a expressão “pós-metafísica” como conceito e que acredita que nós nos encontramos nela, no momento atual. Ainda sobre Habermas, Jean-Louis Schlegel afirma se questionar se ele não estaria sendo um idealista ao insistir nos limites da razão metafísica e ao pressupor uma comunidade de comunicação. “Para Gianni Vattimo, estamos hoje, nesta sociedade pós-metafísica, em um estado de comunicação generalizada”, lembra o palestrante, ao destacar que, muitas vezes, o cinismo prevalece sobre o entendimento mútuo. E acrescenta que, na visão de Habermas, a sociedade pós-metafísica tem que escutar as religiões.

DSC01400

Ao refletir sobre as causas para o fim das grandes narrativas, citando o nome do filósofo francês Jean-François Lyotard, de que elas não eram mais críveis, Schlegel trouxe também a visão de Gianni Vattimo, que aponta a secularização da sociedade, ao lado do individualismo ético, como responsável para o fim dos grandes relatos/narrativas.

Em seguida, Schlegel trouxe ao debate a relação entre violência e metafísica, a partir do pensamento de Heidegger, Lévinas, Nietzsche e outros. E quando entrou realmente no tema de sua conferência, Schlegel foi enfático: “o que realmente está em jogo é a significação da narração de Deus hoje” e não seus limites ou legitimações. E aqui ele destaca que as narrativas criam uma identidade temporal, quando cita Paul Ricoeur, autor do conceito de “identidade narrativa”.

O sociólogo das religiões lembra que na Bíblia os textos mais importantes são narrações. No entanto, um limite atual que ele aponta é que a narração hoje acaba instrumentalizada pela comunicação, pelo marketing. E finaliza: “a existência cultural humana não seria possível sem narração. Assim é com Deus. É bom ouvir os ensinamentos e relatos de Deus”.

Leia aqui a entrevista exclusiva concedida por Jean-Louis Schlegel à IHU On-Line desta semana.

Deixe uma resposta