Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Através de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora.
As Sem Razões do Amor
Eu te amo porque te amo
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Fonte: Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 1238-1239
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é considerado um dos principais poetas da literatura brasileira, pertencente ao que se conhece como segunda geração de poetas do modernismo, da qual fazem parte, entre outros, Murilo Mendes e Jorge de Lima.
A poesia de Drummond lida com diversos tipos de dicção: desde a mais próxima do coloquial (em Alguma poesia, José, Brejo das almas), passando por uma linha mais social (A rosa do povo) e por outra mais hermética (Claro enigma, A vida passada a limpo e Lição de coisas), sem, no entanto, serem rigidamente separadas, como observaram alguns críticos em seus estudos sobre o poeta. Nos livros finais, teria se dividido entre uma autobiografia em verso (com os volumes que constituem Boitempo, analisados, no entanto, com bastante argúcia por Antonio Candido e José Guilherme Merquior) e poemas quase em forma de crônicas (como os de Corpo e Amar se aprende amando), que também escreveu, assim como poemas eróticos (os de O amor natural, livro póstumo). No entanto, obras como As impurezas do branco e, sobretudo, A paixão medida, mostraram um Drummond quase octogenário cheio de vigor e criatividade, trabalhando, com igual desenvoltura, em versos brancos, rimados, livres ou metrificados, além de continuar a ser um “mestre da sintaxe”, como apontou Davi Arrigucci Jr., em seu estudo Coração partido. (Conferir o texto completo: Carlos Drummond de Andrade: traços biográficos publicado pela Revista IHU-On-Line n° 232 no dia 20-08-2008, no site http://www.ihuonline.unisinos.br/)