A página do ISER ASSESSORIA disponibiliza um dossiê sobre o massacre de Gaza por Israel, com uma seleção de artigos e entrevistas publicados nas últimas semanas. Alguns destes textos vieram do IHU.

A seleção destes textos ajudam a entender a história, as causas e aquilo que está em jogo.

Sumário

Uma guerra ilegítima. Arlene Clemesha.

– Das cinzas de Gaza. Tariq Ali.

– Além da imaginação. A mídia em Israel e as trombetas da guerra. Gideon Levy.

– Mentiras. Robert Fisk.

– Judeus contra massacre. Carta de um grupo de judeus.

– Temos de ser capazes de ver a verdade por trás das mentiras. Norman Finkelstein.

– Carta aos judeus. Maurício Abdalla.

Réquiem por Israel? Boaventura de Sousa Santos.

Boicote a Israel para acabar com violência em Gaza. Naomi Klein.

– Quantas divisões? Uri Avnery.

Em nome dos palestinos. Tariq Ramadan.

Operação Chumbo Impune. Eduardo Galeano.

– Manifesto de Gandhi sobre os judeus na Palestina.

Correção

Em 22 janeiro, 2009 Comentar

Pedindo desculpas ao professor Jacques Alfonsin, gostaríamos de corrigir uma informação de seu currículo que saiu errada nas Notícias do Dia, nesta página. Alfonsin é procurador do Estado do Rio Grande do Sul aposentado, e não procurador da República aposentado, como foi publicado.

Num momento em que o debate sobre a necessidade de reduzir as energias fósseis tenta convencer o mundo a mudar de postura frente ao meio ambiente, o Brasil pretende aumentar os investimentos em energia suja, e apresenta uma proposta para dobrar o número de usinas termelétricas até 2017. Já é consenso entre os especialistas que energias renováveis devem compor a maior gama da matriz energética brasileira, mas em contra partida, o novo Plano Decenal de Energia, publicado nas Notícias do Dia, parece estar andando na contramão.
Confira a seguir alguns posicionamentos sobre o tema, concedidos com exclusividade à IHU On-Line.

>> Qual sua opinião sobre o Plano Decenal de Expansão de Energia do governo federal, considerando as campanhas mundiais a favor de energias renováveis e do combate ao aquecimento global?

“É uma insanidade esse plano. Como se justifica toda a campanha governamental pelo licenciamento das hidrelétricas no Rio Madeira em contraposição às térmicas? Perdeu-se a seriedade! Por que não investir em políticas de eficiência energética e repotenciação das hidrelétricas existentes? Registro minha indignação.”

Iremar Antonio Ferreira
Sócio-ambientalista e diretor do Instituto Madeira Vivo

“A elaboração dos planos de expansão da oferta energética sofre de um erro de origem: a ausência da sociedade no debate da questão energética, e sua efetiva participação no processo decisório. A ampliação do espaço de debate é fundamental para tornar politicamente sustentável o processo de decisão. O governo não deu muita importância à adoção de novas matrizes de energia renovável no país. As energias renováveis são relegadas no PDEE 2006-2015 e PDEE 2008-2017, enquanto deveriam ser encaradas como a grande solução para a questão energética.”

Heitor Scalambrini Costa
Coordenador dos projetos da ONG Centro de Estudos e Projetos Naper Solar e o Núcleo de Apoio a Projetos de Energias Renováveis – NAPER da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“A questão energética é o ponto mais sensível de nossa civilização. Sem incremento na produção de energia, não será possível manter os padrões de desenvolvimento e conforto que todos esperam. Paradoxalmente, precisamos de urgentes medidas de combate as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, sendo que essas medidas estão intimamente ligadas com a produção de energia oriundas de fontes mais limpas, não o contrário. Assim, equivocada está a política energética brasileira ao prever um aumento na utilização de combustíveis fósseis em vez de fomentar a energia eólica, por exemplo, que já é uma realidade no RS. Desconsiderar as consequencias futuras de nossas decisões erradas, certamente cobrará um preço alto demais no futuro, um preço que certamente não poderemos pagar.”

André Weyermuller
Professor de Direito Ambiental, da Unisinos.

>> Leia algumas edições da IHU On-line sobre a temática.

Alternativas energéticas em tempos de crise financeira e ambiental. Edição número 285, de 09-12-2008;

Energia para quê e para quem? A matriz energética do Brasil em debate. Edição número 236, de 17-09-2007;

Estamos no mesmo barco. E com enjôo. Anotações sobre o Relatório do IPCC. Edição número 215, de 16-04-2007;

A vingança de Gaia. Mudanças climáticas e a vulnerabilidade do Planeta. Edição número 171, de 13-03-2006.

Um dia sem consumo!

Em 21 janeiro, 2009 Comentar

Você é capaz de ficar 1 dia sem consumir? Esta é uma questão bastante difícil de responder, não? Consumir significa não apenas adentrar o shopping e comprar, pois é um ato implícito em muitas de nossas ações diárias e rotineiras. Certamente, um dia sem um tipo sequer de consumo é um exercício de afirmação da autonomia do sujeito, como comentou nosso leitor Haroldo Reimer, mas até que ponto sabemos não consumir?

“O capitalismo tardio molda o sujeito na medida em que é consumidor; as pessoas acabam introjetando esta proposta e se adecuando a ela. Nesta perspectiva, consumir é ser”, escreveu Haroldo ao participar da enquete que questionava exatamente isso: Você é capaz de ficar 1 dia sem consumir?

» 80,95% dos leitores do sítio do IHU disseram que são capazes sim de passar um dia inteiro sem consumir;

» e 19,05% contaram que não são capazes dessa atitude ainda.

E você consegue ficar um dia sem consumir? O que é consumo para você? Comentem aqui no blog!

A nota é de Greyce Vargas.

          Por André Dick

          Virna Teixeira, poeta e tradutora, nasceu em 1971, em Fortaleza (CE). Desde o ano 2000, está radicada em São Paulo, onde trabalha como neurologista. Publicou os livros, com poemas próprios, Visita (2000) e Distância (2005), ambos pela 7Letras do Rio de Janeiro. Também organizou as edições Na estação central (Brasília: EdUnB, 2006), com traduções de Edwin Morgan, e Ovelha negra – uma antologia de poesia da Escócia do século XX (São Paulo: Lumme, 2007).
          Em sua poesia, como já dito na estreia da editoria Invenção, Virna lança um olhar microscópico sobre pequenos detalhes do cotidiano, sobre a ausência cotidiana e sobre viagens, revelando o corpo em movimento (de fuga ou de encontro), acompanhado ou solitário. Não por acaso, seu novo livro se chama Trânsitos (no prelo da Lumme Editor). Mesmo tratando algumas vezes de locais específicos, seus poemas podem ser vistos não como flashes fotográficos ou como postais, mas como uma significação do sentimento contemporâneo de procura. Uma procura, sobretudo, por aquilo que está deslocado: “pequeno, o / frágil / corpo / soluça / / vermelha, / a flor / entre os / dedos”, como ela escreve no poema “Calçada”, de Distância. Desse modo, é comum que seus poemas falem de deslocamentos, da insegurança do sujeito no mundo, sua solidão. Observa, para demonstrar isso, sobretudo os espaços que cercam esse sujeito: o quarto, a casa, a rua, a cidade, as paisagens que cercam essa cidade, a caminhada diária de pessoas, o comportamento humano em geral. Como afirmou em entrevista à IHU On-Line, “O mundo contemporâneo é povoado, excessivo. Há muita pressa. Os deslocamentos são rápidos, as aproximações são instantâneas, mas superficiais, há a pressão da mídia e da publicidade em toda parte. O espaço sonoro é cada vez mais reduzido. Há muito barulho, muito estímulo, muita competitividade e, paradoxalmente, muita incomunicabilidade e solidão. A forma utilizada para lidar com esta angústia contemporânea é a compulsão, o consumo, o imediatismo. É preciso tempo e coragem para processar esta procura individual, o que requer um movimento interno, uma depuração deste excesso. É preciso um pouco de privacidade, de distância para compreendê-la”.
          No campo poético e cultural, Virna estabelece um diálogo sobretudo com a poesia de língua inglesa, com nomes como Robert Creeley, William Carlos Williams e Sylvia Plath, e com as artes plásticas, realizando poemas baseados em obras de artistas como a mexicana Frida Kahlo e o cearense Leonilson. Vejamos, por exemplo, o poema “Quadro”:

           de mãos dadas, as duas Fridas
           no cordão que une

           máscaras

           usa também a de coração
           ferido

          contraste de cores, simbióticas
          dos vestidos –vitoriano
          tehuano

          ambíguos, mestizos

          o sangue supre a mais fraca
          – aorta –  
          na pulsação do céu,

          sombrio
         

          Ele dialoga diretamente com o quadro de Frida:

           

          Virna reproduz em versos alguns detalhes, como o cordão que as une, as máscaras, o coração ferido. Visualiza em seguida o contraste de cores, dos vestidos, o sangue de uma que supre a outra, o céu por trás, sombrio. Como afirma na entrevista à IHU On-Line, “Meu contato com artes plásticas ocorreu muito cedo, assim como o contato com a poesia, por causa da minha mãe, que já foi até monitora de museu e hoje tem se dedicado de forma mais integral ao seu trabalho como artista. Quando criança, frequentei aulas particulares de desenho, pintura, argila etc. Mais tarde, o contato com alguns amigos, como o escultor Eduardo Frota,  foi importante para ampliar o conhecimento, sobretudo de arte contemporânea. Meu interesse por poesia e pelas artes plásticas é constante, cotidiano, então é natural que ocorra um diálogo na escrita. A forma de escrever, de criar, pode se aproximar de alguns processos utilizados nas artes – o esboço do desenho, uma maquete, a pintura, o impacto visual da fotografia”.

          Poesia com tons científicos

          Em alguns poemas, Virna utiliza um vocabulário com termos científicos, utilizando a simultaneidade de imagens. Sua formação ajuda também a explicar isso, Virna é graduada em Medicina em 1994, pela Universidade Federal do Ceará, com residência em Neurologia na Universidade de São Paulo, e especialista na área de Dependência Química, pela Escola Paulista de Medicina. Cursou um mestrado em Medicina do Sono na Universidade de Edimburgo, na Escócia, entre 2001 e 2003, e iniciou em 2008 um doutorado na Faculdade de Letras da USP, sobre o tema Literatura e Drogas. Veja-se o poema “32° Fahrenheit”

          Patinando no gelo fino, pirueta. Rachadura. Cai numa piscina vazia

          It’s so cold in Alaska

          Uma gruta azul. Descongelamento. O coração ainda. Batia

          após o acidente. O trauma, condensado

          Frostbite, hipotermia

          A pele descolore. Inconsciência

          O diâmetro das pupilas, resgate

          Prestar os primeiros socorros

          Desfibrilador, arritmia. Aquecer

          com cobertores

         cuidados, after-burns

         O sujeito, na poesia de Virna, está sempre em mudança: seja diante de um cenário contemplativo, seja diante do choque, da surpresa diante de uma realidade que às vezes está prestes a se autodestruir:

          & ter que consolar o luto, afogar a mágoa em recuo
          subir outra vez a mesma ponte
          recomeçar no mesmo ponto
          após os destroços 
 
          A antologia Ovelha negra, em que Virna reúne poetas escoceses, de modo geral, é o auto-retrato da autora/tradutora: uma poesia elaborada, vazada em flashes fotográficos, com referências ao coloquialismo (sem permanecer nos parâmetros, um tanto desgastados, dos que fazem poemas nesse sentido lembrando Manuel Bandeira ou Oswald de Andrade), conhecimento cultural, com referências a lugares, a países, tentando concentrar o máximo no mínimo – sem rotular este trabalho de “minimalista”, que empobrece sua recepção –, todos esses elementos em conjunto com um sentido incômodo de desgaste, de deslocamento, solidão e melancolia numa dose justa, sem aspirar a um tom elevado. Nesses poemas, as mudanças de verso são como mudanças de estações; passa-se do frio para um resquício de sol (mesmo que ainda no inverno), da conversa para o silêncio; de imagens rurais para imagens urbanas, marcando uma espécie de confronto poético mediado pela observação de flores – que trazem um pouco de aroma e colorido a um mundo sombrio, cinzento, apagado, em que o amor é sempre intermediado por meios de cultura. E se caminha: se caminha muito – para algum lugar ou para lugar algum. A tentativa de permanecer acontece em vão – pois todos esses poetas estão sempre de partida, seja para o mundo, seja para a própria casa. Trata-se de um deslocamento que remete a uma tentativa de alcançar a tranquilidade, num mundo em constante movimento. Como diz Hamilton Finlay, em “Poeta”: “À noite, quando o sono não chega, / Eu conto as ilhas / E suspiro quando venho a Rousay – / Minha querida ovelha negra”. Para Virna, “traduzir é estar em contato íntimo com outra língua e com a técnica de escrita e este aprendizado é muito interessante. As escolhas têm relação também com qualidades subjetivas, particulares em cada caso. (…) Ou seja, as escolhas são individuais e multifacetadas. Acho interessante selecionar poetas que são de certa forma inéditos, pouco conhecidos, porque há lacunas ainda muito grandes de tradução de poesia (do inglês e outras línguas) para o português. O interesse do público, felizmente, tem crescido”. A poesia de Virna, ao mesmo tempo, tem despertado interesse, justamente em razão dessa reinterpretação do mundo moderno que ela apresenta por meio de sua poesia e dos seus versos.