Neste período de férias que está se encerrando, tenho acompanhado com muita preocupação as notícias do site do IHU – Instituto Humanitas Unisinos. Preocupação decorrente do fato de, a cada dia, encontrar ali demissões e mais demissões noticiadas.
Não bastasse isso tudo, durante o mês de férias, recebi emails de três alunos meus que tinham seus empregos e acabaram demitidos. Um deles ainda teve garantia da direção da empresa que assessorava que, assim que a crise passar, ele deverá ser recontratado.
São três vidas interrompidas, em pleno período de início de ano, de renovar esperanças. Três pessoas que têm famílias, estudo, contas, necessidades básicas, necessidades sociais, materiais, morais, e percebem seu “chão” roubado pela demissão. Não preciso dizer que os três emails recebidos continham um ar de “e agora o que é que eu faço?” E é claro também que esta pergunta não tem resposta.
Considerando que três alunos me mandaram emails, pensei em quantos poderiam ter sido demitidos e não me enviaram nada e muito mais do que isso, nas milhares de pessoas que perderam seus empregos e eu não conheço, que não tem mesmo como me mandar emails, pois sou estranho a elas, mas que estão em situação muito parecida com as dos meus conhecidos.
Depois pensei nos trabalhadores informais, como os catadores por exemplo, cujo valor dos materiais coletados caiu pela metade ou menos da metade entre dezembro e o mês atual. Aí percebi que não ouvi nenhuma notícia de pacote de auxilio aos catadores de materiais reciclados do país. Só a grandes bancos, grandes empresas e assim por diante. Parece que os catadores, assim como muitos outros trabalhadores, muitos outros sujeitos, continuam invisíveis à sociedade como um todo.
Por fim, li nesta segunda no IHU a entrevista do Marcelo Ridenti, cujo posicionamento reforça muitas coisas que acredito. Não há mais como mantermos nossa vida em sociedade, neste planeta, baseados no paradigma desenvolvimentista entendido como crescimento econômico.
Então, infelizmente começo o ano triste e pessimista sim, percebendo que cada vez mais precisamos repensar o que se entende por riqueza, trabalho, solidariedade, cooperação, e recolocar a subjetividade, o sujeito no centro da economia e não os números, o emprego como o forjamos hoje. Parece utopia ou sonho, ou ainda delírio. Mas para mim tem um único nome “necessidade urgente”, se queremos preservar a vida das pessoas e do planeta.
Acredito que enquanto continuarmos reduzindo salários e jornada, liberando dinheiro para grandes instituições, sem discutir, por exemplo, a margem de lucro e os salários dos investidores, dos donos e executivos destas instituições e de seus familiares, continuaremos fazendo de conta que entendemos a crise e que a superaremos com crescimento econômico. Talvez isto até aconteça, ela seja superada momentaneamente, mas só vai durar até a próxima crise do trabalho ou do meio ambiente, que temo, não deverá demorar a chegar.
Creio que é necessário pensar em programas de renda básica universal e também na regulamentação da renda máxima, mas como meios e não a renda, o econômico e o consumo como fim. Ou seja, é necessário mudar a concepção de homem e mundo e não apenas navegar na superfície de um planeta destruído pelo utilitarismo de poucos e a exploração de muitos. Este é meu desabafo triste e sempre com alguma esperança – espero, de início de ano. Sorte e luz a todos nós! (Postado por Lucas Luz).