Foto: Larissa Tassinari

Foi com este questionamento, “até que ponto se pode patentear a vida?”, que o Prof. Dr. José Roque Junges provocou a platéia da conferência no Instituto Humanitas Unisinos – IHU, que aconteceu ao final da tarde da última terça-feira (24).

Com o objetivo de debater a situação da biopolítica na sociedade atual, usando como base o livro de Nikolas Rose, “The Politics of Life Itself: Biomedicine, Power, and Subjectivity in the Twenty-First Century”, o também pesquisador Dr. José Roque Junges norteou e explicou as cinco mutações científicas, apontadas pelo autor em sua obra, que possibilitam a governamentalidade biopolítica da vida.

O professor então respondeu à própria questão, dizendo que “por causa da política molecular, a vida em si mesma se torna aberta à política, porque ela é manipulável”. Isso acaba permitindo a patente de certos ângulos da vida no aspecto molecular, uma vez que a partir desse plano não se vê a vida em seu destino biológico (molar); um exemplo dado por ele seria a patente de intervenções genéticas.

Junges ainda explicou que, em sua obra, Nikolas Rose “não está criticando o que está acontecendo com a biopolítica em si, mas a mentalidade e pensamento que isso criou”. Ele discorreu mais sobre o assunto no período de debate com os presentes ao final da palestra, onde discutiu os pontos negativos e positivos do avanço tecnológico no aspecto clínico, que ele traduziu como “não um simples manuseio de instrumentos técnicos, como muitas vezes ainda é nossa visão, muito vulgar, da tecnologia”.

Diferente disso, Junges diz que “esse avanço da tecnologia gerou determinados modos de pensar e intervém com a vida”. Por um lado, hoje temos a possibilidade de descobrirmos desde a infância quais as probabilidades de desenvolvermos alguma doença hereditária, mas até que ponto isso é algo positivo, que dá controle ao homem sobre o próprio corpo? E até que ponto ele provoca o contrário, fazendo com que o ser humano viva em função de um problema que nem sequer desenvolveu (e pode não desenvolver), deixando que isso controle sua vida?

Para exemplificar, o pesquisador citou a situação da atriz americana Angelina Jolie, que virou tópico de capa de diversas revistas no ano passado ao se submeter a uma dupla mastectomia preventiva, retirando os seios por precaução, pois sua mãe faleceu de câncer de mama e seus exames mostraram que ela era predisposta a desenvolver o mesmo problema. Seria isso, então, o homem se deixando conduzir pelo poder que as tecnologias clínicas desenvolveram e exercem sobre ele?

Prof. Dr. José Roque Junges recentemente lançou seu novo livro, intitulado Bioética sanitarista – desafios éticos da saúde coletiva, no qual reflete sobre os desafios éticos da saúde no coletivo a partir das políticas públicas do SUS.

Ele também concedeu outras entrevistas e participou de algumas publicações do IHU:

O Concílio Vaticano II e a ética cristã na atualidade. Entrevista com Roque Junges publicada na IHU On-Line 401, de 03-09-2012;
“Se o aborto é um problema, a sua solução não é o próprio aborto”. Entrevista com Roque Junges publicada na IHU On-Line 219, de 14-05-2007;
Agenciamentos imunitários e biopolíticos do direito à saúde. Entrevista com Roque Junges publicada na IHU On-Line 344, de 21-09-2010;
Transformações recentes e prospectivas de futuro para a ética teológica. Cadernos de Teologia Pública, edição 7.

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Através de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira,   teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

Eu vi uma rosa
  –  Manuel Bandeira

Eu vi uma rosa
– Uma rosa branca –
Sozinha no galho.
No galho? Sozinha
No jardim, na rua.

Sozinha no mundo.

Em torno, no entanto,
Ao sol do meio-dia,
Toda a natureza
Em formas e cores
E sons esplendia.

Tudo isso era excesso.

A graça essencial,
Mistério inefável
– Sobrenatural –
Da vida e do mundo,
Estava ali na rosa
Sozinha no galho.

Sozinha no tempo.

Tão pura e modesta
Tão perto do chão
,
Tão longe na glória
Da mística altura,
Dir-se-ia que ouvisse
Do arcanjo invisível
As palavras santas
De outra Anunciação.

Fonte: Manuel Bandeira. Poesias completas. Rio de Janeiro: América, 1944, p. 309-310

Manuel Bandeira Filho foi professor, poeta, cronista, crítico, historiador literário e tradutor brasileiro. Nasceu em Recife, PE, em 19 de abril de 1886, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 13 de outubro de 1968.

Recebeu o prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira por conjunto de obra (1937) e o prêmio de poesia do Instituto Brasileiro de Educação e Cultura, também por conjunto de obra (1946).

Juntamente com escritores como João Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto Freyre, Carlos Pena Filho e Osman Lins, entre outros, representa o melhor da produção literária do estado de Pernambuco.

Como crítico de literatura e historiador literário, revelou-se sempre um humanista. Foi um poeta modernista, autor de livros como Libertinagem. Em 1954, publicou o livro de memórias “Itinerário de Pasárgada”, onde, além de suas memórias, expõe todo o seu conhecimento sobre formas e técnicas de poesia, o processo da sua aprendizagem literária e as sutilezas da criação poética. Sua obra foi reunida nos volumes Poesia e Prosa, Aguilar (1958), contendo numerosos estudos críticos e biográficos.

Na quinta-feira, 25 de setembro, o Dr. Sandro Chignola, professor de filosofia política no Departamento de Filosofia, Sociologia, Pedagogia e Psicologia Aplicada da Universidade de Padova – Itália, estará no Instituto Humanitas Unisinos – IHU para proferir duas palestras.

Às 17h30 ele iniciará sua agenda com o tema “Foucault além de Foucault: uma política da Filosofia”; esse primeiro evento terá duração de 1h e meia e encerra às 19h.

Às 19h30min dar-se-á a abertura de sua segunda palestra, intitulada “A noção de dispositivo em Foucault e Agamben – Prof. Dr. Sandro Chignola”, cuja discussão se estende até às 22h.

Nessa segunda etapa, prof. Sandro Chignola pretende analisar criticamente a importância do método filosófico utilizado por dois pensadores contemporâneos, M. Foucault e G. Agamben. Para tanto, explorará a relevância que o conceito de dispositivo teve para cada um dos autores e suas implicações para compreender o modo como os discursos, verdades e novas tecnologias afetam os sujeitos contemporâneos.

Esta atividade, promovida pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU e pelo PPG em Filosofia da Unisinos, é um dos pré-eventos que prepara a realização do XIV Simpósio Internacional Revoluções Tecnocientíficas, culturas, indivíduos. A modelagem da vida, do conhecimento e dos processos produtivos na tecnociência contemporânea, a ser realizado de 21 a 23 de outubro de 2014.

É possível inscrever-se para apenas uma ou para as duas palestras clicando nas fotos abaixo:

 

 

 

 

 

 

Dia: 25 de setembro

Palestra: “Foucault além de Foucault: uma política da Filosofia”

Horário: 17h30 às 19h

Local: Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU

 

 

 

 

 

 

 

Dia: 25 de setembro

Palestra: “A noção de dispositivo em Foucault e Agamben”

Horário: 19h30 às 22h

Local: Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU

 

Evento que tem como objetivo apresentar e discutir obras recém-lançadas e de difícil acesso conta com a presença do professor José Roque Junges, que debate sobre o livro de Nikolas Rose, “The Politics of Life Itself: Biomedicine, Power, and Subjectivity in the Twenty-First Century”.

A obra de Nikolas Rose será apresentada e discutida hoje, dia 23 de setembro, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, das 17h às 19h. O tema deste evento é preparatório para as discussões do XIV Simpósio Internacional IHU: Revoluções Tecnocientíficas, Culturas, Indivíduos e Sociedades. A modelagem da vida, do conhecimento e dos processos produtivos na tecnociência contemporânea, que será promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU em outubro deste ano.

O professor José Roque Junges concedeu recentemente à IHU On-Line uma entrevista falando sobre o evento. Confira aqui!

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José Roque Junges (foto) é jesuíta, graduado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, possui mestrado em Teologia pela Pontificia Universidad Catolica de Chile e doutorado em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Itália. Tem experiência na área de Teologia, Filosofia e Ética, com ênfase em Bioética. Atualmente é professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unisinos.

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Veja outras contribuições do professor José Roque Junges ao IHU.

Suélen Farias

Pátio interno da Unidade Carlos Santos preparado para a partida do Brasil contra o México pela Copa do Mundo (Fonte: FASE-RS)

“Antes a gente fazia prevenção. Era um trabalho muito bom. A FEBEM dava muitos cursos, vinha gente de toda cidade querendo colocar seus filhos aqui. Mas depois do ECA… a Maria Josefina Becker (presidente da FEBEM) foi um horror para nós. Ela assumiu num dia e no outro acabou com o cargo de instrutores, aqueles que davam os cursos para os adolescentes. O cargo foi extinto, eles não tinham mais onde trabalhar. O que eles iriam fazer? Ficamos só com os infratores. Agora está tudo diferente. Não fazemos mais nada de prevenção… O que a gente faz? Aqui a gente molda eles (imita com as mãos a figura de um quadrado), impõe limites”.

Este é o depoimento de Lúcia, uma pedagoga que trabalhou há 30 anos na  Fundação de Atendimento Sócio-Educativo  (FASE). Seu relato foi um dos exemplos dados para mostrar das mudanças que ocorreram nas práticas do governo em relação ao trabalho realizado com adolescentes autores de atos infracionais. E para Patrice Schuch (Departamento de Antropologia/PPGAS UFRGS), mostra também uma visão nostálgica das formas de intervenção feitas pela FEBEM, além de apontar uma distinção entre prevenção e processos de enquadramentos de conduta.

DSC_0002A professora, especializada nas áreas da antropologia do direito, infância e juventude, estado e políticas públicas, direitos humanos e ética em pesquisa antropológica, participou na última quinta-feira (18) do IHU ideias, intitulado Práticas de Governo, Cultura e Subjetividade: etnografia dos circuitos de atenção à juventude violenta.

Durante o evento, a professora trouxe como tema questão como a da Justiça Restaurativa: ela baseia em um procedimento de consenso onde vítima e infrator, junto com outros membros da comunidade afetados pelo crime, participam de forma coletiva em debates para construírem soluções sobre traumas e perdas causados pelo crime. No Brasil, para Patrice, este método é tratado como uma justiça alternativa devido à pretensão de ser uma ruptura com o sistema judicial tradicional, que é considerado autoritário e altamente punitivo.

Outra questão foram em relação das mudanças sofridas após a substituição do  Código de Menores (1979), que tinha como política um autoritarismo estatal e desigualdade no controle social, e do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), que incluía uma democratização e a universalização dos direitos, e que servia também como um instrumento de desenvolvimento social.

Para contextualizar e mostrar um pouco dos resultados e das situações de quem atua com estas práticas do governo, Patrice trouxe relatos, tanto relatos positivos quanto graves, que, segundo a professora, não podem ser analisados como ferramentas neutras de cuidado e ação, mas como elementos políticos e morais onde são “configurados autoridades, populações e modos preferenciais de intervenção”.