Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora e com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

Faze de mim

 Faze de mim o sentinela de teus longes,
 faze de mim o ouvidor do rochedo;
 dá-me que os olhos meus eu arregale
 por sobre a solitude de teus mares;
 deixa-me ser o leito de teus rios,
 infenso ao grito de qualquer das margens,
 bem longe, para além do som das noites!

 Dança-me por tuas vazias terras
 pelas quais os mais largos ventos passam
 e onde claustros, como muros enormes,
 encerram tantas vidas não vividas.
 Lá ficarei eu entre peregrinos,
 das vozes e das atitudes deles
 isolado não mais por mentira nenhuma
 e atrás de idosos cegos
 seguindo a senda que nenhum conhece.

Fonte: Rainer Maria Rilke. O livro de horas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993, p. 150.


 

Foto: Wikipedia

Rainer Maria Rilke (1875-1926): Importante poeta alemão do século XX, dono de poesias conhecidas pela inovação e estilo lírico. Publicou em 1894 sua primeira obra intitulada Vida e Canções (Leben und Lieder). O poeta acreditava que a manifestação divina podia ser observada em todas as coisas. Sua poesia incitava o pensamento existencial e provocava o enfrentamento dos dilemas do começo do século XX. Além disso, sua obra superava exaltava a conexão entre homem e mundo. No Brasil, seu principal tradutor é  Augusto de Campos, que lançou em 2003 o livro Coisas e anjos de Rilke (São Paulo: Perspectiva).

 

Dirce Harue Ueno Koga – Foto: Acervo IHU

Políticas públicas: territórios de vida e territórios vividos será o tema da palestra ministrada pela Profª. Drª. Dirce Harue Ueno Koga, da Universidade Cruzeiro do Sul – SP. Em entrevista concedida por e-mail à revista IHU On-LineDirce avalia os desafios do século XXI. “Penso que os desafios iniciais para as políticas públicas no Brasil se referem a investir em conhecimento sobre as diversidades, desigualdades e particularidades das 5.570 cidades que hoje fazem parte do cenário nacional”, relata.

Além disso, ao debater sobre a temática territórios, a pesquisadora reconhece que os debates sobre o tema na área de assistência social são recentes: “territórios são seres vivos e dinâmicos, pois neles atuam e interagem atores sociais os mais diversos, que disputam sua ocupação”. E completa: “a perspectiva territorial na política de assistência social, em minha opinião, ainda não está devidamente consolidada e incorporada no cotidiano da política. Considero que é a dimensão do território de vivência, isto é, a escala do cotidiano dos territórios, que talvez mais se aproxime das demandas de proteção social, defesa de direitos e vigilância social, que se constituem as três funções da política de assistência social”.

O evento, que ocorrerá no dia 1º de setembro, das 19h30min às 22h, na Sala Ignacio Ellacuría e CompanheirosIHU, faz parte do 2º Ciclo de Estudos Metrópoles, Políticas Públicas e Tecnologias de Governo. Territórios, governamento da vida e o comum.

Sobre a palestrante:

Dirce Harue Ueno Koga possui graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestrado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, e doutorado e Pós-doutorado em Serviço Social também pela PUC-SP.

Atualmente é pesquisadora, professora titular da Universidade Cruzeiro do Sul e Coordenadora do Programa de Mestrado em Políticas Sociais na mesma universidade; é professora assistente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo do Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social. Coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisas Cidades e Territórios junto ao Programa de Mestrado em Políticas Sociais da Universidade Cruzeiro do Sul.

 

Por Fernanda Forner

O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, promoveu no dia 28 de julho a Oficina Realidades, Diagnóstico Socioterritorial e Mapa Falado, com a assessoria de MS Marlene Rosa de Oliveira Fiorotti e Acad. Roberto Pereira do Nascimento Junior, trabalhadores da Diretoria de Vigilância Socioassistencial do município de Canoas.

Oficina – Realidades, Diagnóstico Socioterritorial e Mapa Falado

O objetivo da oficina foi apresentar as referências e metodologia do Diagnóstico Socioterritorial e do processo de construção do Mapa Falado, que se constituem em estratégia fundamental para conhecer, analisar e debater sobre as realidades, em vista do planejamento de políticas públicas locais. A exposição foi realizada a partir da experiência realizada no município de Canoas.

A Oficina iniciou com a reflexão individual dos participantes sobre suas experiências de cidadania. Seguiu-se a socialização das experiências, revelando diferentes expressões, territórios e perspectivas de atuação, que, na sua maioria se constitui em redes.

Em um segundo momento, foram formados grupos para a realização de uma atividade. A estes grupos foram entregues mapas de alguns municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, para que os participantes se identificassem como moradores e/ou trabalhadores destes territórios. A partir disso, a tarefa dada aos grupos foi de indicar os pontos de proteção e desproteção sociais, caracterizando as realidades que constituem cada território.

A partir daí foi apontado o desafio de que os grupos escolhessem um ponto de desproteção e indicassem estratégias para a sua superação. Assim, alguns dos pontos de desproteção apontados foram os de mobilidade urbana, infraestrutura urbana e acesso a saneamento básico.

A partir desta dinâmica, Marlene e Roberto apresentaram o Diagnóstico Socioterritorial de Canoas e o Mapa Falado elaborado, aliados aos seus resultados, avaliações e perspectivas futuras, que foi realizado no município de Canoas durante o ano de 2014.

Entenda o Diagnóstico Socioterritorial de Canoas
O Diagnóstico Socioterritorial é uma produção coletiva que envolveu a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social – Diretoria de Vigilância Socioassistencial de Canoas, e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Instituto Humanitas Unisinos e Curso de Serviço Social, com contribuições do Centro Universitário Lasalle – Observatório do Trabalho e a assessoria da Professora Dirce Koga.

Este exercício coletivo iniciou-se com levantamento dos indicadores sociais junto aos institutos de pesquisa, tais como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, bem como a outros possíveis produtores de informações nas políticas públicas, como Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Municipal de Segurança Pública, setor de monitoramento, entre outras instituições municipais.

Os indicadores sociais apresentam a realidade dos quadrantes e os seus respectivos bairros com georreferenciamento das informações coletadas. Para compor o diagnóstico foram realizadas pesquisas de campo para os quadrantes, com o envolvimento de todos os bairros em cada quadrante, com o objetivo de captar a realidade vivida em cada território.

Para tanto, foram feitas oficinas com a Rede intersetorial em cada quadrante, seguida por oficinas com a população e com representação de todos os bairros do referido quadrante, bem como entrevista com a população em geral em lugares variados da cidade, quais sejam: ponto de ônibus, no Centro de Referência de Assistência Social, na Unidade de Saúde, na escola, na associação de Moradores, no salão da igreja, entre outros.

A pesquisa que direcionou a construção do diagnóstico socioterritorial foi a questão de proteção e desproteção social no território. Sendo assim, este diagnóstico desde a sua origem fez o exercício de leitura de realidade neste sentido, buscando parceria com as políticas sociais em geral da cidade.

Para além do “mapeamento” da população em vulnerabilidade e territórios com incidência de pobreza, o diagnóstico quer sinalizar em que medida a proteção social está sendo efetivada e o que precisa ser melhorado para o enfrentamento da desproteção social no e do território.

O diagnóstico socioterritorial ora apresentado será uma das principais ferramentas para planejamento, intervenção, monitoramento e avaliação da política de assistência social, em articulação com as demais políticas públicas locais.

Entenda o Mapa Falado

O Mapa Falado foi construído a partir da dinâmica do Diagnóstico Socioterritorial, que contou com a participação da comunidade. Foram indicados os pontos de proteção e desproteção social com o auxílio de mapas georreferenciados, em encontros realizados em cada quadrante. Por isso, a denominação Mapa Falado.

Esta experiência foi apresentada no 3° Simpósio de Investigação e Ação Participativa, em Bogotá, na Colômbia. Marlene comentou que algumas experiências semelhantes ao Mapa Falado de Canoas foram realizadas em outros países e denominadas de Cartografia Social.

Por Marilene Maia e Matheus Nienow.

Para ler mais:

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora e com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

A BIOGRAFIA
(Thomas Merton)

Oh leia os versos dos chicotes carregados,
E o que está escrito em suas terríveis observações:
“O Sangue escorre pelos muros da cidade de Cambridge.
Tão inúteis quanto as Águas do estreito rio-
Enquanto bar e beco Apostam por Sua veste”.

Embora minha vida seja escrita no Corpo de Cristo como
um mapa,
As unhas imprimiram naquelas mãos abertas
Mais do que nomes abstratos de pecados,
Mais do que os países e as cidades,
Os nomes das cidades, os números das casas,
O Registro dos dias e das noites,
De quando eu O assassinei em cada praça e rua.

Lança e espinho, e chicote e unha
Mais do que fizeram Sua Carne minha crônica.
Minhas jornadas mais do que ferem Seus pés sangrando.
Cristo, do meu berço, eu O reconheci em todos os lugares,
E apesar de ter pecado, eu caminhei por Vós, e sabia
que Você era meu mundo:
Você era minha França e Inglaterra,
Meus mares e minha América:
Você era minha vida e ar, e ainda assim Você não me pertencia.

Oh, quando O amei, mesmo quando Te odiei,
Amando e mesmo assim Te recusando em todas as glórias de
Seu universo

Foi a Sua Carne viva que eu rasguei e pisoteei, não o
Ar e terra:
Não que Você nos sinta, nas coisas criadas,
Mas conhecer Você, nelas, fez cada pecado um sacrilégio;
E cada ato de cobiça se tornou uma profanação
Estragou e O desonrou como em Sua Eucaristia

E ainda assim com cada ferida Você me roubou de um crime,
E como cada golpe foi pago com Sangue,
Você também me pagou cada grande pecado com graças maiores.
Pois mesmo O tendo matado,
Você Se transformou em um ladrão maior do que qualquer outro em Sua
companhia,
Roubando meus pecados para Sua morte em vida ,
Me roubando até mesmo de minha morte.

Onde, em qual cruz minha agonia Virá
Eu não pergunto à Você:
Pois é escrito e realizado aqui,
Em cada Crucifixo, em cada altar.
É minha narrativa que se afoga e é esquecida
Em Seus Cinco Jordões abertos,
Sua voz que grita minha: “Consummatun est”.

Se em Sua vida e morte de Jornada com a Cruz e a minha (vida) são uma única,
O amor me ensina a ler, em Você, o resto de uma nova história.
Eu traço meus dias de volta à outra infância,
Trocando, conforme eu vou,
Nova Iorque e Cuba por sua Galiléia,
E Cambridge por Sua Nazaré,
Até que retorno ao meu começo,
E encontro uma manjedoura, estrela e palha,
Um par de animais, alguns homens simples,
Agora não na França, mas em Belém.

Fonte: The Collected Poems of Thomas Merton. New York: New Directions Publishing Corporation, 1977.

Thomas Merton (1915-1968): Monge trapista, místico, artista plástico, defensor do diálogo inter-religioso e importante escritor, com mais 70 livros publicados sobre espiritualidade, dos quais 40 estão em português, entre eles, “A montanha dos sete patamares” (Editora Vozes, 2005). Manteve contato com líderes espirituais e intelectuais, e foi principalmente ligado ao Budismo e às questões políticas. Tornou-se “inabalável” na sua busca constante por Deus, fato retratado pelas orações que escrevia.

Saiba mais sobre Merton:

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora e com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

Irmão Fogo

Ó Fogo, meu irmão,

Estou cantando tua vitória!

Tu és a imagem brilhante e vermelha

Da terrível liberdade.

Tu esvoaças teus braços pelo céu

E teus dedos correm impetuosamente

Nas cordas da harpa.

Como é bela a música de tua dança.

Quando meus dias chegarem ao fim

E os portões forem abertos,

Tu queimarás até às cinzas

As amarras que me prendem

As mãos e os pés.

Meu corpo se unirá a ti,

Meu coração será colhido

No turbilhão de teu frenesi,

E o calor ardente que foi minha vida

Saltará como faísca,

Unindo-se à tua chama.

Fonte: Rabindranath Tagore. Poesia mística (Lírica breve). São Paulo: Paulus, 2003, p. 182.