Fotos: Nahiene Alves

Fruto de um trabalho que conectou a mobilidade entre os migrantes africanos e a cosmologia, a professora Eufémia Vicente Rocha esteve presente no Instituto Humanitas Unisinos – IHU, no dia 1º de outubro, apresentando a palestra Fluxos migratórios e cosmologias religiosas na África Ocidental: uma etnografia sobre feitiçaria, fronteiras e territórios. Durante a atividade foram citados conceitos como corda, mestre (um tipo de curandeiro) e cordeiros, que são pessoas que usufruem dos trabalhos dessas feitiçarias.

Escolhendo como foco de sua pesquisa na África, os imigrantes, Eufémia observou, durante sua viagem, a população Cabo-verdiana convivendo com os imigrantes da África ocidental, já que na época havia um aumento desses imigrantes. Tal fluxo se dava de forma dualista, pois envolvia também a feitiçaria. E então a professora passou a encontrar cosmovisões nativas, mas também observou fazeres e práticas de feitiçarias que não eram africanas. Segundo Eufémia, os Cabo Verdianos não conheciam esse mundo, tendo assim uma reconfiguração da identidade religiosa de lá, transformando o modo como as feitiçarias julgavam as fronteiras imaginárias de Cabo Verde, como cura ou adivinhação e qual relação existia entre a corda e a mobilidade.

“Achei muito mais interessante enxergar [a feitiçaria] como uma matriz, humanos interagindo e desenvolvendo isso junto”, explica ela. “Estava procurando o que movia esses cordeiros, ou esses mestres”, comenta, pois ao mesmo tempo em que a população vai à Igreja, pode visitar um mestre, ou uma curandeira. Não há problema nisso, as pessoas caminham livremente entre todas as religiões. Mestres e cordeiros circulam em busca do que precisam para resolver e curar seus problemas. Recorrem a um muçulmano, se for necessário.

Eufémia conta que na África é onde se encontra ferramenta para os melhores remédios. E que os mestres, independente de que país for, deve passar por alguns métodos para se tornar mais forte e ser considerado um bom mestre. Desaparecer por um tempo, por exemplo, viajando, para fazer uma reciclagem. Na crença deles, quanto mais se adentra na feitiçaria, a corda fica mais forte. Isso foi uma imagem criada em torno do continente Africano, como um lugar onde há força.

Por Nahiene Alves

Para ler mais: 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora e com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

Do lírio e do pássaro

Pai celestial!
Que aprendamos o que é tão difícil de aprender
em meio à sociedade humana,
especialmente em seu tumulto;
aquilo que, se alhures aprendemos,
tão facilmente esquecemos em meio à sociedade humana,
especialmente em seu tumulto:
o que significa ser homem,
e aprendamos que isso piedosamente é demandado.
Que o aprendamos, e caso o tenhamos esquecido,
tornemos a aprender do lírio e do pássaro!
Que o aprendamos, senão de uma só vez
e cabalmente, ao menos em parte e pouco a pouco!
Que aprendamos agora do lírio e do pássaro:
silêncio, obediência e alegria!

Fonte: Soren Kierkegaard. Os lírios do campo e as aves do céu. Três discursos piedosos, 1849.

Søren Kierkegaard (05-05-1813 – 11-11-1855): Teólogo e filósofo dinamarquês. Um pensador pós-iluminista que estava vinculado a uma pauta cristã, mas que não deixou de servir como modelo ao mundo secular. Suas obras tratam, em especial, da existência humana e do modo de vida que cada indivíduo deve viver, abordando as opções pessoais que cada um pode seguir. Kierkegaard deixou um grande legado de sua criação, com inúmeras publicações. Entre suas obras traduzidas para o português, destacamos: O conceito de ironia (Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2005); Migalhas filosóficas (Petrópolis: Vozes, 2008); As obras do amor (Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007); e In vino veritas (Lisboa: Antígona, 2005).

*Fonte da imagem: www.recantodasletras.com.br

Para ler mais:

Há 500 anos, na cidade de Ávila (Espanha), nascia uma mulher à frente do seu tempo, Teresa Sánchez de Cepeda y Ahumada.

Dia 15 de outubro é o dia em que celebramos essa mulher mística, poeta, peregrina, doutora da Igreja.

Com 20 anos de idade fugiu de casa com o desejo de se dedicar à vida religiosa e por outros 25 viveu no Convento Carmelita de Encarnacíon, em Ávila. De lá saiu para reformar o Carmelo e criar a Ordem das Carmelitas Descalças, pois julgava que a aproximação com Deus só seria completa se pudesse encontrar um local tranquilo. Para Teresa, era necessário um espaço simples e com regras primitivas para a realização de uma plena experiência mística.

Vontade

Essa vontade de mudança, conforme observa Luciana Ignachiti Barbosa, em entrevista concedida à IHU On-Line, deu-se porque Teresa de Jesus “não suportava mais estar em lugar tão confortável; ansiava pela solidão, pelo recolhimento e pela vida simples com sacrifícios, para que melhor estivesse com Deus”, destaca. “Foi então que a ideia de fundar mosteiros em que a regra primitiva fosse observada calou mais fundo em seu coração. Cansada da superlotação do seu mosteiro da Encarnação e da falta de reclusão que havia ali, Teresa ansiava por poder realmente servir à regra de Santo Adalberto: amor, silêncio e pobreza”, complementa.

Carmelitas Descalças

A fundadora das Carmelitas Descalças desejava uma experiência de encontro com o Divino e acreditava que Deus era um caminho próximo e também humano. Seus escritos e suas profundas experiências místicas a colocaram como uma das mulheres mais importantes do catolicismo.

Santidade

Em 1970, Teresa de Ávila, foi proclamada Santa pelo Papa Paulo Vl, que também a consagrou como Doutora da Igreja e neste ato a definiu como: “uma mulher excepcional, como uma religiosa que, coberta inteiramente pelo véu da humildade, da penitência e da simplicidade, irradia à sua volta a chama da sua vitalidade humana e do seu dinamismo espiritual, e depois como a reformadora e fundadora de uma Ordem religiosa insigne e histórica, escritora genialíssima e fecunda, mestra de vida espiritual, incomparável na contemplação e infatigável na ação. Como é grande, como é única, como é humana e como é atraente esta figura!”

Escultura: Êxtase de Santa Teresa de Gian Lorenzo Bernini, localizada na Igreja de Santa Maria da Vitória, em Roma.

A transformação

Sua metáfora sobre o bicho da seda, que se transforma em borboleta, evidencia um chamado para a mudança que ocorrerá após a experiência com Deus. É caminhada de cada um em relação ao Divino, que “supõe um caminho de morte vida, ganhos e perdas, segundo a lógica do seguimento, trilhado com Cristo e em Cristo. É na vivência do amor que a pessoa integra todas as suas potencialidades. As crises e contradições podem converter-se em lugar de encontro. A pessoa, sabendo-se amada, responde amando. Sente-se convidada a “conhecê-Lo, amá-Lo, torná-Lo conhecido e amado”, conforme destaca Rita Romio, Irmã Teresiana, em artigo recente.

Ensinamentos

Suas obras são um chamado atual de exame de consciência, que levam a refletir sobre o contexto ao qual estamos inseridos, conforme destacou o professor Faustino Teixeira, em recente entrevista concedida à IHU On-Line: “Vivemos sob o domínio da produtividade, da busca desenfreada pelo sucesso, escravos das leis do mercado. Os grandes místicos, como Teresa, destacam a importância de outro ritmo para a vida, de cuidado com o mundo interior, de quietação dos sentidos, de atenção aos toques do silêncio. Na perspectiva de Teresa, o mergulho no mundo interior é fundamental, mas ele vem sempre acompanhado de uma sede de irradiação, de uma tensão operativa, visando sempre à virtude da caridade”.

Escritos

Sobre os escritos de Santa Teresa, Julia Kristeva – estudiosa que escreveu Thérèse mon amour. Sainte Thérèse d’Avila (Paris: Fayard, 2008) -, em entrevista publicada pelo jornal L’Osservatore Romano e reproduzida pelo sítio do IHU, enfatiza que “a escrita dessa mulher sem fronteiras nos oferece o seu corpo físico, erótico, bon vivant e anoréxico, histérico, epilético, que se faz verbo e se faz carne, que se faz e se desfaz em si fora de si, fluxos de imagens sem marcos, constantemente em busca do Outro e da palavra certa. Matriz aberta que palpita pelo amado sempre presente, sem nunca estar lá. Os êxtases de Teresa são, de repente e sem distinção, palavras, imagens e sensações físicas, espírito e carne, ou talvez, justamente, carne e espírito.”

Obras

Entre seus livros mais famosos estão o Livro da Vida (São Paulo: Penguin Classics – Companhia das Letras, 2010), Caminho da Perfeição (São Paulo: Paulus, 2014), Moradas e Fundações (São Paulo: Paulus, 2014), entre outros. Também é autora de poemas, dos quais restam 31 deles, e enorme correspondência, com 458 cartas autenticadas.

Teresa de Ávila morreu no dia 4 de outubro de 1582, com 67 anos. Foi sepultada em Alba de Tormes, onde também estão suas relíquias.

*Fontes das imagens: domvob.files.wordpress.com, c1.staticflickr.com e teresadejesus.carmelitas.pt,  respectivamente. 

Por Cristina Guerini

Para ler mais:

Foto: http://bit.ly/1FUzG2O

Dando continuidade ao primeiro debate realizado no mês de setembro sobre a Carta Encíclica do Papa Francisco Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum, o Instituto Humanitas UnisinosIHU realiza o 2º debate sobre a Carta Encíclica Laudato Si’. O evento, que ocorrerá no dia 15 de outubro, será realizado no Auditório Central da Unisinos, às 19h30min.

Reforçando o debate sobre o meio ambiente, a Carta Encíclica do Papa Francisco Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum, publicada em 18 de junho deste ano, trouxe à tona diversos temas importantes para analisar a atual situação do mundo. São quase 200 páginas acompanhadas de 172 notas de rodapé, que tratam de três eixos principais: a crise ecológica, o antropocentrismo moderno e a economia mundial.

O jesuíta norte-americano Thomas Reese escreveu um guia de leitura para a Laudato Si’ no qual apresenta as temáticas abordadas em cada capítulo. Ele explica que, apesar de ser um documento papal, a carta é de fácil leitura e pode ser debatida em grupo. “Qualquer um pode baixar o texto integral na internet, chamar os amigos e dizer: Vamos ler e discutir a encíclica. Qualquer um que participe de um clube de leitura poderá recomendar que a encíclica seja a próxima leitura”, destaca.

O Papa Francisco inicia o texto da encíclica citando São Francisco de Assis, um dos santos mais populares da Igreja Católica. No primeiro capítulo, apresenta um panorama sobre a situação ecológica do mundo, abordando assuntos como clima, poluição, descarte de resíduos, perda da biodiversidade e desigualdades. Ele também analisa a forma como a degradação ambiental afeta a vida humana e a sociedade.

O “Evangelho da Criação” é o tema principal do segundo capítulo, no qual o pontífice sustenta que, dado que o mundo foi criado por Deus, todos podem cuidar da natureza e dos mais vulneráveis.“Tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos como irmãos e irmãs numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma das suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão sol, à irmã lua, ao irmão rio e à mãe terra”, pontua. E conclui: “A Terra é, essencialmente, uma herança comum, cujos frutos devem beneficiar a todos”.

Foto: http://bit.ly/1QapNxX

A discussão abordada pelo papa no terceiro capítulo é sobre a “raiz humana da crise ecológica” e como o homem contribuiu para essa crise. No quarto capítulo, Bergoglio fala sobre “ecologia integral”, sua principal proposta para a encíclica, a fim de combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza.

Sobre a proposta de Francisco, o teólogo Leonardo Boff afirmou, em entrevista à IHU On-Line, que a ecologia integral é “a grande novidade” da  Laudato Si’: “O conceito de ecologia integral é ‘o ponto central da construção teórica e prática da Laudato Si’. Receio que ela não seja entendida pela grande maioria, colonizada mentalmente apenas pelo discurso antropocêntrico de ambientalismo, dominante nos meios de comunicação social e infelizmente nos discursos oficiais dos governos e das instituições internacionais como a ONU. Como o novo paradigma sugere, todos formamos um grande e complexo todo”.

No quinto capítulo, Francisco convida o leitor para um diálogo sobre política ambiental nas comunidades internacionais, nacionais e locais, em linhas de abordagem e ação. “Este diálogo deve incluir a tomada de decisões transparente de modo que a política esteja a serviço da realização humana – e não apenas dos interesses econômicos. Envolve também o diálogo entre as religiões e a ciência, trabalhando juntas para o bem comum.”, comenta Thomas Reese.

O último capítulo da carta traz como tema a “educação ecológica e espiritualidade”. Sobre esse aspecto, Reese destacou que o “essencial aqui é uma espiritualidade que possa nos motivar a uma preocupação mais apaixonada para com a proteção deste nosso mundo”.

O francês Edgar Morin também foi um dos filósofos que falou sobre o documento de Bergoglio. Em entrevista publicada no jornal La Croix e reproduzida no sítio do IHU, Morin defende que “Francisco definiu a ‘ecologia integral’, que não é, sobretudo, esta ecologia profunda que pretende converter ao culto da Terra e subordinar tudo a ela. Ele mostra que a ecologia toca profundamente as nossas vidas, a nossa civilização, os nossos modos de agir, nossos pensamentos.”

Por Fernanda Forner

A encíclica também pode ser vista em um vídeo de 6min18s.

[youtube]1tYdOIqvpqg[/youtube]

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Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora e com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

Hino ao Senhor do Universo
Salmo 148

Aleluia!
Louvai o Senhor, do alto dos céus,
louvai-o nas alturas!
Louvai-o vós todos, seus anjos,
louvai-os vós todos, seus exércitos!
Louvai-o, sol e lua,
louvai-o vós todas, estrelas brilhantes!
Louvai-o vós, os mais altos céus,
louvai-o, águas que estais acima dos céus!
Que eles louvem o nome do Senhor,
pois ele mandou, e foram criados!
Ele os fixou para todo o sempre,
ao promulgar uma lei, que não passará.
Louvai o Senhor, vós da terra;
dragões e vós, todas as profundezas do oceano,
fogo e granizo, neve e neblina;
vento de tempestade, dócil à sua palavra;
montanhas e todas as colinas,
árvores frutíferas e todos os cedros;
todos os animais selvagens e domésticos,
répteis e aves que voam;
reis da terra e todos os povos,
príncipes e todos os chefes da terra;
moços e vós também moças,
velhos e crianças!
Que eles louvem o nome do Senhor,
pois o seu nome é o único que é sublime!
Sua majestade, sobre a terra e o céu,
suscita o vigor de seu povo,
o louvor de todos os seus fiéis,
dos israelitas, o povo que lhe é próximo.
Aleluia!

 

*Fonte da imagem: www.baixaki.com.br/papel-de-parede/14922-montanhas.htm