Como parte do 2º Ciclo de Estudos Metrópoles, Políticas Públicas e Tecnologias de Governo. Territórios, governamento da vida e o comum, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU promove a mesa-redonda intitulada Movimentos sociais de resistência: coletivas de ocupação urbana. Relatos de experiências no país, no dia 5 de novembro, às 17 horas, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU.

O debate visa compartilhar experiências vividas nos movimentos de resistências que estão acontecendo em diversas regiões do país. Tais como Ocupação Pandorga, Coletivo Ateneu Libertário a Batalha da Várzea, Vila Gaúcha e Vila União.

Entre os objetivos do Ciclo está o de identificar as expressões, manifestações e lutas de resistência das populações metropolitanas. Por conta disso, o IHU convidou as lideranças desses movimentos para participar da atividade, que contará com a participação de Guilherme Schroder, Lorena Castillo, Darci Campos dos Santos e Orley Maria da Silveira, para falar de suas experiências em relação à ocupação dos espaços públicos.

Os movimentos de ocupação dos espaços públicos lutam por mais segurança e direito pleno de usufruir as cidades, para que todos possam desfrutar sem receio de parques, ruas e qualquer espaço público que desejarem, seja com amigos ou familiares.

Tais debates vêm à tona quando, por exemplo, surgem propostas de cercar locais públicos, como em São Paulo, com o vão do MASP, ou o Parque Farroupilha, em Porto Alegre, com o intuito de trazer mais segurança ao local e evitar vandalismos à noite. Fato que é visto como uma ilusão pelos ativistas dos movimentos de resistência.

Ao longo dos últimos anos iniciativas de ocupação urbana e de conscientização do direito à cidade vêm mostrando sua importância. Um exemplo é a ocupação que ocorreu no parque Gezi, na Turquia, que acabou desencadeando a Primavera Árabe.

No ano de 2013 a população de Istambul ocupou a Praça Taksim, para protestar contra a destruição da área verde que resultaria na  construção de um shopping center, tornando-se um movimento de resistência. Mais tarde, grandes manifestações surgiram, como o movimento dos Indignados, que também serviram para o surgimento de partidos políticos e grandes mobilizações.

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Por Nahiene Alves

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Entre os anos 2006 e 2012, os pesquisadores Marcelo Medeiros, Pedro Ferreira de Souza e Fábio Avila de Castro, realizaram o estudo A estabilidade da desigualdade de renda no Brasil, 2006 a 2012: Estimativa com dados do imposto de renda e pesquisas domiciliares. A pesquisa pode possibilitar a comparação de dados entre a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e do Imposto de Renda. A análise evidenciou que a desigualdade de renda no Brasil é 11% maior que os dados apresentados pelo PNAD.

A pesquisa relatou que a maior parte da riqueza do Brasil está concentrada em 10% da população. No entanto, o estudo também constata que grande parte desta parcela concentrada de cidadãos não é formada por milionários; são “pessoas comuns”, diz o estudo. Um dos autores da pesquisa, o economista Prof. Dr. Marcelo Medeiros, ministrará por webconferência a palestra Os ricos e a desigualdade de renda no Brasil, no IHU Ideias, que será realizado no dia 11 de novembro, às 17h30min, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU. 

A palestra debaterá, principalmente, a desigualdade e a distribuição de renda no país. Em entrevista concedida à IHU On-Line, Medeiros explicou que para alguém estar inserido nessa pequena porcentagem, é preciso ganhar mais de 38 mil reais por ano: “Pode não parecer muito, mas é bem mais do que ganha a grande maioria da população brasileira. A metade mais pobre da população do Brasil não ganha mais do que 10 mil reais por ano”, enfatizou o economista.

Foto: Opera Mundi

A diferença entre os dados de desigualdade no Brasil fornecidos pelo PNAD e pelo Imposto de Renda, chamou a atenção do economista francês Thomas Piketty, autor do livro O Capital no Século XXI. Piketty ressaltou que o país precisa de uma “maior transparência sobre os dados de imposto de renda no Brasil para que, de fato, seja possível compreender a evolução da disparidade social”.

Mas, apesar dessa diferença, Medeiros defende o órgão e ressalta “A PNAD é uma pesquisa de excelente qualidade. Os Censos também. Em todo o mundo, pesquisas como a PNAD e os Censos têm dificuldades em captar adequadamente a renda das pessoas mais ricas. Dados do Imposto de Renda captam essas rendas de modo mais preciso. Eles (PNAD e Censos) continuarão sendo nossa principal fonte de informação social por muito tempo”.

Marcelo Medeiros é graduado em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e Mestre e Doutor em Sociologia pela mesma instituição. Atualmente realiza estudos sobre Desigualdade Social, é pesquisador do Ipea e professor da UnB.

Por Matheus Freitas

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“Mapear os processos dentro dos quais os saberes e os poderes agem uns sobre os outros, em um processo de coprodução circular sobredeterminada pela axiomática do capital e por algumas formas contemporâneas de acumulação”, é a proposta do professor Sandro Chignola no artigo que acaba de ser publicado em Cadernos IHU ideias, nº. 228.

O texto, intitulado A vida, o trabalho, a linguagem. Biopolítica e biocapitalismo, é a conferência proferida pelo professor durante o XVII Simpósio Internacional IHU – Saberes e Práticas na Constituição dos Sujeitos na Contemporaneidade, realizado em setembro, na Unisinos São Leopoldo.

No artigo, Chignola esclarece que o conceito de biopolítica não se refere a “um período de transição do capitalismo”, mas sim como um princípio fundamental do capitalismo, onde tudo é movimentado por uma disputa de poder e controle. Nesse sentido, o professor destaca que o neoliberalismo funciona como alavanca para que o “espírito empresarial e a concorrência” atuem como a regra geral na condução do capital.

Além disso, Sandro Chignola fala da relação entre biocapital, entendido como “um dispositivo de acúmulo e de valorização”, e tecnociência; dos processos de acumulação; do capitalismo congnitivo; e de como o biocapitalismo funciona como uma forma de “disciplinamento e captura da vida”. Estes, entre outros, são alguns dos temas abordados pelo filósofo ao longo do texto.

Sobre o autor

Chignola é professor de Filosofia Política no Departamento de Filosofia, Sociologia, Pedagogia e Psicologia Aplicada na Universidade de Pádua, Itália. É doutor em História do Pensamento Político. Realizou pós-doutorado na École des Haute Études en Sciences Sociales e na École Normale Supérieure de Lettres et Scinecs Humaines. É autor, entre outros, de Historia de los conceptos y filosofia política (Madrid: Biblioteca Nueva, 2010).

O professor publicou na edição 214 do Cadernos IHU ideias o texto intitulado Sobre o dispositivo. Foucault, Agamben, Deleuze.

Cadernos IHU ideias

Para acessar a versão on-line desta edição do Cadernos IHU ideias acesse aqui. A versão impressa pode ser retirada na Secretaria do Instituto Humanitas Unisinos – IHU ou solicitada pelo e-mail humanitas@unisinos.br.

Fique atento/a

Já está disponível também a edição Cadernos IHU ideias com o artigo “Um olhar biopolítico sobre a bioética”, escrito pela professora Anna Quintanas Feixas, da Universidade de Girona, na Espanha.

Por Cristina Guerini

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Tudo se encaminhava para ser mais um dia comum na vida do líder sindical Santo Dias da Silva. Era 30 de outubro de 1979, o Brasil ainda vivia sob a Ditadura Militar e, enquanto Dias reunia trabalhadores à fábrica Sylvania para participarem de uma greve, a polícia militar começou a se aproximar para interver na situação. Logo, deu-se início à confusão entre policiais e militantes. Em meio ao tumulto, o PM Herculano Leonel deu um tiro em Silva. Era para ser mais um dia de luta pelos trabalhadores. Mas não foi. Aquele foi o último dia da vida de Santo Dias da Silva.

Foto: www.pastoralfp.com

Operário de sonho e de  criança
Operário da terra e oficina
Operário que um dia se cansa
De esperar as mudanças de cima
Operário, esperança que vela
Operário suado, sem fala
Operário algemado na cela
Operário calado à bala! […]
Santo, a luta vai continuar!
(Luiz Augusto Passos)

Santos Dias da Silva foi um dos mártires que morreram durante a Ditadura Militar, regime que predominou no Brasil de 1964 a 1985. Sempre defendendo os ideais dos metalúrgicos e trabalhadores, Silva, nascido em 1942, iniciou ainda jovem na luta por melhores condições de trabalho.

Militância

O operário iniciou sua vida de militante aos 20 anos quando se juntou ao movimento operário. Começou lutando por aumentos salariais e o direito ao 13º salário. Em 1965, durante a Ditadura Militar, Silva passou a integrar a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo.

Ainda na década de 60, o militante começou a atuar em outras organizações que surgiram na capital. Católico praticante, Silva se tornou membro ativo das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), grupo ligados à Igreja Católica e, também, participou de vários movimentos de bairro que surgiram a partir das ações das CEBs.

Protesto pela morte de Santo Dias. Fonte: Pastoral Fé e Política – Arquidiocese de São Paulo

Movimento Sindical

Em outubro de 1979, a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, que já tinha Silva entre seus principais líderes, estava reivindicando um aumento salarial de 83%. Seus patrões recusaram o pedido, o que acabou resultando, no dia 28 daquele mesmo mês, na primeira grande paralisação dos metalúrgicos.

Nesse mesmo dia, as sedes dos Sindicatos iriam estar abertas para abrigar os operários da greve, no entanto, a Polícia Militar invadiu os locais e prendeu mais de 130 pessoas. Com a repressão da PM e a falta de apoio do próprio Sindicato, os grevistas foram obrigados a buscar abrigo dentro da Capela do Socorro, em São Paulo. Após dois dias de reclusão, Santo Dias decidiu ir até a frente da fábrica Sylvania e convocar seis mil operários que estavam começando o turno de trabalho da tarde. Assim que iniciou a discussão com os trabalhadores, a polícia militar chegou ao local. Os PMs agiram com violência para tentar conter os trabalhadores e, em meio a toda a confusão, Herculano Leonel atirou em Silva. O militante foi resgatado e levado ao hospital, mas já estava morto.

Julgamento

Após a morte de Santo Dias, sua família e amigos criaram o Comitê Santo Dias para tentar a condenação do PM responsável pelo tiro, Herculano Leonel.

O Comitê surtiu efeito. Em 1982, Leonel foi condenado a seis anos de prisão. No entanto, o policial militar recorreu da ação e o processo foi arquivado.

Caminhada

Até hoje, a luta de Santo Dias é lembrada com uma caminhada em sua homenagem. O percurso, que ocorre todos os anos desde a sua morte, é iniciado em frente à portaria do antigo prédio que ficava a fábrica Sylvania e vai até o cemitério de Campo Grande, onde Silva está enterrado. Durante o trajeto, as pessoas cantam músicas feitas para o militante metalúrgico.

Caminhada realizada em homenagem a Santo Dias. Fonte: Repórter Brasil

Santo Dias, inclusive, ganhou um álbum de músicas e depoimentos em homenagem a sua contribuição para os direitos dos trabalhadores. As músicas e as poesias que compõem o álbum foram feitas por trabalhadores. Luiz Augusto Passos também dedicou uma canção ao operário.

Clique na imagem para ter acesso ao álbum:

Álbum de músicas e depoimentos sobre Santo Dias da Silva. Fonte: Youtube.

Livro escrito por sua filha, Luciana Dias. Fonte: Repórter Brasil

Livros

A vida de Santo Dias da Silva serviu de inspiração para dois livros: Santo Dias. Quando o passado se transforma em história e Santo – dos nossos – Dias: fé política e compromisso social no cotidiano de luta de um operário na Paulicélia dos anos 70.

O primeiro foi escrito por sua filha, Luciana Dias, a jornalista Jô Azevedo e a fotógrafa Nair Benedicto; o segundo pelo escritor e educador Silvio Luiz Sant’Anna. Ambas foram lançadas em 2004.

Filme

A morte de Santo Dias também foi repercutida no filme Eles não usam Black-Tie, de 1981. O longa-metragem é baseado em uma peça teatral de mesmo nome e conta a história de um operário que resolve não participar de um movimento grevista liderado por seu pai. Preocupado com a gravidez de sua namorada, o trabalhador decide seguir trabalhando, dando início a um conflito familiar.

O filme, que começou a ser rodado após a morte de Santo Dias, tem uma das cenas finais baseada no episódio que tirou a vida do operário. A cena em questão é protagonizada pelo personagem Bráulio (Milton Gonçalves), que, em meio a um conflito com policiais militares, é acertado por um tiro fatal (parecendo-se com o acontecimento que resultou na morte de Silva).

Clique na imagem para assistir o filme:


Prêmio

Desde 1996, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo realiza a entrega do Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, que visa reconhecer o trabalho de pessoas e entidades em benefício dos direitos humanos. Os homenageados de 2014 foram o Padre Giuliani e o advogado Belisário dos Santos Jr.

Giuliani é italiano e há mais de 50 anos vive no Brasil. Durante a década de 70, liderou diversos movimentos populares, entre eles, o Movimento Custo de Vida e o Clube de Mães.

Belisário dos Santos é advogado, graduado pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado em Legislação Penal Especial, também pela USP, e especialista em direito administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC – SP). Santos é advogado militante desde 1970 e atualmente coordena o Programa de Direitos Humanos de São Paulo.

Por: Matheus Freitas

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Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora e com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

A palavra da tua paz

Pai,
rogo-te que me guardes
nesse silêncio
para que eu aprenda dele
a palavra da tua paz,
a palavra da tua misericórdia
e a palavra da tua mansidão
para com o mundo.
E que por mim, talvez,
tua palavra de paz
possa ser ouvida onde,
por muito tempo,
não foi possível
a ninguém ouvi-la.

Fonte: Thomas Merton. Reflexões de um espectador culpado. Petrópolis: Vozes, 1970, p. 206.

Thomas Merton (1915-1968): Monge trapista, místico, artista plástico, defensor do diálogo inter-religioso e importante escritor, com mais 70 livros publicados sobre espiritualidade, dos quais 40 estão em português, entre eles, “A montanha dos sete patamares” (Editora Vozes, 2005). Manteve contato com líderes espirituais e intelectuais, e foi principalmente ligado ao Budismo e às questões políticas. Tornou-se “inabalável” na sua busca constante por Deus, fato retratado pelas orações que escrevia.

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