Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora e com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

A BIOGRAFIA
(Thomas Merton)

Oh leia os versos dos chicotes carregados,
E o que está escrito em suas terríveis observações:
“O Sangue escorre pelos muros da cidade de Cambridge.
Tão inúteis quanto as Águas do estreito rio-
Enquanto bar e beco Apostam por Sua veste”.

Embora minha vida seja escrita no Corpo de Cristo como
um mapa,
As unhas imprimiram naquelas mãos abertas
Mais do que nomes abstratos de pecados,
Mais do que os países e as cidades,
Os nomes das cidades, os números das casas,
O Registro dos dias e das noites,
De quando eu O assassinei em cada praça e rua.

Lança e espinho, e chicote e unha
Mais do que fizeram Sua Carne minha crônica.
Minhas jornadas mais do que ferem Seus pés sangrando.
Cristo, do meu berço, eu O reconheci em todos os lugares,
E apesar de ter pecado, eu caminhei por Vós, e sabia
que Você era meu mundo:
Você era minha França e Inglaterra,
Meus mares e minha América:
Você era minha vida e ar, e ainda assim Você não me pertencia.

Oh, quando O amei, mesmo quando Te odiei,
Amando e mesmo assim Te recusando em todas as glórias de
Seu universo

Foi a Sua Carne viva que eu rasguei e pisoteei, não o
Ar e terra:
Não que Você nos sinta, nas coisas criadas,
Mas conhecer Você, nelas, fez cada pecado um sacrilégio;
E cada ato de cobiça se tornou uma profanação
Estragou e O desonrou como em Sua Eucaristia

E ainda assim com cada ferida Você me roubou de um crime,
E como cada golpe foi pago com Sangue,
Você também me pagou cada grande pecado com graças maiores.
Pois mesmo O tendo matado,
Você Se transformou em um ladrão maior do que qualquer outro em Sua
companhia,
Roubando meus pecados para Sua morte em vida ,
Me roubando até mesmo de minha morte.

Onde, em qual cruz minha agonia Virá
Eu não pergunto à Você:
Pois é escrito e realizado aqui,
Em cada Crucifixo, em cada altar.
É minha narrativa que se afoga e é esquecida
Em Seus Cinco Jordões abertos,
Sua voz que grita minha: “Consummatun est”.

Se em Sua vida e morte de Jornada com a Cruz e a minha (vida) são uma única,
O amor me ensina a ler, em Você, o resto de uma nova história.
Eu traço meus dias de volta à outra infância,
Trocando, conforme eu vou,
Nova Iorque e Cuba por sua Galiléia,
E Cambridge por Sua Nazaré,
Até que retorno ao meu começo,
E encontro uma manjedoura, estrela e palha,
Um par de animais, alguns homens simples,
Agora não na França, mas em Belém.

Fonte: The Collected Poems of Thomas Merton. New York: New Directions Publishing Corporation, 1977.

Thomas Merton (1915-1968): Monge trapista, místico, artista plástico, defensor do diálogo inter-religioso e importante escritor, com mais 70 livros publicados sobre espiritualidade, dos quais 40 estão em português, entre eles, “A montanha dos sete patamares” (Editora Vozes, 2005). Manteve contato com líderes espirituais e intelectuais, e foi principalmente ligado ao Budismo e às questões políticas. Tornou-se “inabalável” na sua busca constante por Deus, fato retratado pelas orações que escrevia.

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