A consciência do alimento bom e limpo. É assim que a chef Beth Beltrão, proprietária do restaurante Virada’s do Largo, em Minas Gerais, define o slow food. O Movimento, criado em 1989, busca estar na contra-mão dos lanches rápidos e segue o conceito da ecogastronomia, que conjuga o prazer e a alimentação com responsabilidade. Adepta do slow food desde 2004, Beltrão já representou o Brasil em diversos encontros mundiais sobre o movimento e alerta, em entrevista à IHU On-Line, para a necessidade de reeducação alimentar do brasileiro. “Nas grandes cidades, as pessoas tem de trabalhar e comem comida a quilo ou à la carte, rapidamente. Assim as pessoas comem para matar a fome e não para sentir o sabor. Queremos que as pessoas deêm valor ao alimento e sintam prazer de comer pelo sabor e pela qualidade”, afirma.

Atualmente, uma das principais discussões para a adesão da ideia da ecogastronomia no Brasil é a comercialização de alimentos saborosos, e sem agrotóxicos, à preços justos. Segundo Beltrão o slow food não quer somente o barato, mas sim a qualidade, por isso há um incentivo enorme ao produtor. “A questão do preço é muito relativa, e varia conforme o alimento em cada região. Por exemplo, a Cagaita é um fruto do cerrado, que não é adulterado e não adianta querer plantá-lo no sudeste que não irá vingar. Às vezes isso eleva um pouco o preço de determinados alimentos. Não queremos que as pessoas deixem de plantar, queremos resgatar determinados tipos de alimento que desapareceram”, destaca. Sobre a adesão dos brasileiros ao movimento, a chef garante que só falta um pouco mais de boa vontade. “Com o movimento muitas coisas poderiam mudar na vida do brasileiro. Hoje estamos na contra-mão, exatamente porque o alimento, além de ter a qualidade, é nosso tempo, nossa vida. Queremos que as pessoas deêm valor ao alimento e sintam prazer de comer pelo sabor e pela qualidade”, explica.

Auto-didata no tema, Beth conta que já participava do movimento antes mesmo de conhecê-lo. “Tenho na minha horta pelo menos 60% daquilo que coloco na mesa para os meus clientes. Sou uma produtora e me sustento. Isso me fez mudar muito, porque o que eu achava que era muito normal é uma coisa muito importante, mais do que a gente imagina”, confessa. Relembrando a atitude do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de pedir ajuda a Carlo Petrini, fundador do movimento slow food, para uma alimentação mais saudável, Beltrão elogiou a postura do cozinheiro italiano. “Achei simplesmente emocionante saber que o Obama teve essa iniciativa. Todos devem conhecer Petrini. A fala dele não é somente teórica, mas faz parte de um sonho dele. É uma necessidade que o mundo tem e ele consegue, através do poder da sua fala, fazer com que sua ideia entre no coração das pessoas”, finaliza.

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