Por André Dick
Gentil como sempre, o poeta Armando Freitas Filho envia ao Invenção em blog dois poemas. O primeiro, logo abaixo, é uma versão revista de um dos poemas comentados no texto sobre o poeta em 12 de janeiro.
O OBSERVADOR DO OBSERVADOR, NO ESCRITÓRIO
Drummond é o sujeito: se abisma
ímpar, sabendo que viajar, despedaça.
O que fica para trás, o que não se arrumou
na frente, sensível ao que a primeira mão
perde, e a segunda, segura, tenta.
Auto-estrada pedregosa, de ultrapassagem
ou desastre, de dura travessia, que ferve
do lado do mar, meigo e mordaz.
O segundo é um poema inédito do seu próximo livro intitulado, Lar, a ser publicado este ano pela Companhia das Letras.
NAS BODAS DE PRATA DE LEI DA SUA MORTE
pensando na Ana
A intimidade da sua morte pública
espetacular, com a cortina aberta
marcou minha vida funcionária.
Nunca pensei que me acontecesse
alguma coisa assim – selvagem –
tão próxima, ou que fosse possível
a alguém, contida, mas em guarda
desatar-se no espelho, de uma vez
e partisse para o ataque a si mesmo
através de dias de decididos suicídios:
primeiro, em narcótico mar, depois
corte! para o abismo da queda livre
traduzindo, à sua maneira, o tumulto
do tempo no qual viveu, de modo
perfeito, fidedigno, sensacional.
A Armando Freitas Filho, o maior agradecimento possível. E aos leitores um livro de poemas já indispensável para 2009.