Há 26 anos ocorria o massacre aos Jesuítas em El Salvador, na América Central.

No dia 16 de novembro de 1989, oito pessoas foram assassinadas no campus da Universidade Centro-Americana José Simeón Cañas (UCA), dentre eles, seis padres jesuítas e duas mulheres. Soldados do batalhão de infantaria do Exército Atlácatl invadiram a Universidade e executaram o reitor espanhol Ignacio Ellacuría, e também os jesuítas Ignacio Martín Baro, Segundo Montes, Amando López, Juan Ramón Moreno e o salvadorenho Joaquín López, além da cozinheira Elba Julia Ramos e sua filha, de 15 anos, Celina Mariceth Ramos.

Este ano, mais uma vez, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU lembra os 26 anos do massacre  que aconteceu na UCA, em El Salvador.

Os religiosos são considerados mártires da Igreja latino-americana moderna, que atuaram politicamente para combater as injustiças sociais do continente. Eram conhecidos, no país, por defenderem o fim da ditadura e apoiarem negociações pacíficas entre o governo e rebeldes.

Conheça as vítimas do massacre:

Ignacio Ellacuría (1930-1989)

Foto: soawlatina.org

O jesuíta Ignacio Ellacuría, que defendia que “Não há humanidade sem solidariedade compartilhada”, nasceu Espanha no dia 9 de novembro de 1930, concluiu o ensino primário em Portugalete e continuou os estudos no Colégio dos Jesuítas de Tudela. Em 1949, foi enviado para o noviciado da Companhia de Jesus em Santa Tecla, em El Salvador, e fez os votos de pobreza, obediência e castidade. Completou os estudos de Ciências Humanas e cursou Filosofia em Quito, após estudou teologia na Áustria. Tornou-se padre em 1961 e, um ano após, fez seus últimos votos jesuíta em Portugalete, onde nasceu. Em 1967, Ellacuría retornou a El Salvador para atuar como professor na Universidade Centro-Americana (UCA). O jesuíta foi exilado na Espanha entre 1977 e 1978, e no ano seguinte, El Salvador iniciou uma longa guerra civil que durou doze anos.

A causa da morte de Ellacuría foi seu engajamento em busca da justiça em El Salvador. O jesuíta sempre se mostrou crítico às realidades do país, foi um intelectual que pensou e aprendeu com os acontecimentos de sua época. Segundo o que disse o padre Dionysio Seibel, durante um dos encontros Rezar com os Místicosos (encontros para meditação e oração. Em 2014, na Casa no Trabalhador, a reflexão foi baseada na memória de Ellacuría), os “exercícios espirituais inacianos tiveram um papel fundamental em sua caminhada e foi essa a fonte da fé de Ignácio Ellacuría”.

Ignacio Martín-Baró (1942-1989)

Foto: soawlatina.org

Também nascido na Espanha, no dia 7 de novembro de 1942, o escritor e professor universitário, ingressou no noviciado da Companhia de Jesus no ano de 1959, e foi transferido para Santa Tecla, em El Salvador, onde concluiu o noviciado em 1961. Em 1965 obteve o bacharel em Filosofia e Letras pela Universidad Javeriana, na Colômbia, em 1970 concluiu bacharelado em Teologia, na Bélgica, e doutorado em Psicologia Social em 1979 e em 1981 assumiu o cargo de vice-reitor acadêmico da UCA.

 

Segundo Montes (1933-1989)

Foto: soawlatina.org

Nascido em Valladolid, cidade espanhola, no dia 15 de maio de 1933, Montes permaneceu na sua cidade natal até 1950, quando iniciou seus primeiros estudos religiosos. Foi enviado a Quito para estudar Ciências Humanas na Universidade Católica, dois anos após concluir o noviciado. Entre 75 à 76 desempenhou diferentes funções em El Salvador, inclusive reitor do Colégio Externado de San José.

 

 

Joaquín López y López (1918 – 1989)

Foto: soawlatina.org

Nascido em El Salvador, em 16 de agosto de 1918,  Joaquín López y López iniciou seus estudos religiosos em Santa Ana, concluindo em 1938. Cursou Teologia em Kansas, em 1949. Em 1952 foi ordenado sacerdote após ser enviado a Espanha. Ficou conhecido pela fala: “Se teus projetos são para cinco anos, semeie trigo; se são para dez anos, semeie uma árvore; mas se são para cem anos, eduque o povo”.

 

Armando López (1936 – 1989)

Foto: soawlatina.org

Nascido em Cubo de Bureda, Espanha, no dia 6 de fevereiro de 1936, López entrou para o noviciado em 1952. Como os demais jesuítas, também foi enviado para El Salvador. Em Quito, estudou Filosofia e Ciências Humanas na Universidad Católica e concluiu os cursos no final dos anos 50. Atuou como professor de matemática no colégio Centro América de Granada e cursou Teologia na Irlanda em 1965. Dois anos mais tarde, realizou doutorado na Universidad Gregoriana, em Roma. López abriu as portas do colégio para acolher famílias necessitadas nos momentos mais duros da repressão em El Salvador.

Juan Ramón Moreno (1933-1989)

Foto: soawlatina.org

Seus primeiros estudos foram realizados em Bilbao, entre 1938 e 1943, nasceu na Espanha no dia 29 de agosto de 1933 e entrou para o noviciado da Companhia de Jesus de Orduña, em 1950, e um ano mais tarde foi transferido para Santa Tecla. Foi ordenado sacerdote, nos Estados Unidos, em 1964. Já em 1958, ao concluir os estudos em Quito, retornou para a Nicarágua, onde foi professor de química no Colégio Centro América de Granada, na Nicarágua. Em 1971, iniciou sua carreira em El Salvador como docente na UCA.

Elba y Celina Ramos

Foto: soawlatina.org

Elba Julia Ramos, nascida em 5 de março de 1947, é natural de Santiago de Maria. Viveu durante alguns anos em uma fazenda em Santa Tecla, El Salvador, com seu marido Obdulio, o qual conheceu em 1960.

 

Foto: soawlatina.org

Celina Ramos, filha de Elba, nasceu em 1973. Em busca de empregos que sustentassem a família, Elba e seu marido moraram em várias regiões de El Salvador. Em 1989, Obdulio conseguiu um emprego como jardineiro da UCA. Ambos trabalhavam com os jesuítas e moravam numa casa recém-feita, junto ao portão de entrada da residência.

Obdulio foi o primeiro a encontrar o corpo das vítimas.

Os responsáveis pelo crime ficaram sem castigo por conta da Lei de Anistia de 1993 do país, que protege militares e insurgentes causadores de crimes contra à humanidade durante o conflito armado. O motivo dos assassinatos foi o papel que as vítimas exerciam à frente do povo, na luta por direitos, naquele tempo.

Ellacuría e seus Companheiros não foram os únicos mártires de El Salvador. O país possui um histórico de mortos pela repressão do governo. Nomes como o de Oscar Romero, recentemente beatificado, e as  religiosas católicas, Ita Ford, Maura Clarke, Dorothy Kazel e Jean Donovan, são recordados até hoje.

Mártires Salvadorenhos

Foto: prensa-latina.cu

Oscar Romero, um dos mais importantes mártires salvadorenho foi beatificado neste ano pelo Papa FranciscoRomero morreu testemunhando sua fé. Ele foi assassinado por um atirador de elite do exército salvadorenho em 24 de março 1980, enquanto celebrava uma missa. Mais tarde o mandante do assassinato foi identificado, pela ONU, como o político de direita Roberto D’Aubuisson. Sua beatificação foi considerada a mais importante do século XXI.

No dia 2 de dezembro de 1980, as irmãs foram sequestradas e mortas. Reconhecidas como as missionárias de El Salvador, elas inspiraram o movimento do ativismo religioso no país.

Junto com Ellacuría e seus companheiros, essas pessoas tinham em comum o fato de que entregaram suas vidas em busca da justiça e da paz, em um país saturado por conflitos.

Guerra Civil em El Salvador

Foto: Acervo IHU

A década de 1970, período conhecido como anos de repressão e os anos de guerra civil salvadorenha, entre 1980 e 1992, ainda são feridas abertas no país, as quais anualmente são lembradas por líderes religiosos, pensadores, teólogos e comunidade em geral.

Hoje, ainda acontecem disputas no país. Este ano, por exemplo, em apenas um dia, 51 pessoas foram mortas. Tal tensão se deu pela ameaça de bomba no dia 27 de agosto contra a sede do Ministério de Justiça e Segurança Pública. Desde a guerra civil salvadorenha (1980-1992) mais de meio milhão de armas de fogo ficaram nas mãos de civis. Após o acordo de paz de janeiro de 1992, nenhum governo se dispôs a recolher as armas e proibir o uso pessoal.

O Instituto Humanitas Unisinos – IHU, neste dia, mais uma vez, lembra a memória dos mártires jesuítas de El Salvador. Em homenagem a eles, o IHU batizou sua sala de eventos com o nome Ignacio Ellacuría e Companheiros e mantém em seu sítio um memorial.

 Por Fernanda Forner e Nahiene Alves

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