Yara Caznok (foto) trouxe-nos um momento de reflexão sobre a Experiência estética e espiritualidade na música brasileira. Iniciou exemplificando com a música popular “Cai, cai, balão” em que a voz fica mais grave quando se canta “cai na rua do sabão”, como se a tonalidade da voz expressasse o movimento do balão ao cair no chão. Ela proporcionou momentos de muita sensibilidade ao trazer sete músicas para analisar. A primeira música analisada foi “Retrato em branco e preto” (1974), de Tom Jobim e Chico Buarque, na voz de Elis Regina. A palestrante comentou como é incrível o poder da expansão vocal que mostra como o sentimento é o estado afetivo inteiro personificado, em que o mínimo de notas consegue atingir o máximo de expressividade. A segunda música foi “Minha namorada” (1962), de Carlos Lyra e Vinícius Morais e, nela é perceptível a necessidade de ser inteiro e ir atrás de encontros na vida. A terceira música analisada foi “Se eu quiser falar com Deus” (1980), de Gilberto Gil. Yara diz que musicalmente, uma frase expande e a outra retrai. A com a repetição do “nada”, Gilberto Gil consegue, de certo modo, desfazer tudo o que nomeou, ansiou, desejou até então, para encontrar algo que não foi nomeado.

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Após essas músicas com um ritmo tranquilo, Yara desafiou aos participantes do evento que ouvissem a música “Deus me proteja” (2008), de Chico César, em que o ritmo deixa-nos com vontade de dançar, por sua leveza. Para Yara, essa música mostra que tudo está equivalente e que somos todos iguais. “Nem todos são tão bons, nem todos são tão ruins, nem eu sou tão boa, nem tão ruim, então peço que Deus me governe, me guarde, me ilumine e zele assim”, comenta se referindo as palavras da música. Para ela, a música e o texto se entrelaçam, pois a letra é aparentemente muito leve, mas traz uma “insegurança” do que se tem na vida e, apesar de o ritmo ser mais descontraído, a força poética quebra, criando uma contradição que faz a pessoa refletir. Quando Chico César canta “sexto sentido”, fica claro para Yara que “nessa música há o sentimento que pode conduzir, pois a razão não deixa a pessoa perdida”.
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A música “Além do espelho” (2010), de Diogo Nogueira dispensa comentários. A letra fala por si e deixa calado quem a escuta. Diogo Nogueira a escreveu em homenagem a memória de seu pai, João Nogueira, que havia escrito a música “Espelho” com o trecho “E o meu medo maior é o espelho se quebrar”. A música mostra que Diogo vê o pai como um espelho que o transforma em um outro espelho para seu filho, assim escreve e canta “A missão do meu pai já foi cumprida. Vou cumprir a missão que Deus me deu. Se meu pai foi o espelho em minha vida. Quero ser pro meu filho espelho seu”. Depois de tocar a sensibilidade das pessoas, a professora trouxe um RAP de Emicida, “Santo Amaro da Purificação” (2010), que traz uma vivência do que pode ser um pensamento, uma espiritualidade, uma reflexão, com muita letra e pouca música. “É possível, também, refletir com o RAP (Ritmo e poesia), pois expressa rítmica das palavras e tem melodia suspendida”.
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Caznok analisou a música de Arnaldo Antunes, Kaira (2011). Essa última música escolhida se encaixa com todas as outras, no momento em que o Arnaldo Antunes escreveu “a música muda você pra melhor”, pois cada uma das músicas escutadas mudou quem as fez e, consequentemente, mudou ou mudará cada um de nós que as ouviu, pois com nossos entendimentos e sentimentos levaremos algo de bom que mude outro alguém. Em um último momento, Yara colocou uma música “surpresa” para refletirmos e descansarmos, com a voz de uma criança. A música é “Olha pro céu”, de Luiz Gonzaga e José Fernandes. “Precisamos ter a certeza de que há na música um milagre, há muito mais do que nós nomeamos”, finaliza. O evento ocorreu na última quinta-feira, 29 de março, no IHU.
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Por Luana Taís Nyland

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