“O único princípio que não inibe o progresso é: vale-tudo”

Essa citação do livro Contra o Método (1975) mostra a concepção do filósofo austríaco Paul Karl Feyerabend (1924-1994) em relação à ciência. Famoso pela sua visão anarquista da ciência e por rejeitar certas regras metodológicas universais, Feyerabend acabou virando uma figura influente na filosofia da ciência e também na sociologia do conhecimento científico, além de ser considerado um inimigo da ciência.

“A ciência é um empreendimento essencialmente anárquico; o anarquismo teorético é mais humanitário e mais suscetível de estimular o progresso do que suas alternativas representadas por ordem e lei”, afirma o filósofo.

As críticas e pensamentos sobre a razão e a ética vão ser o tema de uma das mesas-simultâneas do “XIV Simpósio Internacional IHU: Revoluções tecnocientíficas, culturas, indivíduos e sociedades. A modelagem da vida, do conhecimento e dos processos produtivos na tecnociência contemporânea”.

“Feyerabend, razão e ciência” é o tema a ser debatido pelos professores Luiz Davi Mazzei – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e Virgínia Chaitin – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, no dia 21 de outubro (terça-feira) das 14h30 às 16h30.

Para o filósofo, a a noção de razão assume um importante papel na sociedade ocidental com padrões que não “passam de uma crença”, feita para que o mundo se encaixe dentro dela e possuem “a mesma aura que os deuses, os reis e as suas leis implacáveis”. Segundo Feyerabend, o racionalismo eterniza a monotonia na ciência e na sociedade que está na hora de ser abandonado.

Em Adeus à razão (1987) ele afirma:

“Os empíricos ferrenhos consideram irracional a retenção de opiniões que colidem manifestamente com a experiência, ao passo que os teóricos ferrenhos desprezam a irracionalidade daqueles que reveem os princípios básicos a cada oscilação das provas. Estes exemplos mostram-nos desde já a inutilidade de deixar que estas afirmações como ‘isto é racional’ ou ‘isto é irracional’ influenciem a investigação. As noções são ambíguas e nunca explicadas com clareza, e tentar aplicá-las coercivamente seria contraproducente: os procedimentos ‘irracionais’ muitas vezes levam ao sucesso (na perspectiva daqueles que lhes chamam ‘irracionais’), enquanto os procedimentos ‘racionais’ trazem com frequência enormes problemas.”

As origens históricas do racionalismo, segundo Feyerabend

204capaNa 204ª edição dos Cadernos IHU ideias foi publicado o artigo “As origens históricas do racionalismo segundo Feyerabend”, escrito por Miguel Ângelo Flach, professor no Instituto Federal Farroupilha (IFF-CA).

De acordo com Feyerabend, uma ampla abordagem do “racionalismo” faz-se necessária porque este antecedeu historicamente a ciência tal como a conhecemos hoje e, principalmente, porque tal racionalismo se estabeleceu desde a cultura Antiga, tendo, posteriormente, encontrado na ciência Moderna e Contemporânea o seu motor de desenvolvimento. O artigo examina as origens históricas do “racionalismo” rastreando-a desde a Antiguidade no contexto da cultura grega arcaica. Para Feyerabend, um nascente pensamento racional abstrato perpassa o surgimento da filosofia, coincidindo com a ascensão de um racionalismo por erigir a “Razão” (o “R” maiúsculo ilustra criticamente o poder a ela atribuído) como fonte de tradição que, ao relegar a abundância da história, simplificou a última pretensiosamente se afirmando como história única acima de todas as formas de vida.

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