“Os Guarani são, ao mesmo tempo, um povo sem história e um povo com muitas histórias”. Citando o jesuíta e o antropólogo espanhol Bartolomeu Melià, a Profa. Maria Cristina Bohn Martins, do PPG em História da Unisinos, avalia sua dissertação de mestrado, produzida há 20 anos, sobre o sistema econômico dos índios Guarani. Sua exposição sobre a economia do dom, presente na cultura Guarani, enfatizou o equívoco carregado historicamente pela visão eurocêntrica que temos de mercado: a idéia de que as sociedades indígenas são “pobres de tudo”.
Segundo Maria Cristina, temos dificuldades de pensar a economia dos índios pois a reduzímos aos termos da economia ocidental, como explica no vídeo abaixo.
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Os Guarani possuem um sistema econômico fundado nas relações familiares de produção, sob a circulação lógica da reciprocidade, explica a professora. Diferentemente do que indicam os registros históricos, há uma grande contradição entre a representação das sociedades indígenas arcaicas feitas por estudiosos, como os jesuítas, e seus verdadeiros perfis. “Cristóvão Colombo dizia que os índios eram pobres que nada tinham, mas tudo davam. A maioria dos colonizadores justificavam a colonização com a privação das práticas econômicas dos índios, e a precarização de sua ‘civilização’. A economia dos índios, no entanto, existia e era pautada na doação dos bens produzidos, no intuito de exercitar a reciprosidade”, afirma.
Essa reciprosidade, todavia, nem sempre era baseadas na generosidade, segundo Maria cristina. “Essa doação pode ter outros interesses. A reciprocidade pode acontecer, por exemplo, em nome da reputação e da honra do grupo”, frisa. Relembrando a criação do conceito de Economia do Dom, pelo sociólogo e antropólogo francês, Marcel Mauss, a professora explica as três formas de reciprocidade, definidas por Marshal Sahlins , em sua obra “A Economia da Idade da Pedra”. “Existe a reciprocidade generalizada, que ocupa o ponto mais central da sociedade, a equilibrada, à nível de aldeia, e a negativa, espaço de guerra e de vingança”, discorre.
Para Maria Cristina essa economia “oculta” presente na cultura Guarani nos traz uma importante reflexão sobre os diferentes modos de se pensar a produção, o consumo e a reprodução de bens. “Devemos, muitas vezes, renunciar os esquemas classificatórios e hierarquizantes, que mais contribuem para velar do que para facilitar a compreensão daquilo a que se propõe. É de se surpreender que os Guarani, caracterizados pelo critério da “falta” se apresentassem aos primeiros contactadores europeus como produtores de uma ‘divina abundância'”, revela.
Sobre esta temática, confira a entrevista que a Profª Maria Cristina concedeu à Revista IHU On-Line desta semana.
A palestra proferida pela professora nesta quinta-feira, compôs a série de eventos do pré-lançamento do XII Simpósio Internacional IHU: A Experiência Missioneira: território, cultura e identidade. O evento acontece de 25 à 28 de outubro deste ano e propõe a reflexão da experiênia missioneira jesuítica nos 400 anos da fundação da Província da Companhia de Jesus do Paraguai numa perspectiva multidisciplinar. Entre os nomes confirmados estão os do Prof. Bartolomeu Meliá, do Instituto Superior de Estudios Humanísticos y Filosóficos, no Paraguai e da Profa. Ana Luísa Janeira, da Universidade de Lisboa.
Entre as atividades do simpósio estão palestras, minicursos, exibições de filmes e de fotografia, apresentação de comunicações e pôsteres, entre outras. O evento é destinado a professores (as), estudantes universitários (as) e comunidade em geral.
Confira a programação completa do Simpósio.
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