“Precisamos ser muito mais eficientes na produção e no consumo e entender que nosso planeta tem recursos finitos. Um mudança individual no comportamento é fundamental para reduzir os impactos das mudanças climáticas”. Este foi o pedido de Carlos Rittl, do Observatório do Clima, durante sua participação na 13ª Páscoa IHU. O Cuidado da nossa Casa Comum, na quinta-feira, 17 de março.
Pensando nos desafios para combater as mudanças climáticas e na relevância do Acordo Climático firmado na 21ª Conferência das Partes (COP-21), realizada em dezembro de 2015, em Paris, Carlos Rittl ministrou duas conferências no Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Na oportunidade o palestrante trabalhou temas como mudanças climáticas, impactos do aquecimento global no Brasil, extremos climáticos, COP-21, planejamento energético e a Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco.
Brasil e o compromisso com o meio ambiente
No debate sobre Mudanças climáticas no Brasil e seus impactos sociais e econômicos, o biólogo falou sobre a participação do Brasil nas emissões de gases de efeito estufa, que é um dos maiores emissores mundiais. Refletiu, também, sobre a importância das metas estipuladas na COP-21 e os desafios a serem enfrentados. “O Brasil se comprometeu em alcançar níveis de desmatamento zero, restaurar 15 milhões de hectares nas pastagens, fazer a integração de lavoura-pecuária-floresta em 5 milhões de hectares e garantir 45% da matriz energética em fontes renováveis”, pontua.
Rittl também abordou a importância da Carta Encíclica Laudato Si’ – Sobre o Cuidado da Casa Comum, do Papa Francisco. “A Laudato Si’ foi de extrema relevância, pois trouxe um engajamento mais amplo sobre a agenda climática. São atitudes assim que nos dão um fio de esperança”, destaca.
COP-21
O secretário do Observatório do Clima, em sua segunda conferência, destacou o Acordo de Paris. Enfatizou, também, que a diferença do documento de Paris em relação às COPs anteriores é que haverá uma revisão periódica dos compromissos assumidos e se eles estão sendo cumpridos. No entanto, frisou que um dos aspectos que deixou a desejar foi a questão da justiça climática, pois “saímos do Acordo de Paris sem saber quem vai pagar a conta”.
Planejamento energético e Belo Monte
Rittl alertou sobre a necessidade de um planejamento energético brasileiro, principalmente em relação às usinas hidrelétricas. “O clima daqui a 30 anos não será o mesmo. É preciso pensar na adaptação às mudanças climáticas. Se eu planejo construir hidrelétricas, tenho que pensar se elas não serão a fio d’água, pensar a vazão dos rios é importante no planejamento energético”, informa. Destacou, ainda, que a Usina de Belo Monte “não se justifica, pois está promovendo impactos sociais e ambientais imensos. E está evidente sua ligação aos interesses políticos e econômicos”.

Foto: Fernanda Forner / IHU
Desenvolvimento sustentável X Economia capitalista
Questionado sobre se existe a possibilidade de um desenvolvimento sustentável em uma economia capitalista, Carlos Rittl deixou claro que precisamos partir para um outro modelo de desenvolvimento, onde “economia e ecologia dialoguem para o gerenciamento da nossa Casa Comum”.
O biólogo também frisou a necessidade da mudança individual no comportamento de cada um e declarou que “temos que acabar com a cultura da abundância e começar a discutir que os recursos naturais são finitos. Precisamos ser muito mais eficientes na produção e no consumo”.
Quem é Carlos Rittl
Mestre e doutor em Biologia Tropical e Recursos Naturais. Foi coordenador do Greenpeace Brasil e do Observatório do Clima, rede brasileira formada por ONGs e movimentos sociais, onde atualmente é Secretário Executivo.
O Ciclo de atividades. O cuidado de nossa Casa Comum segue até 03 de maio de 2016. A programação completa pode ser vista aqui.
Confira a cobertura completa sobre as atividades aqui.
Por Cristina Guerini e Fernanda Forner
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