“Apesar da reconhecida necessidade de mudanças estruturais em nível nacional e global diante das crises que o mundo enfrenta (climática, ambiental, alimentar, energética e mesmo a financeira), a Rio +20 não tinha a real pretensão de apontar caminhos para tais mudanças”, afirma Luiz “Zarref” Henrique Gomes de Moura, militante do MST/Via Campesina.
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Já segundo Darci Frigo, “os países ricos esvaziaram a Conferência por estarem mais comprometidos com a solução das suas crises econômicas. Priorizaram salvar o sistema financeiro à custa do desemprego e da falta de compromisso com as crises socioambientais. Seus principais líderes – EUA, Alemanha, Inglaterra – ausentaram-se da Conferência”.
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Ambos concordam em que o documento final é tímido e não contém compromissos e metas que vinculem os países. Zarref e Frigo estarão participando, ao lado do Ir. Afonso Murad, do painel sobre as perspectivas socioambientais da Rio+20, nesta quinta-feira. O evento integra o Ciclo de Debates Rio+20, promovido pelo Cepat em parceria com a Pastoral da Universidade da PUCPR.
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Para Zarref, “os acordos que saíram da Conferência demonstravam um interesse concreto em estruturar uma nova possibilidade de geração de lucros, através da conexão entre meio ambiente, empresas e capital financeiro. A essa nova engenharia financeira se deu o nome da Economia Verde”. “A sustentabilidade foi capturada pela proposta mágica de grande transformação tecnológica verde, do velho e conhecido capitalismo marrom. Em síntese, propõe-se mais mercado e menos direitos”, concorda Darci Frigo, da organização Terra de Direitos, com sede em Curitiba.
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Simultaneamente ao evento oficial da Rio+20 aconteceu a Cúpula dos Povos, “evento autônomo de corporações e fruto de uma convergência histórica entre dezenas de movimentos e organizações da sociedade brasileira e mundial. Este espaço demonstrou total rejeição ao projeto da Economia Verde”, revela o engenheiro florestal Zarref.
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A Cúpula dos Povos “surpreendeu pela grande participação e mobilização”, avalia Frigo, que participou da organização desse evento da sociedade civil. “Constituiu-se no contraponto da Cúpula Oficial ao combater a economia verde como solução falsa que propõe a mercantilização da natureza, ao denunciar a captura do Sistema ONU pelas empresas, grandes causadoras da crise e, ao afirmar a defesa dos bens comuns e a necessidade de justiça social e ambiental”, completa.
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Num olhar prospectivo, o primeiro desafio a ser enfrentado “é colocar no centro da agenda dos governos as crises ambientais e sociais e isso só vai se dar por meio de grandes mobilizações sociais. Os movimentos e organizações da Cúpula dos Povos procuraram construir uma agenda que deve buscar as convergências de lutas na linha da defesa dos bens comuns, de alternativas que estão sendo construídas tanto nas experiências locais como nas lutas internacionais na defesa dos direitos humanos”, acredita Frigo.
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De acordo com Zarref, a Cúpula dos Povos “apontou claramente as verdadeiras soluções para a crise ambiental planetária: a soberania alimentar e energética, a agroecologia, a economia solidária, a reforma urbana e agrária, os circuitos curtos de consumo, a soberania dos povos sobre seus territórios.
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O painel que debaterá a Rio+20 acontece nesta quinta-feira, dia 09 de agosto, a partir das 19h30 no auditório Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso Lima), da PUCPR. O evento é aberto ao público em geral. Maiores informações: (41) 3349-5343 ou pelo correio eletrônico cepat.cepat@terra.com.br
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Por André Langer.