A cientista social Rosana Pinheiro-Machado (foto) explicou que a globalização popular Brasil x China é um fenômeno muito recente, apesar de os camelôs já estarem fazendo parte dela há muito tempo e serem considerados uma fatia importante para o crescimento da China, tornando-se responsáveis pelo desenvolvimento desse país. Na tarde de quinta-feira (03/05), a Profa. Dra. Rosana Pinheiro-Machado palestrou no evento IHU Ideias com o tema “As relações entre Brasil e China sob o ponto de vista da globalização popular” e contou sobre a cadeia global de mercadorias, incluindo tópicos como pirataria, mercadorias de preço baixo e pouca ou muita qualidade, muamba e regularização das mercadorias em alguns Estados.
.
Rosana iniciou sua tese em 1999 pesquisando e analisando o trabalho no camelódromo de Porto Alegre (RS). Em 2003 iniciou suas viagens de ônibus com brasileiros que buscavam muambas no Paraguai para vender aqui, pois queria entender esse processo. Para compreender melhor a questão principal de sua tese (o motivo pelo qual o Paraguai foi escolhido para receber as mercadorias e as pessoas da China), a palestrante contou que foi morar um ano em Ciudad del Este e descobriu que o maior motivo foi e continua sendo as relações diplomáticas, além de o país ter fronteira internacional e possuir a menor taxação de produtos. Em 2006, a Doutora em Antropologia se mudou para a China com intuito de conhecer e estudar as fábricas de produtos falsificados.
.
Não foi de um dia para o outro que a China começou a exportar. Precisava-se ter uma estrutura pronta para a exportação e a China tinha. Os chineses pensam que a economia informal da China colabora com o mercado, pois “não importa se o processo está errado, o que importa é que eles fazem circular a economia”, diz Rosana. A China vê a economia informal como necessária e o Brasil vê como resquício do seu movimento. A mão de obra é muito grande e há muita oferta de emprego, mas o sistema de trabalho é “total”, ou seja, salários baixos para os funcionários e condições totais como, por exemplo, trabalhar entre 12 e 15 horas diárias.
.
A falsificação ocorre por um sistema de espionagem industrial muito grande e isso faz com que, muitas vezes, os produtos falsos cheguem antes dos originais no comércio. Há uma moda de cópias em que as fábricas trocam uma letra do nome (da marca) e, assim, o estado não pode aceitar como cópia regularizando os produtos. Na China há uma relação confusa entre o formal e o informal, pois as fábricas falsificam relógios, bolsas, brinquedos, remédios, coca-cola, ovos, tecnologias, obras de arte, entre outros produtos. Algumas empresas acreditam que esse mercado da falsificação pode ser utilizado como propaganda, pois elas produzem tanto os produtos originais, quanto os falsificados. Entre originalidade e cópia, Rosana questiona ao final da palestra “Por que a cópia é vista como uma ofensa e não como um elogio ao produto original?” colocando a reflexão.
.
Por Luana Taís Nyland
.
- Mais informações sobre Rosana em seu blog
- Made in China: uma questão de classe
- Por ordem de Dilma, governo cria “grupo China”
- China investe somente metade do que diz
- Pedir esmolas à China
- Comunicado do Ipea analisa as relações Brasil-China