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O Congresso que pretende mobilizar a comunidade teológica (teólogos populares, pastorais e acadêmicos) para realizar uma reflexão prospectiva, está sendo organizado em parceria com diversas instituições da América Latina. Entre elas, a Fundação Amerindia Continental, de Montevideo, Uruguai, um grupo de católicos com espírito ecumênico.
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Rosário Hermano e Sylvia estiveram recentemente no Instituto Humanitas Unisinos – IHU para falar um pouco mais sobre o que está sendo planejado para o Congresso Continental de Teologia. Confira, abaixo, a primeira parte da entrevista que elas concederam à IHU On-Line.
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IHU On-Line- O que o Concílio trouxe à Igreja?
Amerindia- O Concílio Vaticano II, realizado há 50 anos, é um tema amplo que tem muitas e variadas considerações e é sem dúvida suscetível de múltiplas abordagens sócio-históricas e diferentes olhares eclesiológicos e pastorais.
Neste sentido, não é um dado menor lembrar que, no Acontecer da Igreja do Concílio, o primeiro olhar foi para a realidade (Gaudium et Spes) e logo se perguntar sobre si mesma como foi no caso da Lumem Gentium. Uma maneira que, com idas e voltas conseguiu se impor marcando o estilo e o espírito conciliar. Uma das frases mais memoráveis em relação ao Concilio foi “abrir as janelas para deixar entrar o ar fresco”.
Especialmente na América Latina, em Medellín, os bispos latino-americanos voltaram sobre o núcleo conciliar: Igreja Mundo e o reinterpretaram como Povo de Deus – povo empobrecido desde a hermenêutica das circunstâncias e do momento histórico do continente.
De alguma forma existem duas intuições básicas do Vaticano II que ainda são necessárias hoje para desenvolver uma reflexão teológica que responder hoje aos desafios atuais. Uma dessas intuições é a de discernir o que Deus e o reino de Deus significam no mundo de hoje, resgatando a idéia de que os sinais dos tempos são uma categoria central do Concílio. A outra idéia é resgatar a categoria de Povo de Deus considerado no conjunto como sujeito protagonista ativo e não apenas corresponsável ou receptor
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Ameríndia- Como é uma conferência teológica, que procura não apenas “pensar”, mas “fazer” teologia, a temática de cada dia, seja nas conferências e painéis durante a manhã assim como nos Painéis Abertos da tarde, segue as três mediações metodológicas da teologia da libertação: a mediação das ciências humano-sócio-analíticas, a mediação hermenêutica e a mediação da práxis. A reflexão da teologia latino-americana quer a partir da prática da fé para voltar na práxis, mediada por um conhecimento analítico da realidade, uma interpretação contextualizada da revelação, com vistas à militância dos cristãos.
1. A mediação das ciências humano-sócio -analíticas
Sobre este aspecto, no primeiro dia, o Congresso pretende colocar a teologia no contexto atual, particularmente na situação sócio-cultural, econômica e política do Continente em um mundo globalizado. O objetivo é identificar novas interpelações e perguntas para a teologia na América Latina e no Caribe hoje.
2. A mediação hermenêutica
Tendo em conta o contexto atual, com suas novas interpelações e perguntas, no segundo dia, o Congresso tenta ver como as igrejas estão respondendo às mudanças e aos novos desafios, 50 anos após a abertura do Concílio Vaticano II. Não só ver o que aconteceu com as igrejas, senão também como os vários grupos cristãos e da igreja institucional reagiram às mudanças. Como o Congresso é prospectivo, seu olhar neste caso procura ir além da análise, pretende ser, por cima de tudo, prospectivo, visando a novas posições e pontos de vista que a Igreja ou o cristianismo precisa assumir para gerar significado e esperança no mundo marcado pelo desencanto e exclusão.
3. A mediação da práxis
A teologia da libertação latino-americana surge da práxis e sempre quer voltar à práxis. O Congresso é o momento para pensar sobre o lugar e o papel da teologia nos processos de mudança no continente hoje, para o futuro. Desde uma especificidade da fé cristã, é preciso se perguntar sobre a real contribuição que os cristãos podem fazer em vista de uma sociedade inclusiva para todos, assim também como eles podem agir como cidadãos cristãos em um mundo plural. É necessário discernir quais são as mediações necessárias capazes de pousar os ideais na realidade da história do nosso povo.
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Confira em breve, aqui no blog, a continuação da entrevista.
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Por Natália Scholz, Luana Nyland e Marília Dias
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Para ler mais:
- Site do Congresso Continental de Teologia
- Evento: Congresso Continental de Teologia
- Vaticano II, um Concílio Ecumênico
- Congresso Continental de Teologia: um novo “sinal dos tempos” do fazer teológico
- O papa, o Concílio e a história
- O que o Concílio quis. Artigo de Jan-Heiner Tück
- Padres da geração Vaticano II ainda adotam modelo do Concílio, apesar de retrocessos