O fenômeno das migrações lança para todos os países o desafio do acolhimento e da boa convivência entre as diferentes culturas. Quando uma pessoa deixa seu país para buscar novas condições de vida numa outra região, seja por diferentes razões, a experiência do desconhecido e do novo pode causar um grande drama pessoal e familiar. Muitas vezes, a experiência de sofrimento pessoal, daquele que está distante de sua terra natal, passa despercebido pelas diversas análises políticas e econômicas sobre a migração.
O que dizer então da situação do refugiado? De alguém que se vê forçado a fugir de seu país? Em A chave da casa, dirigido por Paschoal Samora e Stela Grisotti, evidencia-se justamente esse sofrimento psíquico dos refugiados, destacando-se a experiência de inserção de alguns palestinos no território brasileiro.
O documentário foi apresentado no último dia 19, dentro do Projeto Migrações Forçadas, organizado pelo Cepat–CJ-Cias, em parceria com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU e o Serviço Pastoral dos Migrantes, com o apoio do SENGE-PR, com os comentários da advogada Nádia Pácher Floriani, integrante da Casa Latino-Americana (Casla), de Curitiba.
Floriani, que voluntariamente presta assessoria jurídica para migrantes e refugiados, iniciou o debate falando sobre a própria experiência de refúgio político que seus pais enfrentaram no passado. Sobre o documentário, ela destacou que o caso palestino é muito mais dramático, pois eles não têm o reconhecimento de seu Estado, apesar de cultivarem um forte sentimento patriótico. Ela alertou que a situação dos refugiados políticos ou por desastres ambientais é muito mais grave porque o retorno para os seus territórios não depende, simplesmente, das suas escolhas pessoais.
Dentro de sua experiência como defensora da causa dos migrantes, Floriani apontou que os governos e Estados são omissos quando é necessário resolver problemas relacionados aos migrantes pobres. “Há um desrespeito aos mais pobres”, disse, relembrando que num dos casos que acompanhou, em que alguns nigerianos chegaram ao Porto de Paranaguá escondidos dentro de um navio, ouviu um policial dizer que preferia lidar com criminosos do que com nigerianos.
Aludindo ao momento pelo qual o Brasil passa, em que há um aumento de estrangeiros chegando ao país, na esperança de uma vida melhor, Floriani ressaltou: “A lei deve acompanhar as transformações sociais. Ela não pode ser fria”. Talvez tenha sido exatamente esta a grande contribuição do documentário, ou seja, a de mostrar que o fenômeno das migrações não se resume a números, mas a dramas que envolvem vidas, histórias de diferenças entre pessoas. Não é possível frieza diante desse fenômeno, uma vez que, por mais diferentes que sejam as culturas ou os desafios econômicos de cada país, existe um laço que une a todos, ou seja, a condição de ser humano.
Para aprofundar o assunto, remetemos o leitor à Revista IHU On-Line n. 362, de 23-05-2011, cujo tema de capa é: Refugiados, uma diáspora em tempos globais.
Postado por Jonas Jorge da Silva.