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Taxa de mortalidade de crianças menores de cinco anos baixou mundialmente entre 1990 e 2008, registando-se uma quebra de 28 por cento, segundo dados divulgados esta semana pela Unicef.

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Os dados revelam que a mortalidade global de menores de cinco anos diminuiu regularmente ao longo das últimas duas décadas. Em 1990 registavam-se 90 mortes por 1000 nados vivos, valor que passou para 65 mortes por 1000 em 2008.

Fonte: Portal ODM

Municípios do Vale do Rio dos Sinos

1. Objetivo – reduzir a mortalidade infantil.

2. Meta – reduzir em dois terços, entre 1990 e 2015, a mortalidade de crianças menores de cinco anos.

Conforme estudos da FEE – Fundação de Economia e Estatística sobre a taxa de mortalidade de crianças menores de cinco anos e categorização dos municípios, segundo o desempenho em relação à meta do milênio para 2015, do Vale do Rio dos Sinos – 1992 e 2005, quanto à categorização pode-se constatar:

Objetivo Alcançado:

Araricá é a única cidade a alcançar a meta de reduzir em dois terços, a mortalidade baixo de 13,9 mortes por cada 1000 nascidos vivos em 1992 para 0 por 1000 em 2005.

Objetivo a caminho:

Campo Bom, Estância Velha, Ivoti e São Leopoldo demonstram que estão no caminho certo e provavelmente alcançaram a meta até o ano 2015.

Objetivo com avanço lento:

Nesta categorização encontram-se os municípios de Canoas, Dois Irmãos, Esteio, Nova Hartz, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Sapiranga e Sapucaia do Sul. Os mesmo terão que aumentar seus esforço para conseguirem alcançar a meta na redução da mortalidade de criança com menos de cinco anos.

Objetivo com nenhuma mudança ou mudança negativa

Diferentemente das demais cidades do Vale do Rio dos Sinos, Portão foi a que apresentou índices negativos. A mortalidade era de 9,2 mortes por cada 1000 nascidos vivos em 1992 e passou para 14,9 por 1000 em 2005.

FONTE: FEE/CIE/NIS.

Postado: Fórum sobre Indicadores socioeconômicos e políticas públicas: realidades e possibilidades para o Vale do Rio dos Sinos.

O primeiro Módulo do Fórum sobre Indicadores socioeconômicos e políticas públicas: realidades e possibilidades para o Vale do Rio dos Sinos ocorreu no período de 29 de abril a 03 de junho de 2009. As temáticas desenvolvidas deste módulo, mesmo tratando de assuntos a níveis nacionais e mundiais tiveram seu foco nos municípios do Vale do Rio dos Sinos.

Em uma das fases presenciais do fórum, o Prof. Helios Puig Gonzalez (Economista e Mestre em Planejamento Urbano)  – FEE (Fundação de Economia e Estatística) tematizou o diagnóstico social da situação dos 496 municípios, do RS, a partir da escolha de 18 indicadores dos Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), abordando as metas a partir dos COREDEs (Conselhos Regionais de Desenvolvimento), destacando as peculiaridades do COREDE do Vale do Rio dos Sinos.

módulo 2 1a  etapa 2

Como, o objetivo deste fórum é o de oportunizar um espaço de aproximação e análise dos indicadores sociais e econômicos do Vale do Rio dos Sinos, em vista da proposição e monitoramento das políticas públicas, assim como do fortalecimento dos cidadãos e organizações na sua implementação e controle social. Estaremos analisando os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio no contexto dos quatorze municípios que compõem o Vale do Rio dos Sinos.

Neste primeiro momento veremos o que são os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e quais suas concepções.

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Em setembro de 2000, líderes mundiais preocupados com as grandes questões globais reuniram-se na sede da ONU, em Nova York, durante a Cúpula do Milênio. Desse encontro resultou a Declaração do Milênio, documento que reflete as preocupações de 147 chefes de Estado e de governo e de 191 países participantes da maior reunião de dirigentes mundiais, até aquele momento.

O Brasil é signatário desse documento que oficializou um pacto mundial para a eliminação da fome e a pobreza no planeta até 2015. Para isto, foram estabelecidos os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).

  • Erradicar a extrema pobreza e a fome
  • Atingir o ensino básico universal
  • Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
  • Reduzir a mortalidade infantil
  • Melhorar a saúde materna
  • Combater o HIV, malária e outras doenças
  • Garantir a sustentabilidade ambiental
  • Estabelecer uma parceria mundial de desenvolvimento

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) estabelecem para o mundo metas claras e prazos para reduzir a pobreza em suas múltiplas dimensões, ao mesmo tempo em que promovem a igualdade de gênero, a educação e o respeito ao meio ambiente, em coerência com os direitos humanos básicos – os direitos de cada pessoa no planeta à saúde, à educação, à moradia – como prometido na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Declaração do Milênio das Nações Unidas.

A Declaração do Milênio contempla compromissos concretos, com prazos específicos, cujo objetivo maior é avançar em direção a sustentabilidade mundial. Ela foi elaborada ao longo de meses de conversações, permitindo que as vozes de pessoas de todas as partes do mundo fossem ouvidas, levando em consideração as grandes Conferências Internacionais e o Fórum do Milênio.

Na oportunidade, foram identificados os desafios existentes, visando planejar ações para garantir que importantes direitos e deveres – como liberdade, igualdade, solidariedade, tolerância, respeito ao meio ambiente e responsabilidade compartilhada  –  fossem respeitados em qualquer localidade do globo.

O Governo Federal, tendo em vista seu compromisso com os ODM, definiu programas voltados ao seu alcance, sendo grande parte deles realizada no âmbito municipal.

Lista de alguns programas públicos federais voltados aos ODM

Objetivos 1, 3 e 8

  • Programa Pró Jovem
  • Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano
  • Programas de Atenção à Pessoa Idosa
  • Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
  • Programa de Atenção Integral à Família – PAIF
  • Bolsa Família
  • Benefício de Prestação Continuada – BPC
  • Atenção às Pessoas Portadoras de Deficiências
  • Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – Peti

Objetivo 2

  • Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE
  • Dinheiro Direto na Escola – PDDE
  • Legislação FNDE
  • Fundescola
  • Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE
  • Brasil Alfabetizado
  • Caminho da Escola
  • Salário Educação
  • Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE)

Objetivos 4, 5 e 6

  • Programa de Atenção à Criança de 0 a 6 anos
  • Programa de Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde – PSF
  • Programa Brasileiro de Controle do Tabagismo e outros fatores de risco de câncer – Ministério da Saúde/INCA
  • Política Nacional de Saúde Bucal Brasil Sorridente
  • Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST/AIDS
  • Programa Farmácia Popular
  • Programa de Assistência Farmacêutica
  • Programa de Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde

Objetivo 7

  • Programa de Gestão Municipal Ambiental

O que acontecerá se o Brasil atingir os Objetivos do Milênio?

  • Mais de 35 milhões de pessoas não sofreram mais de fome;
  • Aproximadamente 2,5 milhões de crianças de 7 a 14 anos passaram a freqüentar o ensino fundamental;
  • Cerca de 3,5 milhões de crianças não morrerão antes do 5 anos de idade;
  • Por volta de 40 milhões de moradores urbanos passarão a ter água potável.

E os municípios do Vale do Rio dos Sinos, como estarão, em 2015, se atuarem efetivamente desta direção?

Destacamos:

Etapa 2 – Indicadores socioeconômicos e a POLÍTICA DE TRABALHO, EMPREGO E RENDA na região do Vale dos Sinos:

08 de setembroAtividade Presencial

18h – 20h –  Indicadores de trabalho, emprego, desemprego a partir dos bancos de dados do Ministério do Trabalho e Emprego – MET – RAIS/CAGED – José Antonio dias Tavares

20h – 22h – Indicadores do trabalho formal e informal a partir da PED – Departamento Intersindical Economia e Estatística – DIEESE – Lucia Garcia – Coordenadora Técnica Sistema PED.

Atividades que valem como horas complementares.

Informações e Inscrições:

www.ihu.unisinos.br ou

Central de Relacionamento Unisinos

Fone: (51) 3591 1122

Fórum sobre Indicadores

Em 28 agosto, 2009 Comentar

indicadores

Atlas de Desenvolvimento Humano:  ferramenta estratégica para construção e controle das políticas públicas.

A 1ª etapa presencial do II Módulo do Fórum sobre Indicadores socioeconômicos e políticas públicas: realidades e possibilidades para o Vale do Rio dos Sinos aconteceu no dia 27 de agosto no auditório Érico Veríssimo, Centro 3 da Unisinos, com a participação de:  gestores da Unisinos, prefeitura de São Leopoldo, Professores e alunos dos cursos de administração, pedagogia, ciências sociais e serviço social e a  equipe técnica do ObservaPOA.
A tematização foi realizada pela equipe técnica interdisciplinar do ObservaPOA , que sistematizou o Atlas do Desenvolvimento Humano da região Metropolitana de Porto Alegre.
A equipe é formada por duas assistentes sociais – Adriana Furtado (ex-aluna da Unisinos) e Cidriana Parenza, uma estatística – Valeria Bassani e um economista – Carlos Eduardo Gomes Macedo.
Uma contribuição importante do Atlas é a apresentação das Unidades de Desenvolvimento Humano – UDH, que reúne os indicadores socioeconômicos por bairros, possibilitando uma aproximação com a realidade local e comunitária. Esta aproximação é indispensável para a implementação das políticas públicas nos municípios. Na apresentação dos indicadores dos municípios do Vale dos Sinos ficou estampada a desigualdade existente entre os municípios e dentro de um mesmo município. Vale ressaltar que entre os 14 municípios da região, São Leopoldo é o que apresenta o maios índice de desigualdade, superior às desigualdades brasileiras.
Estes dados são facilmente acessados nos sites referidos anteriormente e a equipe disponibiliza-se em contribuir na apresentação e discussão sobre os mesmos.
O aprofundamento desta temática também poderá ser realizado através da atividade em EAD, que prolonga-se até o dia 7 de setembro. Para tanto, os interessados podem fazer suas inscrições no site do IHU – www.unisinos.br/ihu ou na central de relacionamento da Universidade.
Este evento prolongar-se-á por todo o semestre, com cinco etapas presenciais e 16 semanas de atividades em EAD na plataforma moodle.
O IHU Unisinos é realizador desta atividade, juntamente com a Asssociação Antonio Vieira e o curso de Serviço Social. Muitas outras organizações da Unisinos e de fora dela estão apoiadoras desta atividade confira tudo isso no site do IHU – Instituto Humanitas Unisinos.

Com a presença de 16 pessoas, dentre elas alunos, professores e pesquisadores da Unisinos, bem como do palestrante Dr. Cesar Sanson, no dia 18 de junho o Instituto Humanitas Unisinos – IHU debateu a temática “trabalho e subjetividade”.

“Trinta anos atrás, em muitas fábricas, havia cartazes que intimavam: ‘Silêncio, aqui se trabalha!’. A principal novidade do pós-fordismo consiste em ter colocado a linguagem a trabalhar. Hoje, em algumas fábricas, podemos fixar dignamente cartazes invertidos aos de outros tempos: ‘Aqui se trabalha. Fale!” Com essa descrição de Paolo Virno, que define o caráter radical da mudança que se processou no mundo do trabalho nos últimos anos, César iniciou a sua fala, buscando demonstrar que o capital adotou uma cruzada contra o caráter monológico do trabalho. O que antes era ocultado agora precisa vir à superfície, o que não era valorizado, enquanto ação individual ou grupal para melhorar o processo produtivo, tornou-se central na nova forma de organizar o trabalho.

Aqui temos ilustrado alguns indícios da passagem do que ele denomina da uma subjetividade do trabalhador vinculada a sociedade industrial, para uma vinculada a sociedade pós-industrial. Mesmo que esta passagem ainda não seja hegemônica hoje, ou seja, não seja a subjetividade pós-industrial a predominante entre os trabalhadores, ela aponta a tendência quando pensamos o mundo do trabalho, afirma César, que seguiu detalhando o assunto e seus desdobramentos.

Do comando e utilização da força física para o comando e utilização da subjetividade – “a alma do operário que deve descer na oficina”
Na sociedade industrial, o trabalhador é encerrado em uma “jaula de ferro”, expressão de Weber, reapropriada por Sennett. As suas características pessoais são desconsideradas, o seu conhecimento é desqualificado, o seu saber não é reconhecido e a sua subjetividade é dispensada. O trabalhador entra no processo produtivo como um “acessório da oficina capitalista” descreve Marx. Na fábrica, ele se torna um numerário, sem rosto e sem fruição a ser manifestada. A sua energia física é consumida, o seu tempo de trabalho é roubado e o seu conhecimento, quando exigido, é usurpado. Coisificado e assujeitado, assim é o trabalhador da sociedade industrial. Assim como a mercadoria, produto do trabalho fordista é estandardizada, o trabalhador também é estandardizado.

Em contraponto ao trabalhador calado do modo de produção fordista, a sociedade pós-industrial demanda um trabalhador comunicativo. Agora se pede ao trabalhador que se disponha a inventar e a produzir novos procedimentos cooperativos, que colabore, que se explicite, apresente idéias. ‘É a alma do operário que deve descer na oficina’, afirmam Lazzarato e Negri acerca da nova exigência do capital. É a sua personalidade, a sua subjetividade que deve ser organizada e comandada.

Assiste-se a uma ruptura da concepção de trabalho da sociedade industrial. Na sociedade fordista, o trabalho insere-se na esfera da reprodução, está preconcebido e atende a um padrão tecnológico e organizacional estruturado de antemão. As tarefas são rotineiras, repetitivas, e podem ser pré-codificadas e programadas para que as máquinas as executem. A relação homem/máquina é despojada de qualquer enriquecimento. Trata-se de uma relação racionalizada por procedimentos que manifestam uma interação mecanicista. O saber operário não é reconhecido, ou apenas parcialmente, por encontrar-se circunscrito nos padrões pré-estabelecidos pela máquina. Há um limite interposto pelo ‘saber morto’ objetivado na máquina que bloqueia a possibilidade do ‘saber vivo’ do operário. Na sociedade industrial da manufatura e do fordismo, a relação com a produção faz-se silenciosamente, pois a máquina-ferramenta não permite uma interação colaborativa.

Agora, com a introdução das Novas Tecnologias da Comunicação e Informação, as mudanças são significativas. Cada vez mais a valorização do trabalho repousa sobre o conhecimento, sobre a capacidade de interação com a máquina, superando a mera subordinação. Trata-se do que Corsani denomina de “sistema de produção de conhecimentos por conhecimentos”. É nesse sentido que a forma de trabalhar associada ao pós-fordismo é vista como a passagem de uma lógica da reprodução para uma lógica da inovação, de um regime de repetição a um regime de invenção.

Se na sociedade industrial há rigidez, uniformidade e padronização no modo produtivo e demanda-se um trabalhador especializado, fragmentado, parcelizado e não qualificado, na sociedade pós-industrial, pede-se um trabalhador comunicativo, participativo, polivalente, flexível, capaz de realizar múltiplas tarefas que, com o seu conhecimento enriqueça o processo produtivo e faça da comunicação com os outros um recurso permanente.

Subjetividade e trabalho: da sociedade industrial/fordista para a sociedade pós-industrial/pós-fordista
O conceito de força de trabalho, na sociedade pós-industrial, retoma a essência do seu significado, ou seja, a compreensão de que a força de trabalho é um todo corpóreo, reúne todas as faculdades, da força física à competência lingüística. Na nova forma de se organizar o trabalho e ativá-lo, busca-se a reconquista da parte do trabalho vivo que o desenvolvimento histórico do capitalismo tentou aniquilar. Ao capital da sociedade pós-industrial interessa a mercadoria do corpo não apenas como unidade biológica, mas como corporalidadade social, ou seja, aquilo que ele reúne em si, como parte integrante de uma capacidade produtiva maior, que se reúne no intelect generall – o cérebro social de que fala Marx.

Mais do que nunca, o capital procura reconciliar o que um dia foi separado, tornar único o todo do trabalhador, reunir as suas aptidões físicas com a sua “vida da mente” como diz Virno. A “vida da mente” é cada vez mais solicitada no envolvimento com o cotidiano do chão de fábrica.

Em síntese, a sociedade industrial, taylorista-fordista, mobilizou massas enormes de trabalhadores e os empurrou para uma divisão técnica do trabalho que lhes reservava tarefas simples e repetitivas. O operário fordista é duplamente massificado, pela reincidência diuturna a que é submetido num processo produtivo estandardizado e pela negação de suas características pessoais, subjetivas.

Essa sociedade, entretanto, está em reviravolta, embora ainda homogênea, a essência da sua forma de organizar a produção é empurrada cada vez mais para a periferia do núcleo propulsor do novo capitalismo.

Cesar defende a idéia que estamos transitando da sociedade industrial, fordista, para a sociedade pós-industrial, pós-fordista, e o trabalho, o sujeito do trabalho e a subjetividade manifesta no trabalho passam por mutações significativas. Assim como a Revolução Industrial foi o gérmen de um novo tempo, a sociedade pós-industrial anuncia uma tendência que tende a tornar-se hegemônica.

A marca distintiva, que caracteriza a sociedade pós-industrial ou pós-fordista, é a emergência da economia do imaterial e do trabalho imaterial. O trabalho imaterial ainda não se apresenta hegemônico quantitativamente, mas já o é qualitativamente. Poder-se-ia afirmar que se encontra hoje em posição semelhante à que estava o trabalho industrial há 150 anos Na sociedade pós-industrial, o conhecimento, a comunicação e a cooperação, ativados sobretudo pela Revolução Informacional, mas não apenas, passam a ser considerados os principais recursos demandados ao sujeito do trabalho, algo que na sociedade industrial era renegado. A nova forma de organizar o trabalho colocou no centro do processo produtivo os recursos imateriais. A lógica do capital é apropriar-se desses recursos que se desenvolvem como qualidades subjetivas e subordiná-las ao seu projeto.

Trabalho imaterial e Subjetividade pós-industrial: apropriação total e alienação e/ou possibilidades?
O caráter “revolucionário” do trabalho imaterial, segundo Hardt, Negri, Virno e Gorz, entre outros, repousa no fato de que as formas centrais de cooperação produtiva já não são criadas apenas pelo capitalista como parte do projeto para organizar o trabalho, mas, emergem das energias produtivas do próprio trabalho, ou seja, o sujeito do trabalho joga um papel decisivo como parte integrante da própria forma de organizar o trabalho.

A principal fonte do valor reside agora na criatividade, na polivalência e na força de invenção dos assalariados e não apenas no capital fixo, a maquinaria. A capacidade de interação, de iniciativa, de disponibilidade, de ativação, é requerente no modo de ser no trabalho das empresas, e o trabalhador não deve se contentar em reproduzir as capacidades predeterminadas e prescritas para o posto de trabalho que ocupa, mas sim desenvolver-se como um produto que continua ele mesmo a se produzir.

Se na sociedade industrial, o trabalho situa-se fora do operário e encerrada a jornada, o trabalho fica na fábrica; agora, o trabalho subsume toda a pessoa, invade todo o seu ser, não é mais exterior, mas foi interiorizado, é constitutivo ao operário. O tempo do não trabalho confunde-se ao tempo do trabalho, ocorrendo uma mudança na relação do sujeito com a produção e o seu próprio tempo. O plus do trabalhador ativado por seus recursos imateriais é considerado central no novo modo produtivo e essencial na organização da força de trabalho. O modo produtivo pós-industrial requer o engajamento do trabalhador, que ele hipoteque sua subjetividade no trabalho.

Estes fatos fazem com que na sociedade pós-industrial, assiste-se a uma transformação do sujeito na sua relação com o trabalho. Sob a hegemonia qualitativa do trabalho imaterial, tendo em sua base o conhecimento, a comunicação e a cooperação, emerge uma outra subjetividade, que ao mesmo tempo em que é requerida pelo capital, apresenta traços de certa autonomia. O valor do trabalho, na sociedade pós-industrial, apresenta-se cada vez mais de forma biopolítica. O capital investe cada vez mais no indivíduo e não no coletivo, investe na crescente individualização do trabalho, explora as capacidades cognitivas de cada um, e o singular assume o caráter do diferencial nos ganhos de produtividade.

Por isso se afirma que o capital investe na bios – na vida – do trabalhador e, também por isso, se afirma que a resposta à dominação pode ser biopolítica no sentido foucaultiano, ou seja, as mesmas capacidades ativadas pelo capital podem voltar-se contra ele. Esclarecendo: se por um lado é na bios – na vida do trabalhador – que o capital investe procurando ativar os recursos imateriais próprios de cada operário na perspectiva que esses recursos sejam disponibilizados ao capital, por outro, eles também assumem um caráter permanente de produção de si, isto é, essa mesma subjetividade prescrita pelo capital, também resulta em “produção de si”, e nesse sentido é portadora de elementos que podem abrir caminhos para a transformação do próprio sujeito do trabalho.

Quer-se dizer que a nova forma de organizar o trabalho abre a possibilidade da conquista de uma autonomia maior, uma vez que os recursos imateriais, disponibilizados no processo produtivo são também ganhos e aquisição dos próprios trabalhadores. Como destaca Negri, o valor do trabalho, na sociedade pós-industrial, apresenta-se de forma biopolítica, no sentido de que “viver e produzir tornaram-se uma só coisa, e o tempo de vida e o da produção se hibridaram sempre mais”. César defende a idéia de que a forma de organizar o trabalho, na sociedade pós-industrial/pós-fordista, traz dentro de si o antagonismo que pode fundar as novas lutas sociais. O trabalhador  pós-fordista, ao entrar no processo de produção, não se apresenta apenas como possuidor de sua força de trabalho hetero-produzida – ou seja, capacidades predeterminadas impostas pelo empregador –, mas como um produto que continua, ele mesmo, a se produzir.

Produção de capital e produção da vida social: o comum e a multidão(?)
A produção de capital é hoje em dia também produção da vida social. Na medida em que o capital instiga o trabalhador a disponibilizar todos os seus recursos (lingüísticos, de comunicação, de interação, de cooperação) com o objetivo de subordiná-los à sua lógica, tem-se também um processo inverso. Esses mesmos recursos servem aos trabalhadores para o seu crescimento pessoal e para o enriquecimento de suas relações sociais, logo, assim, como servem ao capital, criam mecanismos de resistência a ele, afirma César.

Por outro lado, são os recursos imateriais – o conhecimento, a comunicação e a cooperação, que dão conteúdo ao comum, isto é, a multiplicidade de atividades sempre mais cooperativas dentro do processo de produção. Como afirmam Negri e Hardt, “o aspecto central do paradigma da produção imaterial que precisamos apreender é a sua relação íntima com a cooperação, a colaboração e a comunicação – em suma, sua fundamentação no comum”. O comum seria aquilo que pode ser identificado em cada trabalhador, mas também no conjunto deles, aquilo que é partilhado.

É esse comum que é explorado pelo capital, que se manifesta como “expropriação por parte do capital do excedente expressivo e da cooperação do trabalho vivo”. Esse mesmo comum, entretanto, acionado pelo capital, pode ser a base de outra lógica: o comum não apenas como fundamento do capital, mas como sustentáculo de  um projeto de emancipação dos trabalhadores naquilo que diz respeito aos seus interesses. É no comum que se encontra a base de exploração, mas ao mesmo tempo, a subjetividade de resistência que se configura na multidão.

O comum é a base da multidão. É a multiplicidade de subjetividades que dá conteúdo à multidão. A multidão designa um sujeito social ativo, que age com base naquilo que as singularidades têm em comum. Segundo Negri e Hardt “é um sujeito social internamente diferente e múltiplo cuja constituição e ação não se baseiam na identidade ou unidade (nem muito menos na indiferença), mas naquilo que tem em comum”. Embora se mantenha múltipla e internamente diferente, a multidão é capaz de agir em comum.

Tendo presente, os elementos descritos, o que César defende a partir da sua tese é que dois séculos de Revolução Industrial possibilitaram que se compusesse uma subjetividade do sujeito do trabalho que desaguou na constituição da classe operária e em determinadas formas de luta. Agora, acredita-se que as mutações do capital levarão a classe a uma outra configuração e a um outro patamar de lutas. Sugere-se que a classe assumirá a identidade de multidão.

Depois da exposição, a tese defendida por César resultou em diferentes debates que puderam ser minimamente aprofundados pelos presentes, em função do tempo e podem continuar aqui. Eu tendo a “acreditar” na perspectiva da multidão, e vocês, todas e todos, o que pensam? Vamos seguir a reflexão? (Postado por Lucas Luz com base no texto que foi base da fala do palestrante enviado por ele ao IHU).

Com a presença de 48 pessoas e do palestrante Prof. Dr. Giuseppe Cocco, foi realizado no dia 14 de maio de 2009, mais uma sessão do IHU Idéias, cuja temática discutiu “O Império e a Multidão no Contexto da Crise Atual”. Evento que ocorreu dentro da programação do Seminário sobre Crise, Políticas Públicas e Transferência de Renda.

 

O Professor Giuseppe Cocco iniciou dizendo que sua apresentação estaria baseada principalmente no debate da crise, para então depois fazer uma correlação com os conceitos de império e de multidão. Neste sentido, para ele a crise é uma oportunidade para aprofundar o debate sobre conceitos e paradigmas que marcaram e marcam a sociedade.

Certeza da incerteza: crise do capitalismo cognitivo
Para Cocco, a única certeza atual diante da crise, é a de que não sabemos como será o amanhã, ou seja, não estamos vivendo uma crise cíclica ou ainda uma crise do sistema financeiro. Estamos diante da crise do capitalismo global, do capitalismo das redes, é a crise do capitalismo cognitivo.

 

Capitalismo cognitivo este que é caracterizado, por exemplo, pela ausência de relação entre empresa e indústria. Ou seja, mais do que produtos e serviços, as empresas produzem atualmente modos de vida, o que está distante do paradigma industrial fordista, ou mesmo pós-fordista, por exemplo. É fácil perceber este fato quando observamos o custo de um tênis de marca famosa.

 

Aproximadamente 5% do valor que pagamos por este tênis diz respeito ao seu custo material, ao seu custo de produção. Os demais 95% estão ligados ao intangível, ao imaterial, como o seu design, a publicidade, a criação da(s) necessidade(s), o valor da marca, o simbolismo deste produto, dentre outros. É por isso que a empresa que produz este tênis produz muito mais do que um tênis, que permite caminhar sem machucar os pés, ela produz em sentido último, modos de vida. Estes fatos tornam possível, por exemplo, que a produção material ocorra em países que têm mão de obra a custo baixo, como é o exemplo da China e do próprio Brasil.

 

Ou seja, a produção de valor está não mais no material, mas sim na produção de significados que triplica o valor do material. Outro exemplo que ilustra o fazer deste capitalismo cognitivo, segundo Cocco, é a Varig. Em seu processo falimentar ela foi ficando sem nenhum tipo de capital material, pois os aviões que utilizava para operar não eram seus, eram de contratos de leasing. Assim, o que acabou sobrando da Varig foi sua marca e dois passivos: um passivo trabalhista e um passivo relacionada ao seu programa de fidelidade.

 

Ela então acabou vendendo a marca e este passivo relacionado ao programa de fidelidade. Então temos um passivo que se transformou em ativo em função da rede de clientes, de pessoas que utilizam serviços aéreos que este passivo permite acessar. Novamente estamos diante do capitalismo cognitivo. Outros exemplos poderiam ser trazidos, como o caso dos celulares, que as empresas acabam dando os aparelhos, que é o material, para poderem ganhar na rede que constituem de pessoas utilizando os seus serviços.

 

Portanto, nossa produção de valor está ligada ao imaterial, ao cognitivo, as relações. Então, este valor é social e está espraiado na sociedade, que consome e produz ao mesmo tempo. A realidade presente, o capitalismo cognitivo, mistura produção e consumo.

 

Outro elemento que Cocco fez questão de destacar em relação ao capitalismo cognitivo, é o fato que seu espaço de produção não é a fábrica, mas sim as redes sociais, que são encontradas, principalmente, nas grandes metrópoles, que constituem-se em espaços privilegiados de produção de modos de vida.

O capitalismo cognitivo e o trabalho imaterial
Neste contexto, surge mais um elemento do capitalismo cognitivo, que é a centralidade do trabalho imaterial, que define uma nova relação entre capital e trabalho e põe em xeque a questão das relações salariais, por exemplo. Para explicitar esta nova relação entre trabalho e capital, Cocco usa a metáfora da cigarra e da formiga. Historicamente, na relação que se tinha entre trabalho e capital, quem produzia valor e, portanto tinha como enfrentar as adversidades do inverno, era a formiga. No capitalismo cognitivo, a produção de valor está muito mais na cigarra que na própria formiga.

 

Outro exemplo que ele utiliza para ilustrar esta nova relação é o da abelha. Historicamente os apicultores se apropriam do excedente de mel produzido pelas abelhas, assim como o capitalismo se apropriava do excedente de trabalho material do homem. Atualmente, na Califórnia, os produtores de amêndoas estão pagando apicultores para trazerem caminhões carregados com caixas de abelhas e deixá-los parados por determinado prazo de tempo, nas fazendas de produção de amêndoas. Pagam por isso, por dia que o caminhão com as caixas de abelha fica ali parado em função do desaparecimento das abelhas silvestres. Para os apicultores, significa um retorno muito maior o valor pago por estes fazendeiros, do que propriamente o valor que ganham com a comercialização do mel. Assim, o maior valor da produção destas abelhas hoje, não está no mel que produzem, mas sim na polinização que executam ao produzir este mel, no caso, nas fazendas de amêndoas. É isso o que ocorre com o trabalho hoje.

 

Porém, mesmo assim, muitas vezes não se reconhece este trabalho que é imaterial, difuso, menos controlável, que mistura afeto, tempo de trabalho e de não trabalho, dentre outros, e que produz modos de vida. É um trabalho que, para Cocco e para a tese da Multidão, pode ser emancipatório, inclusivo, mas também pode ser precarizado e excludente.

Crise atual: capitalismo financeiro e capitalismo cognitivo
Então a crise atual, na realidade, é a crise deste capitalismo, deste modo de ser. O que está em crise é uma tentativa de regulação do capitalismo cognitivo pelo capitalismo financeiro. Por exemplo, como medir e significar um trabalho que mistura espaço e tempo de trabalho e não trabalho, quantitativo e qualitativo, relações sociais e afetivas, dentre outros? A saída da depressão de 1930 passou por descobrir politicamente que o salário é determinante do custo e da demanda do macro-sistema econômico, e precisava ser regulamentado pelo estado, com a participação dos sindicatos, por exemplo. Assim, a dinâmica salarial foi colocada como mecanismo de regulação fundamental.

 

O que caracteriza o mecanismo da crise atualmente é que se consome a crédito e, para que ocorra este consumo, é necessário produzir. E esta produção, dentro do capitalismo cognitivo, ocorre por meio da bioprodução, da produção de modos de vida (produção do homem por meio do homem). Assim, a produção deste capitalismo depende fundamentalmente dos serviços, e por isso privatiza-se tudo o que se relaciona a serviços, inclusive os ligados ao bem estar social, como educação, saúde, habitação e comunicação.

 

Surge assim, um dos pontos relevantes a crise atual, pois se tem por um lado um tipo de produção, de trabalho que sua qualidade depende da educação, das condições de saúde, de moradia, da comunicação, etc., e o acesso a tudo isso é precário e ocorre, na maioria das vezes e para a maioria das pessoas, por meio do acesso ao crédito. Este crédito, por sua vez, precisa ser pago por meio dos salários, que são cada vez menores. Aqui ocorre então uma relação de débito e crédito como a do sub-prime. O trabalho torna-se então ainda mais precário, incerto, difuso e por vezes até ilegal. A financeirização é o que garante então o desenvolvimento das forças de produção, mas esta financeirização é insustentável. Até porque, para chegar até aqui – até o presente momento, o crédito teve que perder muito do seu conservadorismo e da sua precaução.

 

Então, o que está em crise é a solução financeira deste descompasso estrutural. O capitalismo cognitivo precisa do capitalismo financeiro como um capitalismo biopolítico. Os fundos de pensão são exemplos de biocapital, pois a pessoa paga agora, para receber quando não for mais trabalhar. Quem investe em fundos de pensão acaba buscando que o estado diminua seu investimento nas questões sociais, nas questões que envolvem camadas mais vulneráveis, socialmente falando, que privatize tudo o que se relaciona a um possível (ou impossível) welfare-state, para que os títulos públicos que os fundos de pensão compram, tenham menores riscos e maiores lucratividades financeiras. Cria-se então uma contradição, uma oposição que atravessa trabalhadores e o trabalho em geral. No momento que os fundos de pensão investem também em empresas, eles buscam que elas tenham uma gestão o mais racional possível, que racionalizem custos e para isso desvalorizem ao máximo o trabalho e os trabalhadores, aumentando a contradição estrutural do sistema.

Império, Multidão e a Inclusão pelo consumo, pela bioprodução?
Porém, este capitalismo cognitivo é sim includente. Mas ele destrói a forma de inclusão baseada no trabalho industrial e fabril. Ele pode incluir para além desta inclusão baseada neste tipo de trabalho. O capitalismo cognitivo inclui todos, sem condicionar esta inclusão ao trabalho. Inclui, no que tange o acesso ao consumo, pobres, ricos, executivos e desempregados, trabalhadores informais, etc. Se não há mais o pleno emprego, o crédito passa a ser fundamental para a incluir. Mas é uma inclusão econômica e não inclusão social, política. O império é um pouco isso, onde tudo é incluído nesta relação de exploração, nosso tempo de vida é explorado pelo capitalismo cognitivo e sua produção e consumo simultâneos.

 

Desta forma, o capitalismo financeiro, importante ao capitalismo cognitivo, condiciona nossa vida ao crédito. Então o conflito capital e trabalho não está mais na relação de emprego. Está muito mais na produção de subjetividades, de modos de vida, nas relações sociais que são o espaço de produção atual. E, a produção atual, baseada na subjetividade, não mais obriga os sujeitos a reduzirem multiplicidade a unidade. Se o trabalho é difuso, fragmentado, e mistura corpo, mente, relações afetivas, há que se atentar para esta multiplicidade e é aqui que se destaca o conceito de multidão e sua possibilidade de alguma emancipação, ou não?

 

Para quem quiser ler mais sobre este debate trazido anteriormente, ficam sugestões de leitura indicadas pelo Prof. Giuseppe Cocco, palestrante do evento, que podem ser feitas a partir de alguns sites ou obras de autores:
www.universidadenomade.org.br
www.redecais.org.br
www.cidadeterritorio.org.br
http://www.e-papers.com.br/produtos.asp?codigo_categoria=11  (Revista Lugar Comum).
– Livros da coleção “A política no Império, da Civilização Brasileira – Record.
B. Szaniecki, A estética da Multidão.
Lazzarato, As revoluções do capitalismo.
Virno, Virtuosismo e Revolução.
Altamira, Os marxismos do novo século.  (Postado por Lucas Luz).