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Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Através de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

Meu adorado

Ó Deus,

mostra-me onde estás,

para que eu possa tornar-me teu servo,

para que eu amarre tuas sandálias

e que penteie teus cabelos,

para que eu lave tua roupa,

mate teus piolhos,

traga teu leite,

oh meu adorado!

Que eu beije tua mão amada,

que eu massageie teu pé amado

e no momento de dormir,

balance tua pequena cama;

que eu varra teu pequeno quarto

na hora de dormir!

Que todas as minhas cabras

sejam sacrificadas por ti,

em quem eu penso,

Lânguido, pleno de desejo

de amor.

(oração de um simples pastor, em um dos contos de Masnavi de Rûmî – MII, 1720s)

Rûmî (1207 –  1273) viveu no Império Bizantinofoi poeta, jurista e teólogo do sufismo. É visto como um apóstolo do ecumenismo, famoso por escrever histórias que são consideradas orações e pela sua contribuição com o diálogo inter-religioso, em uma época em que este diálogo ainda não era pensado.  Sua mais importante mensagem foi o “amor”, fio condutor de todas suas obras.  As histórias do poeta traçam um percurso sobre a criação.

Por ocasião do II Colóquio Internacional IHU – O Concílio Vaticano II: 50 anos depois. A Igreja no contexto das transformações tecnocientíficas e socioculturais da contemporaneidade, reunimos uma série de edições de Cadernos Teologia Pública que versam sobre o tema do evento.

(Para acessar ao Caderno na sua versão em PDF basta acessar ao link em cada título).

José Oscar Beozzo, Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular – CESEP

Resumo: Desde o primeiro contato com os povos do Caribe e da América, os europeus que aqui chegaram foram assaltados por 93 capaperguntas de caráter antropológico, político, social, religioso e, finalmente, teológico: “São eles humanos? Possuem uma religião? Qual o seu Deus?” As respostas podiam refletir profunda ignorância ou simplória convicção. Bem depressa, porém, perplexidades, impasses, resistências e confrontos trouxeram à tona a complexa realidade desse choque entre povos, culturas e religiões e as questões pastorais e teológicas ali imbricadas e que, até hoje, pesam na consciência e no caminhar do cristianismo latino-americano. Tomar, pois, a totalidade da realidade como sinal dos tempos e voz de Deus na história; situar a reflexão teológica na intersecção da fé com a esfera econômica, política, social; ler a realidade a partir dos últimos, dos mais pobres e excluídos, aos quais se revela o Deus da Vida, como a seus prediletos; abraçar sua causa e seus sonhos; e empenhar-se pela transformação da injusta realidade como parte essencial do seguimento de Jesus Cristo são alguns dos elementos que configuram o que se convencionou chamar de teologia da libertação.

Palavras-chave: Teologia da Libertação, América Latina, Cultura e Religião.

John O’Malley, Georgetown University

Resumo: A situação atual oferece, para nós que estudamos o Concílio, um ensejo para dar um passo atrás e examiná-lo atentamente. Ao invés de refletir sobre cada um dos dezesseis documentos finais, como se faz habitualmente, sem levar em conta sua unidade de conjunto, podemos tomar fôlego e examiná-los como um corpus único e coerente, com uma mesma proposta no que se refere aos objetivos e aos valores cristãos fundamentais. Enquanto revisitamos o Concílio nessa perspectiva, tomaremos em consideração o evento da eleição de Jorge Mario Bergoglio, como Papa Francisco, ocorrido no dia 13 de março de 2013.

Palavras-chave: Concílio Vaticano II, Papa Francisco, conjuntura.

Massimo Faggioli, University of St. Thomas

Resumo: Gaudium et Spes, um documento que ficou quase “esquecido” durante o pontificado de Bento XVI, é um dos documentos conciliares mais frequentemente citados pelo Papa Francisco. Não há muita dúvida de que a constituição pastoral é o documento-chave do Vaticano II para orientar nossa compreensão do Papa Francisco e sua relação tanto com o próprio Concílio quanto com o período pós-conciliar. Então, qual é o sentido dessa inversão, desse retorno da constituição pastoral do Vaticano II? Qual é o sentido de Gaudium et Spes para os teólogos e fiéis da “Igreja no mundo moderno” de hoje em dia, em um mundo que é significativamente diferente do mundo de 1965?

Palavras-chave: Gaudium et Spes, Concílio Vaticano II, Papa Francisco.

João Batista Libânio, SJ.

Resumo: O Concílio Vaticano II encerrou a longa etapa da Contra-Reforma e da neocristandade, modificando profundamente o clima da Igreja. A sua contextualização implica vários passos, entre os quais destacam-se neste artigo: alguns traços da Igreja da Contra-Reforma; realidades socioculturais que provocaram a crise desse modelo; a crise dentro da Igreja, provocada pela entrada da modernidade; fatores imediatos que decidiram sobre a convocação e a orientação do Concílio nos seus inícios.

Palavras-chave: Concílio Vaticano II, História da Igreja.

Sinivaldo S. Tavares, OFM, Instituto Teológico Franciscano – ITF, de Petrópolis, RJ.

Resumo: Com o presente artigo, busca-se indagar as eventuais afinidades entre Dei Verbum e Gaudium et Spes. O fato de terem sido as duas últimas Constituições aprovadas em sede conciliar, por si só, constitui algo extremamente significativo. O processo de composição de uma e de outra recobre o inteiro arco da realização do Concílio. Sorveram, mais que os demais textos conciliares, a seiva daquele espírito de aggiornamento que andou caracterizando o Vaticano II e, por esta razão, são documentos que recolheram os melhores frutos produzidos durante aquela fecunda estação.

Palavras-chave: Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, Dei Verbum.

José Maria Vigil, Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT/EATWOT)

Resumo: Hoje, torna-se curioso, quase nostálgico, recordar que, na hora de caracterizar “o mundo atual”, naquele distante 1965, um traço que a Gaudium et Spes destacava como surpreendente e inovador era ser uma época de mudanças e de mudanças aceleradas. “Já quase não é possível ao ser humano de hoje dar prosseguimento a essa história tão movimentada, nesta época de mudanças aceleradas”, dizia. E certamente aquele Concílio, por sua vez, introduziu na Igreja uma época acelerada de mudanças religiosas e pastorais.

Christoph Theobald, Faculdade de Teologia de Centre-Sèvres, Paris, França.

Resumo: A imagem do “gancho”, usada por Karl Rahner, nos permite compreender o desafio atual da recepção do Concílio Vaticano II. Em 27 de fevereiro de 1964 ele escreveu para Herbert Vorgrimler: “Voltei ontem de Roma, cansado. Mas lá sempre podemos nos esforçar para evitar o pior e para que, aqui e ali, um pequeno gancho seja suspenso nos esquemas para uma teologia futura”. “Aqui e ali, um pequeno gancho”, eis o potencial de futuro dos documentos conciliares; este potencial, hoje, só pode ser distinguido no diálogo com o nosso próprio diagnóstico do momento presente.

Victor Codina, Universidade Católica de Cochabamba

Resumo: O artigo é motivado pela preocupação de recuperar o significado do Concílio Vaticano II para que sua mensagem seja uma boa notícia para o mundo de hoje. O significado desse evento eclesial é evidenciado, incialmente, mediante uma contextualização da época pré-conciliar (liturgia, movimentos bíblico, patrístico, litúrgico, ecumênico, pastoral; nova 081 capasensibilidade social; figuras teológicas mais relevantes daquele momento) enquanto terreno fértil do Concílio e culmina numa. Num segundo momento, o artigo apresenta o Concílio enquanto tal, apresentando a figura de João XXIII e sua convocação para um aggiornamento da Igreja, uma visão sumária de algumas chaves de leitura do Vaticano II e a síntese final de Paulo VI, caracterizada como “uma espiritualidade samaritana”. Num terceiro momento, após um testemunho de vivências pessoais do Concílio, é feito uma exposição a respeito do pós-concílio, que abrange desde a “primavera eclesial” dos primeiros anos até o mal-estar dos últimos. O artigo conclui articulando a ideia de caos e kairós como expressão das possibilidades da ação do Espírito para o tempo de crise da Igreja nos últimos anos.

Palavras-chave: Concílio Vaticano II, Igreja, pós-concílio, João XXIII, Paulo VI.

Peter C. Phan, Georgetown University

Resumo: Este ensaio apresenta um levantamento da teologia e da prática do diálogo inter-religioso na Igreja Católica Romana desde o término do Concílio Vaticano II em 1965. Estruturado em torno às perguntas “De onde viemos?”, “Onde estamos atualmente?” e “Para onde vamos?”, o texto parte de uma exposição sobre o olhar da Igreja Católica sobre as outras religiões antes da década de 1960, apresenta os acontecimentos mais notáveis nas relações da Igreja Católica com as outras religiões e as mudanças mais significativas na teologia das religiões dos últimos 50 anos, culminando numa indicação de direções e trajetórias para o diálogo inter-religioso nas primeiras décadas deste terceiro milênio cristão.

Palavras-chave: Igreja, Concílio Vaticano II, Dialogo inter-religioso, Religiões.

John W. O’Malley, Georgetown University.

Resumo: “A palavra “humanismo” aparece três vezes nos documentos do Vaticano II, uma vez em sentido positivo e duas em sentido negativo. Portanto, esse termo é ambivalente e pode ter acepções incompatíveis com o catolicismo. Entretanto, se for entendido de maneira apropriada, ele é eminentemente compatível e um termo apropriado para indicar o ideal que o concílio propôs. Entendo que “humanismo”, aplicado ao concílio, indica uma ênfase na dignidade da pessoa humana como ser criado por Deus e redimido por Cristo, uma pessoa que, além disso, age a partir de convicção interior e passa sua vida em interação positiva com outros seres humanos. Minha outra tese é que essa ênfase humanística foi possibilitada porque o Vaticano II adotou uma certa forma de discurso, um certo estilo de falar que era radicalmente diferente do estilo de concílios anteriores. Sustento, portanto, que um aspecto indispensável da hermenêutica do Vaticano II consiste em uma grande atenção ao estilo retórico do concílio e que, se prestarmos atenção a esse estilo, perceberemos por que surgiu a ênfase na dignidade humana e na interação humana.”

Palavras-chave: espiritualidade, humanismo, Concílio Vaticano II.

Durante esta semana, além de participar do II Colóquio Internacional IHU – O Concílio Vaticano II: 50 anos depois. A Igreja no contexto das transformações tecnocientíficas e socioculturais da contemporaneidade, os professores José Oscar Beozzo, John O’Malley e Massimo Faggioli contribuirão com textos publicados pelos Cadernos Teologia Pública.

  • Na edição de número 93 o tema abordado é O êxito das teologias da libertação e as teologias americanas contemporâneas;
  • na 94 O’Malley publica o artigo Vaticano II: a crise, a resolução, o fator Francisco;
  • e na 95  Faggioli fala sobre “Gaudium et Spes” 50 anos depois: seu sentido para uma Igreja aprendente.

“O Concílio Vaticano II (1962-1965) enfatizou a Igreja como povo de Deus, a centralidade das Igrejas particulares e de sua presença e testemunho no mundo de hoje (…) O tema da Igreja dos pobres e de uma teologia do desenvolvimento que os arrancasse da pobreza, rondou as quatro sessões do Concílio Vaticano II e acabou encontrando um desaguadouro, ainda que insuficiente, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes (1965) e, no imediato pós-concílio, na Populorum Progressio (1967)”, afirma José Beozzo.

A versão impressa de Cadernos Teologia Pública está disponível na secretaria do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

A edições impressas das publicações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU podem ser pedidas pelo email humanitas@unisinos.br e/ou pelo telefone 51 -3590 8474.

Por Nahiene Alves

Para ler mais:

Creio em que? E espero em que? Apenas essas duas questões serviram de provocação para os entrevistados da IHU On-Line desta semana.

Foto: Sementes do Espirito

Telma Monteiro, pesquisadora independente e especialista em análises de processos de licenciamento ambiental e social; Augusto Teixeira, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF e Dom Erwin Kräutler, Bispo do Xingu são algumas das pessoas que participam da última edição da revista IHU On-Line.

Uma das reflexões é relatada por uma filósofa e teóloga feminista/ecofeminista: “Os dogmas, as teorias, as grandes sínteses do pensamento, as grandes ‘revelações divinas’ compiladas em livros sagrados não poderão nos ensinar nada se nosso coração não for capaz de enternecer-se diante de um homem faminto, de uma criança chorando de abandono, de uma mulher violada, de um estrangeiro buscando um lugar para viver”, afirma  Ivone Gebara, teóloga feminista.

Também nesta edição pode ser lida a entrevista com Luigi Perissionotto, professor de Filosofia da Linguagem e Filosofia da Comunicação na Universidade Cá Foscari de Veneza. Perissinotto é um dos maiores especialistas do pensamento e da obra de Wittgenstein.

A revista IHU On-Line é uma publicação semanal do Instituto Humanitas Unisinos – IHU e pode ser acessada nas seguintes versões:

 

 

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A edição impressa já está circulando no campus Unisinos São Leopoldo.

 

 

 

Confira mais edições da revista IHU On-Line.

 

Por Nahiene Alves

Reprodução capa IHU On-Line Ed. 394

Hoje, 30-01-2015, completa-se um ano da morte do padre jesuíta João Batista Libânio.

Sim, foi no ‘denso dia 30 de janeiro’ (Dudu) que Libânio partiu.

Com esta breve e singela nota, queremos celebrar a memória do Padre Libânio. Nós do IHU sempre o recordamos como aquele que nunca negou contribuir com entrevistas para o IHU. Ele sempre podia. Nunca, que nos lembremos, recusou uma entrevista. E sempre respondia com agilidade, precisão e liberdade de espírito.

E hoje, suplicamos, “que ele não se esqueça de nós ao contemplar a Sagrada Face. Para que sejamos dignos do tanto que recebemos” (Chico Pinheiro)

Eis a nota.

Com a tranquilidade e inteligência de quem, como ele mesmo definiu em entrevista à IHU On-Line, acolheu a vida como um dom, J.B. Libânio construiu uma trajetória teológica pessoal que se confunde à recepção do Concílio Vaticano II e da Teologia de Libertação no Brasil.

“A clareza e a serenidade não se medem pelo número de anos, mas pelo trabalho interior. A existência foi generosa comigo e permitiu-me que pudesse estar sempre à volta com análises, reflexões sobre a realidade social e eclesial”, disse em entrevista concedida ao Jornal de Opinião, em 2002, por ocasião da celebração de seus 70 anos.

Trajetória Acadêmica

Fonte: www.domtotal.com

Seus estudos de Teologia Sistemática foram concluídos na Hochschule Sankt Georgen, em Frankfurt, Alemanha, onde também estudou com os maiores nomes da Teologia europeia. Era mestre e doutor (1968) em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. O jesuíta era professor na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia e vigário da paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano.

Produção intelectual

Escreveu mais de 125 livros, dos quais 36 de autoria própria e os demais em colaboração com outros autores, alguns editados em outras línguas, entre eles A religião no início do milênio (2. ed. São Paulo: Loyola, 2011); Crer num mundo de muitas crenças e pouca libertação (2. ed. São Paulo – Valencia: Paulinas – Siquem, 2010); e Cenários da Igreja – Num mundo plural e fragmentado (2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009). Além disso, possui mais de 40 artigos publicados em periódicos especializados, e inúmeros artigos em jornais e revistas.

Enfim, como escreveu Chico Pinheiro, jornalista, “tivemos o privilégio de conviver com um Santo, com um Profeta que preparou para nós os caminhos do Senhor e nos mostrou suas veredas. Pudemos vê-lo com os nossos olhos, tocá-lo com nossas mãos, abraçá-lo e beijá-lo em nossas celebrações. Por isso damos testemunho do Amor e agradecemos a Deus”.

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