Arquivos da categoria ‘Teologia’

Foto: Somos Vicencianos

O Dei Verbum é um dos principais documentos do Concílio Vaticano II (1962 – 1965) e começou a ser constituído pelo Papa João XXIII (1958 – 1963). No entanto, por conta de alguns pontos polêmicos, o Papa decidiu suspender as discussões em torno do DV. O documento só voltou a ser discutido posteriormente e foi aprovado, em 1963 com o Papa Paulo VI.

O Dei Verbum é formado por seis capítulos e tem, como objetivo geral, ensinar sobre a Revelação Divina e sua transmissão através da Sagrada Escritura. O documento original, em tradução oficial feita pelo Vaticano, pode ser lido aqui.

Por consequência da importância do Dei Verbum, o Cadernos Teologia Pública, material produzido pelo Instituto Humanitas UnisinosIHU, têm como destaque na edição de número 102, o artigo A Constituição Dogmática Dei Verbum e o Concílio Vaticano II, escrito pelo Prof. Dr. Flávio Martinez de Oliveira.

O texto do professor Flávio Martinez tem como objetivo apresentar o Dei Verbum e descrever o processo que fez com que o documento fosse aceito pelos mais de 2 mil padres conciliares que participaram da votação do documento durante o Concílio Vaticano II. Segundo Martinez, o Dei Verbum é “o documento fonte do Concílio, a sua obra prima, o portal de ingresso”. E complementa: “DV é o documento mais expressivo de todo o Concílio”.

Cadernos Teologia Pública é uma publicação produzida pelo IHU em versão digital e imprensa, cujo objetivo é articular e refletir sobre a teologia na esfera pública da sociedade. A versão digital de A Constituição Dogmática Dei Verbum e o Concílio Vaticano II pode ser acessada aqui.

Sobre o autor

Flávio Martinez de Oliveira tem graduação em Medicina e Teologia pela Universidade Católica de Pelotas e trabalha, principalmente, com pesquisas acadêmicas relacionadas à Teologia Bíblica. É mestre em Saúde e Comportamento e mestre e doutor em Teologia. Atualmente, Martinez trabalha como professor da Universidade Católica de Pelotas e do Instituto de Teologia Paulo VI.

Por Matheus Freitas

Para ler mais

Há 500 anos, na cidade de Ávila (Espanha), nascia uma mulher à frente do seu tempo, Teresa Sánchez de Cepeda y Ahumada.

Dia 15 de outubro é o dia em que celebramos essa mulher mística, poeta, peregrina, doutora da Igreja.

Com 20 anos de idade fugiu de casa com o desejo de se dedicar à vida religiosa e por outros 25 viveu no Convento Carmelita de Encarnacíon, em Ávila. De lá saiu para reformar o Carmelo e criar a Ordem das Carmelitas Descalças, pois julgava que a aproximação com Deus só seria completa se pudesse encontrar um local tranquilo. Para Teresa, era necessário um espaço simples e com regras primitivas para a realização de uma plena experiência mística.

Vontade

Essa vontade de mudança, conforme observa Luciana Ignachiti Barbosa, em entrevista concedida à IHU On-Line, deu-se porque Teresa de Jesus “não suportava mais estar em lugar tão confortável; ansiava pela solidão, pelo recolhimento e pela vida simples com sacrifícios, para que melhor estivesse com Deus”, destaca. “Foi então que a ideia de fundar mosteiros em que a regra primitiva fosse observada calou mais fundo em seu coração. Cansada da superlotação do seu mosteiro da Encarnação e da falta de reclusão que havia ali, Teresa ansiava por poder realmente servir à regra de Santo Adalberto: amor, silêncio e pobreza”, complementa.

Carmelitas Descalças

A fundadora das Carmelitas Descalças desejava uma experiência de encontro com o Divino e acreditava que Deus era um caminho próximo e também humano. Seus escritos e suas profundas experiências místicas a colocaram como uma das mulheres mais importantes do catolicismo.

Santidade

Em 1970, Teresa de Ávila, foi proclamada Santa pelo Papa Paulo Vl, que também a consagrou como Doutora da Igreja e neste ato a definiu como: “uma mulher excepcional, como uma religiosa que, coberta inteiramente pelo véu da humildade, da penitência e da simplicidade, irradia à sua volta a chama da sua vitalidade humana e do seu dinamismo espiritual, e depois como a reformadora e fundadora de uma Ordem religiosa insigne e histórica, escritora genialíssima e fecunda, mestra de vida espiritual, incomparável na contemplação e infatigável na ação. Como é grande, como é única, como é humana e como é atraente esta figura!”

Escultura: Êxtase de Santa Teresa de Gian Lorenzo Bernini, localizada na Igreja de Santa Maria da Vitória, em Roma.

A transformação

Sua metáfora sobre o bicho da seda, que se transforma em borboleta, evidencia um chamado para a mudança que ocorrerá após a experiência com Deus. É caminhada de cada um em relação ao Divino, que “supõe um caminho de morte vida, ganhos e perdas, segundo a lógica do seguimento, trilhado com Cristo e em Cristo. É na vivência do amor que a pessoa integra todas as suas potencialidades. As crises e contradições podem converter-se em lugar de encontro. A pessoa, sabendo-se amada, responde amando. Sente-se convidada a “conhecê-Lo, amá-Lo, torná-Lo conhecido e amado”, conforme destaca Rita Romio, Irmã Teresiana, em artigo recente.

Ensinamentos

Suas obras são um chamado atual de exame de consciência, que levam a refletir sobre o contexto ao qual estamos inseridos, conforme destacou o professor Faustino Teixeira, em recente entrevista concedida à IHU On-Line: “Vivemos sob o domínio da produtividade, da busca desenfreada pelo sucesso, escravos das leis do mercado. Os grandes místicos, como Teresa, destacam a importância de outro ritmo para a vida, de cuidado com o mundo interior, de quietação dos sentidos, de atenção aos toques do silêncio. Na perspectiva de Teresa, o mergulho no mundo interior é fundamental, mas ele vem sempre acompanhado de uma sede de irradiação, de uma tensão operativa, visando sempre à virtude da caridade”.

Escritos

Sobre os escritos de Santa Teresa, Julia Kristeva – estudiosa que escreveu Thérèse mon amour. Sainte Thérèse d’Avila (Paris: Fayard, 2008) -, em entrevista publicada pelo jornal L’Osservatore Romano e reproduzida pelo sítio do IHU, enfatiza que “a escrita dessa mulher sem fronteiras nos oferece o seu corpo físico, erótico, bon vivant e anoréxico, histérico, epilético, que se faz verbo e se faz carne, que se faz e se desfaz em si fora de si, fluxos de imagens sem marcos, constantemente em busca do Outro e da palavra certa. Matriz aberta que palpita pelo amado sempre presente, sem nunca estar lá. Os êxtases de Teresa são, de repente e sem distinção, palavras, imagens e sensações físicas, espírito e carne, ou talvez, justamente, carne e espírito.”

Obras

Entre seus livros mais famosos estão o Livro da Vida (São Paulo: Penguin Classics – Companhia das Letras, 2010), Caminho da Perfeição (São Paulo: Paulus, 2014), Moradas e Fundações (São Paulo: Paulus, 2014), entre outros. Também é autora de poemas, dos quais restam 31 deles, e enorme correspondência, com 458 cartas autenticadas.

Teresa de Ávila morreu no dia 4 de outubro de 1582, com 67 anos. Foi sepultada em Alba de Tormes, onde também estão suas relíquias.

*Fontes das imagens: domvob.files.wordpress.com, c1.staticflickr.com e teresadejesus.carmelitas.pt,  respectivamente. 

Por Cristina Guerini

Para ler mais:

A Gaudium et Spes (GS), um dos últimos textos do Concílio Vaticano II, é conhecida por seu teor pastoral. Sua estrutura interna, que começa com um Proêmio (n. 1-2), ao qual se seguem a Introdução, “A condição humana do homem no mundo de hoje” (n. 4-11), e duas partes, a primeira, “A dignidade da pessoa humana” (n. 12-45), e a segunda, “Alguns problemas mais urgentes” (n. 46-93), mostra, porém, que o teor pastoral é o resultado de uma elaboração dogmática. Pode-se dizer que os quatro capítulos da primeira parte são um esforço por pensar o ser humano à luz da cristologia.

Embora a interpretação imediata da GS após o Concílio tenha sido a do diálogo da Igreja com o mundo contemporâneo, o texto é o resultado de um esforço por romper os esquemas subjacentes à teologia pré-conciliar, que opunham o natural ao sobrenatural, fazendo a revelação intervir num segundo momento, justapondo um plano ao outro. A GS procura pensar o humano à luz do cristológico, e seu esforço foi lido de modo diferente no debate que se seguiu ao Concílio, protagonizado, entre outros, por E. Schillebeeckx, H. de Lubac e G. Colombo.

Para além desse debate, os anos que se seguiram à publicação desse texto conciliar viram o surgimento de tratados de antropologia teológica, muitos dos quais se valendo da nova articulação feita pela GS. Esta comunicação pretende, após uma breve retomada dos grandes núcleos da articulação entre antropologia e cristologia feitos no texto da GS, retomar o teor das três “recepções” da articulação acima mencionada, para, num terceiro momento, apresentar os esquemas que parecem subjazer aos principais tratados de antropologia teológica elaborados após o Concílio.

Clique aqui para acessar o texto na íntegra:
http://www.ihu.unisinos.br/cadernos-ihu-teologia

Boa leitura!

CADERNOS TEOLOGIA PÚBLICA, em sua 98ª edição, publica o artigo O Concílio Vaticano II e o aggiornamento da Igreja – No centro da experiência: a liturgia, uma leitura contextual da Escritura e o diálogo, de Gilles Routhier, Université Laval, Canadá.

O artigo é a íntegra da conferência proferida pelo teólogo canadense quando da sua participação no Colóquio sobre os 50 anos do Concílio Vaticano II, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, em maio deste ano.

O Concílio Vaticano II é uma experiência de aggiornamento – termo utilizado por João XXIII – expressando a necessidade de um novo modo de ser ad intra e ad extra da experiência eclesial. A terminologia da reforma está presente no corpus do Vaticano II através de diversos termos: reforma, renovação, revigoramento, restauração e aggiornamento. Neste texto, o autor discorre sobre a experiência conciliar, com o objetivo de analisar como os padres conciliares acabaram por elaborar e propor reformas. Sendo a história a mestra da vida, postula que podemos tirar algumas lições do Concílio e que a análise do processo que levou os padres a imaginar a reforma de/na Igreja pode nos ensinar sobre a maneira de conduzir reformas nos dias de hoje. No centro dessa experiência conciliar, o autor retrata três práticas específicas: a ação litúrgica, uma leitura contextual da Escritura e a deliberação que assume a forma do diálogo.

Clique aqui para acessar o artigo

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Através de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora com Paulo Sérgio Talarico, artista plástico de Juiz de Fora.

A comoção divina

O Deus de que vos falo
Não é um Deus de afagos.
É mudo. Está só. E sabe
Da grandeza do homem
(Da vileza também)
E no tempo contempla
O ser que assim se fez.

É difícil ser Deus.
As coisas O comovem.
Mas não da comoção
Que vos é familiar:
Essa que vos inunda os olhos
Quando o canto da infância
Se refaz.

A comoção divina
Não tem nome.
O nascimento, a morte
O martírio do herói
Vossas crianças claras
Sob a laje,
Vossas mães
No vazio das horas.

E podereis amá-Lo
Se eu vos disser serena
Sem cuidados,
Que a comoção divina
Contemplando se faz?

(Fonte: Hilda Hilst. Exercícios. São Paulo: Globo, 2013, p. 51-52)

Hilda de Almeida Prado Hilst (1930 – 2004): Foi poeta, escritora e dramaturga brasileira.  Seu primeiro livro de poesias, “Presságio, foi publicado em 1950. Formou-se em direito e escreveu por quase cinquenta anos, tendo sido agraciada com os mais importantes prêmios literários do Brasil, entre eles, o Prêmio Jabuti de melhor conto, em 1993, pela obra Rútilo Nada.  Conhecida por sua forte personalidade, Hilda Hilst transportava seus leitores para uma análise filosófica acerca da busca, da morte, do amor e do horror. Ainda,  seus trabalhos foram traduzidos em vários idiomas.