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Após a conferência de Pietro Corsi, foi a vez de a professora Lilian Martins dar a sua contribuição no palco do Anfiteatro Pe. Werner da Unisinos, durante o segundo dia do IX Simpósio Internacional IHU Ecos de Darwin, quinta-feira, 10-09-2009.


“Evolucionistas pós-darwinianos no final do século XIX e início do século XX” foi o tema da professora da PUC-SP. Basicamente, Lilian centrou sua fala nas contribuições de Herbert Spencer, Alfred Wallace e August Weismann para o debate sobre a teoria da evolução das espécies.

Ela lembrou que Herbert Spencer cunhou a expressão “sobrevivência do mais apto” e defendia a teoria da descendência de Darwin e a luta pela existência. “Spencer fazia parte do círculo de Darwin e também defendia a teoria da herança de caracteres adquiridos pelo uso e desuso. Para ele, a seleção natural abrangia somente o mundo vegetal e os animais inferiores”, explicou.

Em seguida, Lilian Martins esboçou as ideias de Alfred Wallace, que defendia o princípio da divergência de caracteres para a formação de novas espécies. E frisava também a importância da variabilidade entre os indivíduos. No entanto, esclarece a professora, Wallace diferiu de Darwin em alguns aspectos em relação à seleção sexual e em relação à herança de caracteres adquiridos pelo uso e desuso. “Wallace defende que a seleção natural não explica a origem da natureza moral e das faculdades mentais do homem”, acrescenta Lilian, em mais um ponto em que Wallace não concordava com Darwin.

Ao citar as contribuições de August Weismann, Lilian lembra que ele é considerado o mais radical dos chamados neo-darwinistas. “Weismann procurava explicar tudo através da seleção natural. Ele exagerou nesse uso para explicar o processo evolutivo”.

E a professora finalizou sua fala afirmando que, apesar das divergências apontadas, podemos considerar que Spencer, Wallace e Weismann eram darwinistas.

Aqui no sítio do IHU você pode ler uma entrevista exclusiva concedida por ela à IHU On-Line. Acesse aqui.

A partir da cosmovisão de Alfred Russel Wallace, o Prof. Dr. Charles Smith, da Western Kentucky University, dos EUA, abordou na noite desta quinta-feira as noções de causas finais na evolução.

O pesquisador, geólogo, bilbiotecário e doutor em geografia, iniciou sua conferência, intitulada “Alfred Russel Wallace e a noção de causas finais em evolução”, analisando alguns traços da vida e do pensamento do biólogo inglês, pontos que o levariam, então, a refletir sobre a temática proposta.

Wallace viveu até os 90 anos de idade, tendo publicado cerca de quatro mil páginas durante toda a sua vida. “Ele não era rico como Darwin e precisava escrever para ganhar o seu pão”, afirmou Smith.

O estudioso norte-americano analisou em sua fala dois aspectos específicos da cosmovisão de Wallace: o seu modelo de seleção natural e a sua relação com o espiritismo.

Quanto a este último, Smith afirmou que Wallace não era religioso e não se interessava pela religião organizada. Mas com os espíritas, Wallace encontrou sintonia por acreditarem que o “mundo dos espíritos” faz parte do mundo natural, da natureza. E é exatamente assim que Wallace tratava o mundo, afirmou.

Com relação à seleção natural, o conferencista destacou que Wallace tinha ideias muito diferentes das de Darwin. “Para ele, a seleção natural era um processo e um resultado”, sintetizou. “Na compreensão de Wallace, a seleção natural age para manter as populações bem adaptadas, saudáveis. Mas não é uma garantia de mudança”, afirmou. Então, segundo Smith, a pergunta é saber como as populações mudam de forma ordenada, e não aleatória.

Para Wallace – afirmou Smith -, a seleção natural é uma das causas da evolução, uma causa central, mas não a única.

A partir disso, Smith abordou três temáticas que envolvem sua preocupação com as características de grande escala e de longo prazo no meio ambiente, de um lugar para se compreender as causas finais da evolução. Nesse sentido, ele comentou os ciclos de níveis populacionais da lebre americana (Lepus americanus), o desaparecimento dos dinossauros e a noção de espaço como um conceito limitado, a partir da filosofia de Spinoza.

Smith ainda embasou grande parte de sua conferência em material organizado no site produzido por ele mesmo, intitulado “The Alfred Russel Wallace Page” (http://www.wku.edu/~smithch/) com uma grande quantidade de materiais de autoria do próprio Wallace e também artigos que analisam a obra do autor. Grande parte das atuais pesquisas de Smith sobre a noção de espaço a partir dos conceitos de sistema (ou atributo) e subsistema de Spinoza também podem ser vistas no site, disponível em inglês.

O IX Simpósio Internacional IHU: Ecos de Darwin continua nesta sexta-feira, com uma ampla programação. Confira aqui a agenda desta sexta-feira. E continue acessando o site e demais veículos do IHU para se manter informado sobre o que ocorre ao longo do Simpósio, que encerra no próximo sábado, dia 12.

(por Moisés Sbardelotto)

Uma narrativa de Deus a partir da cosmologia contemporânea é o tema que o Prof. Dr. François Euvé, do Centre Sèvres, das Facultés Jésuites de Paris, abordará em sua conferência de 15 de setembro no X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades. Esse e inúmeros outros assuntos pautaram a entrevista exclusiva que o físico e teólogo jesuíta concedeu, pessoalmente, à IHU On-Line. O diálogo entre fé e ciência, a interdisciplinaridade como fundamento para a solidificação desse contato, e a importância de conceitos de Teilhard de Chardin, como o Cristo cósmico, foram outros tópicos discutidos. Em inglês, mas com um belo sotaque de seu país natal, Euvé traçou um panorama da Teologia na Europa e explicou, ainda, os motivos que o levaram da Física à Teologia e o seu ingresso na Companhia de Jesus. Pela primeira vez no Brasil, ele diz admirar nossa literatura, e no momento está conhecendo melhor Jorge Amado. Euvé está acompanhando de perto a programação do IX Simpósio Internacional IHU: Ecos de Darwin, por quem revela profundo interesse.

Outra entrevista realizada nesta chuvosa tarde de quinta-feira foi com o cientista norte-americano Charles Smith, que recebeu a IHU On-Line no hall do Hotel Suarez, onde está hospedado. Momentos antes de se dirigir ao campus da Unisinos e proferir sua palestra Alfred Russel Wallace e a noção de causas finais em evolução, parte integrante da programação do IX Simpósio Internacional IHU: Ecos de Darwin, Smith, que leciona na Western Kentuky University, falou sobre sua trajetória acadêmica, explicando porque resolveu migrar da geologia para a geografia. Analisou, ainda, a situação da pesquisa sobre Wallace tanto nos EUA, quanto em outros países, concluindo que mesmo com a grande massa de obras a respeito do legado desse cientista, ele não tem, ainda, o devido reconhecimento. Disse, também, apreciar a música brasileira e iguarias típicas de nosso país, como o café e o suco de laranja.

Ambas as entrevistas que fizemos pessoalmente com Euvè e Smith serão publicadas na edição 209 da IHU On-Line, de 21 de setembro. Além da inegável contribuição intelectual que cada um dos pesquisadores traz em seus campos de estudo, eles revelam, também, aspectos de sua vida, origens e interesses. Confira!

Postado por Márcia Junges

Na manhã do segundo dia do IX Simpósio Internacional IHU Ecos de Darwin, quinta-feira, dia 10-09-2009, o historiador Pietro Corsi, da Oxford University, da Inglaterra, falou sobre o tema “Histórias não contadas: a questão das espécies antes de Darwin”.

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Corsi abriu a conferência falando sobre a importância do Brasil para Darwin, que teria ficado muito impressionado com a situação da escravidão aqui. Depois, provocou os presentes ao defender que a história da teoria da evolução ainda está em seu início e em permanente construção. “A ciência não é produto de duas ou três pessoas importantes do passado. Ela é algo complexo. Por que quando vamos ao passado tendemos a achar que tudo era tão simples?”, pergunta ele, já adiantando o foco de sua abordagem, que é o reconhecimento de uma série de pessoas que foram precursoras do conceito formulado por Charles Darwin. Nesse sentido, o historiador alertou que é preciso sermos cuidadosos com nossos juízos e que é fundamental ler o passado com mais atenção. “Sabemos muito pouco sobre o que estava acontecendo na Europa antes de Darwin. Ele é o fim de um processo que, por sua vez, iniciou outro. Mas não podemos ignorar o que houve antes”, defendeu.

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Em seguida, Corsi apresentou ao público o esboço histórico que Darwin trouxe na terceira edição de sua obra A Origem das Espécies com uma lista de nomes antes e depois dele que defenderam ideias influentes relacionadas à teoria da evolução.

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Professor catedrático de História de Ciências na Universidade de Oxford, Pietro Corsi é um dos maiores especialistas mundiais da história da Ciência e Tecnologia do século XVIII, e particularmente do período pré-Darwin. Tem dedicado anos de seus estudos à Jean-Baptiste Lamarck, que considera o “profeta da evolução”. Por essa razão, em sua exposição de quinta-feira de manhã, Corsi falou sobre a briga entre Georges Cuvier e Lamarck, que morreu cego, velho e pobre, tornando-se, por isso, um herói na Europa em função do debate político e midiático contra Cuvier. No entanto, apesar de estudar Lamarck, Corsi se declara darwinista.

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O conferencista lembrou igualmente a importância de Julien-Joseph Virey, que reconhecia a evolução das espécies como um fato, mas sempre determinado pela força de Deus. Aqui, Corsi enfatizou que Deus cria sempre as leis, sem abrir exceções.  

Entre dezenas de trabalhos acadêmicos, Pietro Corsi foi também inovador na utilização da internet como ferramenta de difusão dos documentos e legados históricos, tendo sido o autor e responsável científico pelos sites oficiais de biólogos eminentes desta época, como Buffon (http://www.buffon.cnrs.fr/) e Lamarck (http://www.lamarck.cnrs.fr/). A importância da internet e seu potencial foram o tema inclusive de uma das perguntas feitas a Corsi no debate posterior à sua fala.

Continue acessando aqui no sítio do IHU mais informações sobre a cobertura do IX Simpósio Internacional IHU Ecos de Darwin, que encerra no próximo sábado, dia 12-09-2009.

manierEdward Manier não pôde vir ao IX Simpósio Internacional IHU: Ecos de Darwin. Mas não deixou de proferir a sua palestra. Manier ficou doente e isso o impediu de viajar até a Unisinos, em São Leopoldo/RS, onde acontece o evento, mas gravou sua palestra desde o campus da Universidade de Notre Dame, nos EUA, onde é professor. De lá, ele conta parte da história da instituição e sua ligação com pesquisas científicas.

Segundo ele, Darwin afirmava que “quem entende o babuíno faria mais pela metafísica do que Locke”. E assim, Manier apresentou suas pesquisas em torno das teorias de Darwin, suas críticas, os erros nos estudos e, também, falou da grande contribuição de do britânico para a história.

Para Manier, a teoria de Darwin a respeito da linguagem torna obscura a públicodistinção entre os usos técnicos e figurativos da linguagem. Desta forma, ele separou as metáforas na obra de Darwin em quatro. São elas: economia de ilha (a mais importante, disse Manier), seleção, luta e acaso.

Quando Darwin fala de luta e seleção natural, disse Manier, fala sobre as várias forças que influenciam a reprodução. Ele exemplifica essa afirmação dizendo que a competição entre espécies é intraespecífica.

Manier disse também que o símbolo ideológico de Darwin é altamente carregado do ateísmo e da anarquia, pois teve uma forte relação com o materialismo médico. Suas opções filosóficas eram referentes à matéria. Até por isso, diz o professor estadunidense, a atividade mental, isto é, o pensamento, para Darwin é uma função de órgãos físicos. Assim, Darwin achava que colocar os seres humanos separados dos animais era o resultado da nossa arrogância.

Ao concluir sua palestra, Manier afirma que as concepções de Darwin a respeito da linguagem científica o levaram a rejeitar o essencialismo, que era crucial para os fundamentos filosóficos de seus críticos da teologia natural. “Seus críticos pensavam que a essência humana era marcada por um conjunto de características imutavelmente necessárias e suficientes”, contou. No entanto, para Manier, “o materialismo médico de Darwin nunca foi elevado a um nível metafísico”.

Darwin jamais desenvolveu uma metafísica explícita ou uma teoria do ser em geral, é o que conclui Manier em sua exposição.